09/09/12

Como Compreender Lucas 16:16, "A lei e os profetas duraram até João"?

Lucas 16:16 assim descreve que “A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele”. É necessário entender 3 questões importantes a este respeito, sendo:

1º A lei que durou até João não são os dez mandamentos, mas as leis cerimoniais do santuário que envolvia festas solenes, luas novas e sábados festivos que aconteciam anualmente, mensalmente e semanalmente, que apontavam para a vinda do Messias (Ef 2:15; Cl 2:14-16 – Lc 23). Todas estas leis eram mensagens em forma de simbolismos que representavam e anunciavam a vinda do verdadeiro cordeiro que tiraria o pecado do mundo (Jo 1:29). Além do mais, Jesus está fazendo uma referência a toda a escritura do Antigo Testamento que apresentava a verdade messiânica através de ritos, símbolos e mensagens proferidas pelos profetas (Jo 1:45).

2º Os profetas, juntamente com estas leis, também duraram até João - Bom, assim como as leis, Jesus está descrevendo as mensagens proferidas por estes profetas que prediziam a vinda do Messias. Todos os profetas que profetizaram a respeito da vinda do Messias seriam até João Batista que foi o último profeta que pré-anunciou e preparou o caminho de Jesus.

3º A palavra "duraram" não condiz com a realidade textual do verso. Tanto é verdade que o verso seguinte (17) afirma de forma incisiva que "é mais fácil passar o céu e a terra, que cair um til sequer da lei". Não há contradição, pois o verso 16 apenas descreve que, o que durou ou vigorou até João Batista foram as predições a respeito do Messias que estavam inseridos nas leis ritualísticas e nas mensagens dos profetas. Depois de João Batista nenhum profeta mais anunciaria a primeira vinda de Cristo porque o Cristo predito já estava entre os homens conforme a lei e os profetas predisseram.

De forma objetiva, a lei e os profetas, ou seja, Antigo Testamento, com suas mensagens que clarificaram a promessa de Deus de enviar o Messias, anunciaram sobre esta promessa até João Batista. Qualquer bom comentário bíblico adventista ou não adventista entra em pleno consenso a este respeito. O próprio João Batista foi contundente em apresentar este fato ao afirmar, "arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus" (Mt 3:2), ou seja, ele era o último profeta que desempenharia o papel de proclamador da vinda do Messias.

Observações para refletir:

1º Se a lei durou até João, porque muitos evangélicos, embora não guardem o sábado, respeitam e observam os demais 9 mandamentos?
2º Se os profetas duraram até João, como explicar as revelações do livro do apocalipse que foi escrito depois de João Batista, por volta do ano 90 d.C.?
3º Se não existem mais profetas, por terem durado até João, porque os evangélicos contemporâneos insistem na ideia de suposta revelação, papel exclusivo de profetas?
4º Se a lei terminou até João, por que Jesus disse que quem O ama guardaria seus mandamentos? (Jo 14:15, 21)
5º Se a lei terminou em João, porque Paulo citou alguns dos mandamentos de Êxodo 20 como representação clara de amor ao próximo?
6º Se a lei terminou em João, como entender as mulheres e sua mãe na carne que conheciam muito bem os ensinamentos de Jesus, por terem convivido com ele por anos e anos, e mesmo assim guardaram o sábado segundo o mandamento? (Lc 23:53-56).
7º Se a lei terminou em João, como entender os evangélicos que ensinam com insistência que o sábado foi mudado para o domingo, sugerindo a permanência da lei de um dia santo semanal?
8º Se a lei terminou em João, como entender 1º João 3:4 que diz categoricamente que pecado é a transgressão da lei? Se não existe lei, logo não existe pecado.
9º Se a lei terminou em João Batista, como entender João, o profeta, afirmar que quando recebeu as primeiras revelações deste livro era o dia do Senhor, ou seja, o dia sagrado do mandamento? (Ap 1:10)
10º Se os profetas duraram até João, como entender que nos últimos dias haveria o dom da profecia? (At 2:17 e 18).
11º Se a lei terminou em João, como entender.... etc, etc, etc, etc,

Parece que o problema não está com a lei, mas com as pessoas que interpretam equivocadamente o papel da lei. O que é importante não é a letra da lei em si, mas os princípios que estão por detrás dela. Por este motivo é que também é chamado de lei do amor (Rm 13:10; Jo 14:15), ou lei espiritual (Rm 7:14).

