Ao santificar o sábado e entrar no tempo humano Deus demonstra a Sua disposição em entrar na própria carne humana. Assim, o sábado é uma prefiguração da encarnação, um símbolo e anúncio da própria encarnação.
Na História da Salvação nós temos continuidade, não interrupções. As instituições estabelecidas na Criação, tal como o sábado, o trabalho, o repouso, o matrimónio, são instituições que na verdade prosseguem ao longo da História da Salvação. Contudo, há diferentes momentos na História da Salvação em que essas instituições adquirem novo significado. No relatório do Génesis o sábado obtém um significado cosmológico, proclama ao mundo que Deus é o perfeito Criador e que ficou perfeitamente satisfeito com a Criação que havia realizado. Assim, em Génesis o sábado transmite essa mensagem da perfeição divina no que concerne à Criação.
Mas se seguirmos de Génesis para Êxodo, aprendemos que Deus não só criou o mundo, mas as pessoas. E formou um novo povo, Israel, ao qual concedeu o sábado para simbolizar o desejo do Criador em restaurar o interrompido relacionamento que o pecado produziu, separando o Criador de Suas criaturas. Assim, em Êxodo encontramos o sábado associado com a Redenção.
Os Dez Mandamentos se iniciam dizendo — "Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou da terra do Egipto." Ele é o Libertador, e para que fosse mantida a lembrança desse Libertador, Deus ordenou: "Lembra-te de santificar o dia de sábado." Lembra-te por livrar o teu servo, tua serva, teu filho, tua filha, dando-lhes liberdade e, em certo sentido, redenção a todos os israelitas de modo a que o próprio Deus fosse lembrado como o Libertador. E essa mensagem é particularmente expressa em Deuteronómio 5:15 onde o motivo dado para a guarda do sábado não é a Criação, mas a Redenção. Nesse sentido é que a passagem declara: "Lembra-te de que foste servo na terra do Egipto, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia do sábado."
Sendo, pois, que o sábado não é apenas símbolo da Criação, mas também da Redenção, tendo carácter cósmico, universal, a sua obrigatoriedade é também universal.
Há dois factores principais para a transição do sábado para o domingo. Por um lado temos o anti judaísmo, ou seja, a necessidade que surgiu [entre os cristãos dos primeiros séculos] de separarem-se, diferenciarem-se dos judeus. Foi este realmente um factor preponderante que induziu muitos cristãos a abandonarem todas as festividades associadas com os judeus.
Teve lugar na primeira parte do século II, particularmente na regência do Imperador Adriano. Ele reinou de 117a 138 e foi quem proibiu categoricamente a observância do sábado e a prática do judaísmo. Isto aconteceu porque os judeus estavam constantemente a revoltar-se contra o domínio dos romanos sobre sua terra.
Quando os romanos se viram ante a persistente luta de independência da parte dos judeus, sentiram a necessidade de impor uma legislação muito restritiva e repressiva e uma das consequências foi a proibição rigorosa da observância de festividades judaicas como a Páscoa e o Sábado.
Em consequência dessas medidas restritivas contra os judeus, os cristãos de Roma julgaram necessário demonstrar perante as autoridades a separação e diferenciação dos cristãos em relação aos judeus pela mudança das festividades judaicas a dias diferentes. Por exemplo, a Páscoa judaica, que até aquele tempo era celebrada pêlos cristãos em geral no dia 14 de Nisã (uma data fixa que podia ocorrer em qualquer dia da semana) foi transferida para o domingo. Semelhantemente, o repouso foi transferido do sábado do sétimo dia para o primeiro dia da semana.
Na verdade, o abandono do sábado foi motivado primariamente pela necessidade sentida pelos cristãos de se separarem dos judeus a fim de evitar as medidas repressivas e as penalidades impostas sobre a comunidade judaica.
Mas, pode surgir a pergunta — porque foi escolhido o domingo, quando outro dia qualquer poderia cumprir a mesma finalidade? Sexta-feira, por exemplo, poderia muito bem comemorar a Paixão de