Uma das questões que sempre tem assombrado a raça humana desde que ela conheceu a história de Adão e Eva no Paraíso é: Como poderia o homem reconquistar o Paraíso? Como poderia o homem atingir a perfeição sem pecado?
Muitas diferentes filosofias e sistemas religiosos conflituantes têm sido projetados para atender ao anseio inerente do homem por buscar uma vida mais elevada, perfeita. Nosso propósito específico é investigar a resposta inspirada oferecida no antigo Israel e registrada no Antigo Testamento.
Moisés e todos os profetas começaram da pressuposição religiosa de que o homem foi criado por seu Criador à imagem de Deus, à Sua semelhança (Gén. 1:26), e então foi colocado no belo Jardim do Éden com o privilégio de ter comunhão com Deus e governar o mundo como representante de Deus (Gén. 2; Sal. 8).
O homem não foi criado para viver para si mesmo ou para o mundo, tentando achar significado ou perfeição em si mesmo ou na humanidade. Perfeição original do homem era a perfeita relação com seu Criador-Pai que lhe deu Seu mandato e missão para o mundo. Esta dimensão religiosa do homem como criatura recebeu um símbolo concreto no descanso de Deus no sétimo dia da Semana da Criação (Gén. 2:2-3). A celebração da obra da Criação de Deus no sétimo dia deu significado e direção à vida e pensamento do homem. A adoração de Deus como Criador deu-lhe verdadeira dignidade e liberdade ao homem. O homem estava livre da escravidão da auto-deificação e de imaginários deuses na natureza.
Conhecendo seu Criador, o homem podia conhecer-se a si mesmo. O homem não pode conter o significado da vida em si mesmo. Isto não pode ser achado na natureza ou no mundo ao seu redor.
O dia de Sábado foi designado especificamente para apontar ao homem a Deus como a fonte de sua nobreza e destino: ser um filho de Deus, seu Pai. Não foi no Sábado, mas no sexto dia que o homem foi criado – um fato impressionante e significativo. Embora ele pudesse ser chamado a obra prima da Criação, a perfeição do homem foi dada no sétimo dia, o dia de adoração e louvor. Entrando no repouso de Deus do sétimo dia como filho e participante festivo de Deus, regozijando-se na perfeita obra do Pai, o homem receberia a alegria da santidade e perfeição de seu Benfeitor.
Sem a adoração do Criador, o homem é escravo para adorar um outro deus, um ídolo de sua própria fabricação. A miséria do homem moderno secularizado é que ele nem mesmo compreende sua auto-deificação e auto-adoração.
Israel foi escolhido como o único povo que conhecia a soberania do Criador como seu Deus Redentor, que lhes deu um único modo de adoração e missão no mundo.
O centro da adoração de Israel era o santuário e seu sagrado culto expiatório. É desse centro de culto que nós temos que entender o livro dos Salmos que fala de apenas dois grupos ou classes de pessoas: o
justo e o ímpio. Quem são estes justos ou perfeitos, quando contrastados com os ímpios ou malfeitores nos hinos do templo de Israel? São essas classes moralmente definidas de tal modo que os salmistas poderiam qualificar um certo tipo de pessoas como moralmente perfeitas e as outras como moralmente ímpias? O aspecto moral ocupa um largo papel na descrição de ambas as partes. Contudo, os poetas dos Salmos penetram através de todas qualificações morais, apontando a fonte de toda a vida moral. A relação com o Deus vivente determina a qualidade do coração e vida de alguém. Esta relação espiritual com Deus vem do Deus de Israel, e é estabelecida por Ele no serviço do santuário. Não os desejos pios, os sentimentos, as orações; somente o ato de aceitação de Yahweh através do sacerdote levítico pode declarar um adorador arrependido como “justo”, livre de culpa. “O sacerdote, por essa pessoa, fará expiação do seu pecado que cometeu, e lhe será perdoado.” (Lev. 4:35).
Isto não implica que o sacerdote perdoasse em sua própria autoridade, de acordo com o seu próprio gosto. O sacerdote era o representante apontado do Deus de Israel. Deus mesmo permanecia o soberano Senhor que realmente perdoava os pecados confessados, pela causa de Seu próprio nome. A tendência de Israel em confiar nos sacerdotes levíticos e nos seus sacrifícios de animais para o perdão era contestada por Deus com enfáticas censuras: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro.” (Isa. 43:25).
A Lei de Moisés ensinava explicitamente que não era Israel quem dava o sangue expiatório sobre seus altares a Deus, mas pelo contrário, dizia: “Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida.” (Lev. 17:11).
