Como Deus podia expressar simultaneamente a Sua justiça no juízo e o Seu amor no perdão? A solução foi esta: providenciando um substituto para o pecador, de modo que o substituto recebesse o juízo, e o pecador, o perdão. É claro que nós, pecadores, ainda estamos sofrendo algumas das conseqüências dos nossos pecados, mas a conseqüência penal, a penalidade merecida pela rebelião contra Deus, essa foi levada por Outro em nosso lugar, e pela providência divina acabamos não precisando suportá-la.
A questão vital então é a seguinte: quem foi o nosso substituto? Quem tomou o nosso lugar, levou o nosso pecado, sofreu a nossa penalidade, morreu a nossa morte? É certo que a Escritura ensina: “Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rom. 5:8). Conquanto correta, essa é uma resposta superficial.
Exatamente quem foi Jesus Cristo? Se Ele foi apenas um homem, como poderia um ser humano substituir a outros seres humanos? Se Ele foi apenas Deus, com a aparência de homem, como poderia representar a humanidade? E nessa hipótese, sendo apenas Deus, como poderia ter morrido?
Embora a Bíblia afirme claramente a divindade da Pessoa que se entregou por nós, não chega de modo algum à conclusão de “Deus ter morrido”. Primeiro, porque, referindo-se a Deus, diz ela incisivamente ser Ele “o único que possui imortalidade” (I Tim. 6:16) e, portanto não pode morrer. De modo que Ele se tornou homem, a fim de poder fazê-lo.
Deus em Cristo
Deus por meio de Cristo e Deus em Cristo – II Cor. 5:18-19
Nosso substituto, que tomou o nosso lugar e morreu a nossa morte na cruz, não foi Cristo somente, nem Deus somente, mas Deus em Cristo. Dessa forma, sendo completamente Deus e completamente homem, Jesus Cristo foi qualificado para representar tanto a Deus quanto ao homem e servir de intercessor entre ambos.
Não foi à toa que Jesus recebeu o nome de Emanuel, que quer dizer “Deus conosco”, pois no Seu nascimento e por meio dEle o próprio Deus tinha vindo resgatar o seu povo, e salvá-lo de seus pecados (Mat. 1:21-23).
Essa convicção de que o Pai e o Filho não podem ser separados, em virtude de que o Pai estava agindo por meio do Filho, fica clara na expressão de que Deus “nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo” e “estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (II Cor. 5:18-19). Portanto, Deus (o Pai) e Cristo (o Filho) agiram juntos na obra da reconciliação. Foi em Cristo e através dEle que Deus estava efetuando a reconciliação.
Cristo só foi capaz de fazer o que fez porque era quem era, já que a “plenitude” de Deus habitava nEle e operava através dEle (Col. 1:19-20; 2:9). Não é exagero dizer que o cravo pregado na mão de Jesus atravessou até a mão de Deus.
O que vimos, portanto, no drama da cruz foi Deus feito homem em Cristo (o Filho). Daí a importância das passagens do Novo Testamento que falam da morte de Cristo como a morte do Filho de Deus; por exemplo: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito” (João 3:16), “Aquele que não poupou a seu próprio Filho” (Rom. 8:32), e “fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho” (Rom. 5:10).
Nem Cristo somente como homem nem o Pai somente como Deus podia ser nosso substituto. Somente Deus em Cristo, o unigênito Filho do próprio Deus Pai feito homem, podia tomar o nosso lugar. Jesus Cristo, nosso substituto, é “o próprio Deus, o próprio homem, e o próprio Deus-homem”. Se Jesus não é quem os apóstolos dizem que é, então não podia ter feito o que dizem que fez.
Deus em Cristo tomou o nosso lugar. Não havia outro meio pelo qual o amor de Deus pudesse ser satisfeito e os seres humanos rebeldes pudessem ser salvos. Em vez de nos aplicar o juízo que merecíamos, Deus em Cristo suportou a penalidade da nossa desobediência em nosso lugar.
Somente o evangelho ensina a substituição divina como o único meio de salvação. Outras religiões ensinam diferentes formas de salvação. As outras religiões, sem contar a filosofia, tentam resolver o problema da culpa sem a intervenção de Deus, e chegam a uma conclusão “barata”. O homem é sempre poupado da humilhação de ter de reconhecer que Deus assumiu o castigo em seu lugar. A tal ensinamento, como único meio de obter a vida eterna, muitos não pretendem submeter-se por uma única explicação: o orgulho.
Um Corpo me Formaste
Um corpo foi preparado para Jesus – Heb. 10:5
“Nestas palavras anuncia-se o cumprimento do desígnio que estivera oculto desde tempos eternos. Cristo estava prestes a visitar nosso mundo, e a encarnar. Diz Ele: “Corpo Me preparaste.” Houvesse aparecido com a glória que possuía com o Pai antes que o mundo existisse, e não teríamos podido resistir à luz de Sua presença. Para que a pudéssemos contemplar e não ser destruídos, a manifestação de Sua glória foi velada. Sua divindade ocultou-se na humanidade – a glória invisível na visível forma humana”. – Ellen White, O Desejado de Todas as Nações.