O tal resumo da lei que alguns evangélicos sugerem relaciona-se com Mateus 22:34-40. No entanto, distorcem afirmando que não há mais leis e que todas as leis agora são apenas duas, amar o próximo e a Deus. Na verdade, Jesus, nestes versos, não efetuou um novo resumo da lei, mas, citando um resumo que Moisés já tinha feito no Antigo Testamento. Observe Deuteronómio 6:5 “Amar a Deus acima de todas as coisas”, e Levítico 19:18 “amar ao próximo como a ti mesmo”. Como visto, este resumo já era bem antigo e Jesus apenas fez referência a uma citação já existente desde os tempos antigos. O fato revelado aqui é que toda a lei, ou todos os mandamentos, devem ter como base a essência do amor (Rm 13:10), por se tratar de relacionamento e obediência a Deus e relacionamento com o próximo.

O grande problema é que alguns entendem que a lei de Deus foi dada para salvar e isto é um erro grotesco. Salvação é um dom que advém somente pelo sacrifício de Cristo, Sua graça eterna (Ef 2:8). A lei não foi dada para salvar, mas para nos proteger colocando-nos distante dos limites do pecado, pois, segundo as Escrituras, o pecado é a transgressão da lei (1 Jo 3:4). Por este motivo é que Paulo afirmou que se não há lei, também não há pecado, ironizando a questão (Rm 4:15).

Bom, mas a lei de Deus é como uma lei de trânsito, lei do casamento, lei da saúde, lei da gravidade, lei da química, lei da física, que favorecem a segurança e manutenção da vida, e no caso da lei de Deus, ela existe para nos conduzir os passos nos aspectos morais. Aquele que seguir sua guia, além de demonstrar claramente submissão a Deus em atos, também será beneficiado por viver longe dos limites do pecado e consequentemente longe das consequências.

Como ressaltado, o grande problema é a maneira equivocada como ensinam a lei. Ela deve ser obedecida, mas por amor e submissão a Deus, por termos sido salvos, e não para sermos salvos. Por este motivo é que Paulo afirmou em 1 Timóteo 1:8 que “Sabemos porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo”. Se a utilizarmos de forma legítima, ou correta, com certeza ela será prazerosa (Rm 7:22; Sl 1:2; 119:174), restaurará completamente a alma e dará sabedoria (Sl 19:7; 23:3), além de ser santa, justa e boa (Rm 7:12), serão bem-aventurados os que andam nela (Sl 119:1).

E por último, há uma regra valiosa para testarmos os pregadores de nosso tempo que falam em nome de Jesus, descrita por João, afirmando que, “Aquele que diz que o conhece, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso e nele não está a verdade” (1 Jo 3:4). Qualquer um que pretenda transgredir a lei de Deus e ensinar os outros a se distanciarem desta verdade deve ser considerado um legítimo mentiroso.
Vale lembra também que o Salmista já dizia que os mandamentos de Deus duraria para sempre (Sl 11:7-8) e que jamais faria mudança alguma em Sua palavra (Sl 89:34; Ml 3:6; Tg 1:17; Mt 5:17; Lc 16:17), e que Satanás, o dragão, teria uma ira especial contra os que guardassem os mandamentos de Deus (Ap 12:17).

Bom, há muitas outras evidências que confirmam esta verdade, mas creio ser suficiente... Por demais, Deus lhe abençoe...

Ass. Gilberto Theiss