Diz o texto: Colossenses 2:16: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida ou bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados”.
1a. - Porque o apóstolo Paulo não iria contradizer em nada a lei divina que reconhecia como válida e vigente ao exaltá-la como santa, justa, boa, espiritual, prazenteira, digna de ser mantida em mente, segundo também o salmista dissera: “a lei do Senhor é perfeita, e restaura a alma” (Romanos 3:31; 7:12, 14, 22, 25; Salmo 19:7). E além de exaltar a lei divina, Paulo recomendava sua fiel observância e sua utilização de forma legítima (Rom. 13:8-10; Efé. 6:1-3; 1 Cor. 7:19; 1 Tim. 1:8).
2a. - Porque Paulo sabia que “o sábado foi feito por causa do homem” (Mar. 2:27), para o benefício físico e espiritual do homem desde a criação (Gên. 2:2, 3; Êxo. 20:8-11), e que, sendo “homem” aplicava-se a ele também. O Apóstolo nunca teria intenção de querer desfazer algo que Deus estabeleceu e sabia não ter autoridade para tanto.
3a. - Porque qualquer noção de “fim do sábado” implicaria em tê-lo como mandamento cerimonial, mas as leis cerimoniais foram instituídas APÓS o ingresso do pecado, exatamente como uma forma de compensá-lo e propiciar expiação mediante seu simbolismo, apontando ao “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29). O sábado não é cerimonial porque foi estabelecido ANTES da Queda (Gên. 2:2, 3). Aliás, as duas únicas instituições que ainda persistem no mundo desde antes do ingresso do pecado são o sábado e o matrimônio, ambos igualmente estabelecidos para o homem (ver Mar. 2:27 e Mat. 19:5).
4a. - Porque Paulo mesmo demonstra fidelidade à observância do sábado. Ele ia às sinagogas pregar aos
sábados, e quando não encontrou sinagoga em Filipos, dirigiu-se a um local junto a um rio para orar. Noutra ocasião ficou um ano e meio em Corinto, e pregava regularmente aos sábados, sem nunca se lembrar de dizer a seus ouvintes que doravante observassem outro dia (Atos 13:14, 15, 42-44; 16:13; 18:4-11). Se ele não fosse respeitador do princípio do sábado não poderia ter autoridade moral de declarar em sua defesa quando sob “graves” acusações pelos judeus: “Nenhum pecado cometi contra a lei dos judeus, nem contra o templo. . .” (Atos 25:8).
5a. - Porque é quase certo que Paulo mesmo escreveu Hebreus (ou ditou a carta a um escrivão cristão), dirigindo-a especialmente aos cristãos hebreus. Ele trata do sentido das leis cerimoniais nos capítulos 7 a 10 e não inclui o sábado como algo cerimonial, antes, dá ao sábado um tratamento muito especial nos capítulos 3 e 4. Hebreus foi escrito pelo ano 64 AD e Paulo ilustra o repouso espiritual que Israel poderia ter alcançado ilustrando-o com o princípio do sábado, não com o domingo, o que seria de se esperar se nessa época os cristãos tivessem adotado tal dia como o seu especial dia de observância. Ademais, os que em Israel entraram no repouso espiritual, nem por isso dispensaram a observância do sábado, como os heróis descritos no capítulo 11 de Hebreus (ver também Salmo 40:8).
6a. - Porque ao ilustrar esse repouso espiritual em Hebreus 3 e 4 Paulo usa por toda extensão a palavra grega katapausin para ‘repouso’, mas no vs 9 do capítulo 4 ele usa um termo diferente e é a única vez que aparece em toda a Bíblia: sabbatismos. As Bíblias em geral trazem nota de rodapé com o sentido desta palavra como “repouso sabático”. O tradutor George Lamsa traduz a passagem como: “Resta uma observância do sábado para o povo de Deus”. Certamente o autor de Hebreus quer mostrar que seu uso do sábado como simbolismo por todo o capítulo 3 e 4 não significa que o estava reinterpretando para anulá-lo como prática ainda normal, reconhecido como um mandamento divino.
7a. - Porque em toda a epístola aos Colossenses Paulo jamais emprega a palavra “lei”, pois não está tratando de validade da lei, algo que jamais pôs em dúvida (ver §§ 1 e 2, acima). Os especialistas não contam com muitos detalhes de qual seria a heresia que perturbava os cristãos colossenses, e que consistia em regras do tipo “não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro” (ver Col. 2:21). Também ele recomenda no contexto do vs. 16: “Ninguém se faça árbitro contra vós, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum na sua mente carnal” (vs. 18), o que torna o problema dessa estranha heresia colossense ainda mais complexa de conhecer-se. Contudo, o certo é que Paulo não diz aos colossenses que NÃO ERA para observarem o mandamento, e sim que não deviam permitir que esses heréticos proferissem julgamento quanto à sua observância do dia.
8a. - Porque o contexto da passagem trata de “escrito de dívida” e “ordenanças” que eram prejudiciais, “contra nós”. Sendo que o sábado foi feito “por causa do homem” certamente não era uma ordenança prejudicial, contrária aos filhos de Deus, mas visava ao seu melhor interesse, estabelecido “por causa do homem”. Também o sábado não aponta ao futuro como as cerimônias prefigurativas, e sim basicamente ao passado, à criação—é memorial da obra criativa de Deus [ver Êxo. 20:8-11 e Salmo 111:4].
9a. - Porque eruditos cristãos entendem agora que o cheirographon [“escrito de dívidas”] não é a “lei cerimonial”, como entendem muitos, mas um relatório dos pecados, “contra nós”. Paulo em Colossenses 2 discute um problema local, e não uma nova noção de eliminação do princípio de um dia de repouso. Tal princípio sempre foi acatado pelos cristãos ao longo dos séculos, segundo expresso nas suas históricas Confissões de Fé.
10a - Porque especialistas evangélicos da maior autoridade e prestígio sempre entenderam ser o sábado mencionado em Colossenses os dias de festas cerimoniais de Israel, constantes da “lei dos mandamentos que consistia em ordenanças” e que causavam divisões entre judeus e gentios (Efé. 2:15). Gramaticalmente o fato de a palavra estar no plural não impede absolutamente que não possa referir-se aos sábado cerimoniais, (ver Levítico 23:38). A passagem fala de “luas novas, dias de festas e sábados”, o que não impede que esses sábados sejam cerimoniais, como eram também as festas de “lua nova”. Autoridades várias entendiam que os sábados de Col. 2:!6 seriam os cerimónias, tais como o metodista Adam Clarke, os presbiterianos Albert Barnes e Charles Hodge, os batistas Jamieson, Fausset & Brown e outros. Tais pesquisadores apresentam tais argumentos porque percebem que se Paulo anulasse o princípio do dia de descanso, com isso eliminaria o próprio domingo, pois nada seria deixado no lugar, e eles defendem o domingo como sendo a maneira cristã de observar o mandamento do sábado.
Prof. Azenilto G. Brito
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