O plano da nossa salvação não foi formulado depois do surgimento do pecado. Já existia desde a fundação do mundo. Na verdade, foi apenas a revelação “do mistério que desde tempos eternos esteve oculto”. Rom. 16:25.
Deus não determinou a existência do pecado, mas previu o seu surgimento com muita antecedência. E por um incompreensível amor pelo mundo, decidiu entregar Seu Filho unigênito “para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. João 3:16.
Cristo assumiu a natureza humana para nos salvar do pecado. Ele Se tornou plenamente humano e continuou sendo plenamente divino em Sua essência. Ergueu-Se como nosso representante para nos redimir, restaurar e nos dar poder para vencer Satanás e o pecado no grande conflito entre o bem e o mal.
Como segundo Adão, Jesus obteve a vitória onde nossos primeiros pais falharam e onde todos falharam desde então. Possibilitou nos tornarmos vitoriosos sobre o pecado pela fé em Seu sangue. Se O recebermos com a simplicidade e humildade de uma criança, seremos salvos (Mat. 11:25; 18:1-3).
Ele viveu sem pecado na Terra e deu Sua vida para adquirir a nossa salvação. Embora não possamos entender completamente este mistério da graça de Deus, somos convidados a aceitá-lo pela fé e reivindicar pessoalmente a salvação que Ele oferece.
Teria sido humilhante para Jesus revestir-Se da natureza humana mesmo enquanto Adão permanecia sem pecado. Mas Jesus aceitou a forma humana quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado. Como qualquer filho de Adão, Ele aceitou os resultados da operação da lei da hereditariedade.
Até mesmo para facilitar uma melhor e mais profunda compreensão do que Jesus Cristo fez por nós, é que precisamos entender quem Ele é, de onde veio e o que era antes de entrar neste mundo pelo ventre de Maria, Sua mãe terrestre.
A Pré-Existência Eterna de Jesus
Ele estava com Deus e era Deus – João 1:1-3
A divindade de Cristo é um tema presente em toda a Bíblia. Jesus veio do Pai (João 16:28), era Um com o Pai (João 10:30) e existe eternamente com o Pai (João 1:2). Nunca houve tempo em que Jesus não existisse; caso contrário, Ele seria um ser criado, e a Bíblia não ensina isso. É simples. Jesus Cristo sempre existiu, e sempre existirá. Sua existência é sem fim – não teve início nem terminará – é eterna.
Para a mente moderna, a idéia da preexistência de Cristo e Sua encarnação é muito forçada para ser levada a sério. É uma lenda que pertence a uma época pré-científica, pré-racional. Para um mundo criado no método científico, onde só se considera verdade o que pode ser entendido em laboratório ou pela investigação científica, a encarnação de Jesus simplesmente não é algo que pessoas “racionais” podem aceitar, porque existe fora das ferramentas científicas e modernas de investigação e exame. Seria bom se toda verdade só existisse dentro desses parâmetros; mas como não é assim, esses métodos nunca nos trarão à verdade que realmente precisamos conhecer. Ao contrário, aprendemos essas verdades, porque elas nos foram ditas.
Um verdadeiro conhecimento de Jesus só é possível pela revelação. A Bíblia nos diz com todas as letras: Ele era verdadeiramente Deus, no sentido de que tinha as características essenciais de Deus; e então Ele Se humilhou e assumiu as características essenciais de um ser humano, um servo, e também Se tornou completamente humano. Ele era tão verdadeiramente Deus quanto era verdadeiramente homem. Impossível explicar racionalmente as duas naturezas de Jesus: a do homem mortal e a da divindade imortal.
Esta idéia de Deus assumir a forma humana oferece mais razões para se meditar do que todos os demais livros do mundo. Ela nos dá a inegável prova de que Jesus Se importou conosco a ponto de deixar o Seu lugar no Céu e vir aqui “calçar os nossos sapatos”. Como Jesus Se tornou homem, eu não sei. Mas agradeço a cada dia o motivo pelo qual Ele fez isso.
Deus Se Fez Carne e Habitou Entre Nós
Deus Se fez carne e habitou entre nós – João 1:14
Se alguma vez você se mudou de uma casa para outra, sabe como é acomodar-se em um novo ambiente. Jesus deixou o Céu e “habitou entre nós”.
O dia 6 de setembro de 1997 viu Londres parar. Milhões de pessoas de luto se reuniram para testemunhar o funeral de Diana, princesa de Gales. Cerca de 16 anos antes, o mundo também havia parado para vê-la se casar com o príncipe Charles, herdeiro do trono da Grã-Bretanha. Em seu tempo como membro da família real britânica, Diana veio a representar o conto de fadas que sonha toda moça.
Mas, se o esplendor da realeza britânica nos impressiona, nossa mente não pode nem começar a conceber a imagem, antes da criação do mundo, em que o Pai celestial planejou com o Filho como a humanidade poderia ser salva, mesmo antes da queda. Da majestade do Céu a verdadeira realeza deste mundo fez um plano para salvar a cada um de nós. Mas o plano de Deus não era revelar-Se através da glória e poder da realeza. Ele tinha um projeto diferente.