Esta era a revelada e única doutrina do serviço do santuário de Israel, separando-o de todas os cultos religiosos gentílicos que eram baseados no princípio da salvação pelas obras. Israel era fundamentalmente diferente de todas as outras nações em sua origem e missão, sua adoração e teologia. A causa disto não devia ser procurado em qualquer superioridade ou virtude da raça em si mesma, mas exclusivamente em Deus que escolheu a este povo, em fidelidade às Suas próprias promessas feitas aos patriarcas.
Eles foram chamados para ser santos, por causa que Yahweh era santo (Lev. 11:45). O Senhor os tinha escolhido para serem o seu povo peculiar, “um povo para a Sua própria possessão” (Deut. 7:6). Constantemente, Israel estava em perigo de mal entender o propósito gracioso de sua eleição por pensar: “Por causa da minha justiça é que o SENHOR me trouxe a esta terra para a possuir” (Deut. 9:4). Contudo, a despeito de sua teimosia, rebelião e apostasia do Senhor durante 40 anos no deserto, Ele renovou o Seu concerto e imutável amor para com Israel, apelando com renovada força: “Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos do SENHOR e os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?” (Deut. 10:12-13).
Tendo sido provado uma perfeita redenção pela graça unicamente, Israel estava agora sob a santa obrigação de render perfeita gratidão e obediência a seu Redentor em resposta. Então, a obediência moral de Israel seria motivada por gratidão pela libertação, perdão e glorioso futuro recebidos. A ética de Israel era portanto, condicionada e enraizada em sua redenção pela graça de Deus. O concerto que Deus fez com Israel no monte Sinai, exatamente como o Seu concerto com Abraão, era um concerto de graça, de perdoadora graça através do serviço do santuário, dirigido pela esperança de paz na Terra Prometida.
Enfaticamente, Moisés tentou ensinar a Israel esta estrutura de graça redentora como a exclusiva motivação para a verdadeira e aceitável obediência. Na fronteira da Terra Prometida, ele reiterou esta ordem indicada de redenção-moralidade.
“Falou mais Moisés, juntamente com os sacerdotes levitas, a todo o Israel, dizendo: Guarda silêncio e ouve, ó Israe! Hoje, vieste a ser povo do SENHOR, teu Deus. Portanto, obedecerás à voz do SENHOR, teu Deus, e lhe cumprirás os mandamentos e os estatutos que hoje te ordeno.” (Deut. 27:9-10).
Esta ordem divina era especificamente enfatizada nos próprios Dez Mandamentos, os quais começam com a lembrança: “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim.” (Êxo. 20:2-3). A grande Lei moral de Israel constitui assim a santa vontade de um Redentor para um povo redimido a fim de guardar e santificar Seu povo dentro da recebida redenção. Amor grato de um povo salvo, então, seria a única e verdadeira condição aceitável para o cumprimento desta Lei de Deus. Ademais, o segundo mandamento também lembra desta motivação do amor: “Faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os Meus mandamentos.” (Êxo. 20:6).
Não admira que perfeito amor a Deus é exaltado constantemente como a específica raiz da adoração e da vida moral de Israel. “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.” (Deut. 6:4-5).
O requerimento de tal amor totalitário e exclusivo a Deus se torna compreensível somente quando nós consideramos a situação histórica e o contexto em que esta reivindicação de Deus sobre Israel foi feita. Este apelo por um perfeito amor de Israel foi feito após Israel ter experimentado o perfeito amor e graça de Deus em Sua grande salvação do Êxodo. Esta era a resposta, a grata entrega de um povo salvo a seu amante Salvador, que o Senhor esperava e justamente ordenava para o Seu povo.
O rei David foi considerado como o grande exemplo para os governantes teocráticos de Israel, porque “Davi… guardou os Meus mandamentos e andou após Mim de todo o seu coração, para fazer somente o que parecia reto aos Meus olhos” (1Reis 14:8; ver também 1Reis 9:4).
Como perfeito amor renderia perfeita obediência aos Mandamentos de Deus por Sua graça aparece novamente na bênção do rei Salomão: “Seja perfeito o vosso coração para com o SENHOR, nosso Deus, para andardes nos seus estatutos e guardardes os seus mandamentos, como hoje o fazeis.” (1Reis 8:61).
Incansavelmente, Deus estava a procurar por aqueles que respondiam ao Seu atrativo amor e inclinavam os seus corações e vida completamente, perfeitamente a Ele. “Porque, quanto ao SENHOR, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele.” (2Cró. 16:9).
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