Os filmes de Hollywood retratam regularmente a história clássica da trajetória da miséria para a riqueza: o menino pobre cresce e se torna homem próspero; o patinho feio se transforma num cisne; Cinderela se casa com seu príncipe. Mas a história de Cristo renunciando ao Céu para vir aqui é o reverso. Jesus deixou a magnificência do Céu para “andar com nossos sapatos”, morrer em nosso lugar e pagar o preço supremo pelo resgate de cada um de nós.
Ao contemplar a encarnação de Cristo em humanidade, ficamos perplexos diante de um mistério insondável, que a mente humana não pode compreender.
Completamente Deus e Completamente Homem
Em forma de Deus e em forma de homem – Fil. 2:5-8
Lúcifer dissera: “Subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono. … Serei semelhante ao Altíssimo.” Isa. 14:13 e 14. Mas Cristo, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens”.
Foi um sacrifício voluntário. Jesus poderia ter permanecido ao lado de Seu Pai. Mas preferiu descer do trono do Universo, a fim de trazer luz e vida à humanidade decaída. E não foi pouco que Deus desceu.
Olhe para a cruz. Quem é que está sobre ela? Quem está morrendo lá como um criminoso? É um Homem bom que simplesmente entrou em choque com os mesquinhos políticos de Seu tempo? Ou estamos vendo Alguém mais?
Deus desceu um degrau, e outro, e outro. Esvaziou-Se de Seu poder. Que degrau Ele desceu! Mas Ele desceu mais ainda. Tornou-Se um mero ser humano. O rei Se esvaziou. De Deus passou a ser humano, e depois a servo. Para baixo, para baixo, e para baixo!
Mas não acabou ainda. Ele permitiu que O matassem. Esta não é uma confusão política! Isto é sacrifício! Mas observe: Ele desceu ainda mais. Esta morte é a que estava reservada para os mais vis criminosos. Para baixo, para baixo e para baixo! Ele mergulhou no mais profundo da miséria humana.
Olhe para a cruz. Sobre ela, o Criador do Universo Se contorce na agonia do mais vil e culpado escravo do pecado. Lá está Ele, no fundo do poço da rebelião humana! Do lugar mais elevado ao mais baixo. Para baixo, para baixo e para baixo!
“Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia”. – Ellen White, O Desejado de Todas as Nações.
Completamente Homem, Mas Sem Pecado
Sem pecado – Heb. 4:15
Mesmo afirmando Sua humanidade, a Bíblia também deixa claro que Jesus nunca pecou. Por toda a Sua existência em forma humana, Jesus jamais confundiu o certo e o errado, a verdade e o erro. A Epístola aos Hebreus declara que Jesus “foi… tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Heb. 4:15). Pedro, que conheceu bem a Jesus, testemunhou que Ele “não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em Sua boca” (I Ped. 2:22). João escreveu que “nEle não existe pecado” (I João 3:5), e Paulo disse que Cristo “não conheceu pecado” (II Cor. 5:21). Enquanto isso, as próprias palavras de Cristo nos versos seguintes (João 8:29 e 46; 15:10) revelam o fato de que, embora humano, Ele nunca pecou.
A Divindade de Cristo
Jesus é expressa imagem de Deus – Heb. 1:1-3
O Deus que existia antes de assumir a humanidade continuou sendo o mesmo Deus, apesar de estar revestido da humanidade, um conceito que realmente é difícil de se entender.
Embora não possamos entender completamente este mistério da graça de Deus, somos convidados a aceitá-lo pela fé e reivindicar pessoalmente a salvação que Ele oferece.
Cristo não trocou Sua divindade pela humanidade, mas revestiu a divindade com a humanidade. Embora a Sua glória divina tenha se ocultado por um tempo, ao assumir a humanidade, Ele não deixou de ser plenamente Deus quando Se tornou homem. O humano não tomou o lugar do divino, nem o divino ocupou o lugar do humano. Em Cristo, as duas naturezas – humana e divina – eram íntima e inseparavelmente uma só, e ainda tinham uma individualidade distinta. Esse é o grande mistério. A fé nos habilita a aceitar o que não podemos compreender.
Felizmente, para nos beneficiarmos do que Cristo fez por nós, não precisamos conhecer todas as complexidades a respeito da Sua natureza. Deus revelou o suficiente para sermos salvos.
Os computadores fazem coisas surpreendentes. Se você entender como funcionam, eles podem tornar o seu trabalho muito mais fácil. Caso contrário, você pode ter a tendência de ignorar ou diminuir a sua utilidade. Por não compreender completamente um Deus disposto a viver entre os seres humanos, nosso mundo desvaloriza Sua relevância para a vida, tanto quanto a nossa total dependência dEle para alcançar a eternidade.
A Terra, aqui onde o Filho de Deus habitou na humanidade; onde Ele viveu, sofreu e morreu, aqui, quando Ele houver feito novas todas as coisas, será o tabernáculo de Deus com os homens, “com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus”. Apoc. 21:4.
Texto de autoria do Dr. Mauro Braga, IASD Brooklin.
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