26/07/12

Os Adventistas citam muito a Lei e o A.Testamento

PERGUNTA: Os Adventistas citam muito o AT como prova das suas Doutrinas, especialmente a Lei e o Sábado. Já os cristãos encontram as suas orientações e doutrinas no NT.

RESPOSTA: Nós citamos muito o Antigo Testamento, como também citamos muito do Novo. Na verdade, nós não fazemos distinção de autoridade entre o Antigo e o Novo Testamento, e é por essa mesma razão que nós, somos cristãos. Acreditamos que toda a Bíblia, do Génesis ao Apocalipse, é inspirada por Deus e, portanto, com razão, o guia para as nossas vidas.

Algumas pessoas, quando discutem sobre a lei e o sábado, procuram estabelecer um contraste, ou mesmo conflitos entre o Antigo e o Novo Testamento, como se o primeiro fosse de pouco ou nenhum valor e completamente substituível por este último. Este falso contraste está na raiz de grande parte do raciocínio errado, que marca os argumentos daqueles que afirmam que a lei e o sábado foram abolidos na cruz.

A “Bíblia” dos apóstolos era o que hoje é conhecido como o Velho Testamento. Os primeiros escritos desses primeiros ministros cristãos não começaram a vir de suas penas vinte, trinta ou mais anos após a ascensão de Cristo. Também não existiam prensas de impressão e serviços de correio para rapidamente distribuir esses escritos. Só aos poucos é que eles ganharam circulação. É inteiramente razoável acreditar que, durante o primeiro século da era cristã o termo Escrituras, mencionado várias vezes no Novo Testamento, era amplamente entendido como o que chamamos de Antigo Testamento.

Cristo admoestou aos judeus “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim“ (João 5:39). E então ele acrescentou: “… se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (João 5:46-47). A razão pela qual os discípulos não compreenderam os acontecimentos da semana da crucificação era que eles não entendiam corretamente as Escrituras, o Antigo Testamento. (Ver Lucas 24:27). No dia de sua ressurreição Ele mostrou-lhes como a Sua morte e ressurreição foram um cumprimento da profecia: “Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras“ (Lucas 24:45).

Nem os apóstolos deram qualquer evidência de que deviam suprimir o Velho Testamento em favor de alguns escritos que eles começaram a produzir. Paulo escreveu a Timóteo: “…desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o
homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3:15-17).

Tanto Cristo como os apóstolos citavam repetidamente o Antigo Testamento para a confirmação de seus ensinamentos. Para Satanás, Cristo disse: “Está escrito”, e três vezes citou o Antigo Testamento. (Ver Mateus. 4:4-10). Ele repreendeu os escribas e fariseus, citando o quinto mandamento, do livro do Êxodo, e citando as palavras de Isaías. (Ver Mateus. 15:1-9). Veja também o diálogo de Cristo com o jovem rico e com o doutor da Lei em (Mateus 19:16-19, Lucas 10:25-28). Proeminente nestas referências ao Antigo Testamento são as citações dos Dez Mandamentos.

Como Paulo pôde provar que todos os homens, judeus e gentios, eram culpados diante de Deus e, portanto, tinham necessidade da salvação oferecida por Cristo? Citando o Antigo Testamento. (Veja Romanos 3:9-18). E como ele sabia que ele era um pecador perante Deus e necessitava do evangelho? Chamando à mente o que foi escrito no Antigo Testamento, mais especificamente o que foi escrito nos Dez Mandamentos (Veja Romanos 7:7). Para a igreja de Roma, Paulo ordenou: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei.” (Romanos 13:8). Ele professa estar estabelecendo um novo código, o qual foi o resultado de uma nova revelação dada a ele? Não, ele cita o Antigo Testamento, especificamente os Dez Mandamentos. (Ver os versículos 9 e 10 de Romanos 13) E como é que Paulo apoiava o seu apelo para os filhos obedecerem a seus pais? Citando o Antigo Testamento, especificamente os Dez Mandamentos. (Cf. Efésios 6:1-3).

Como Tiago desenvolveu seu argumento de se ter “respeito às pessoas”, ele estabeleceu novas leis? Não, ele cita o Antigo Testamento, concentrando-se nas citações dos Dez Mandamentos. (Veja Tiago 2:8-12). E que prova Pedro ofereceu em apoio à sua declaração de que deveríamos ser “santos”? “porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.” (1 Pedro 1:16). Sua prova é uma citação de Levítico 11:44 “Eu sou o SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos consagrareis e sereis santos, porque eu sou santo“.

As Escrituras, do Génesis ao Apocalipse, são um todo. A fonte do Antigo e do Novo Testamento é a mesma: a inspiração do Espírito de Deus. O seu objetivo é o mesmo: desdobrar o plano de Deus, revelar a Cristo, alertar contra o pecado, e apresentar o santo e correto padrão de Deus.

Alguém há muito bem observou: O Novo Testamento está escondido no Antigo, o Velho Testamento é revelado no Novo. Podemos compreender melhor a promessa no último livro da Bíblia, de uma recriação, uma nova terra, e uma verde árvore da vida, quando nos voltamos para o primeiro livro da Bíblia que os descreve. A terra boa, com a sua árvore original da vida, que saiu das mãos de Deus quando Ele primeiro criou este mundo. Compreendemos melhor o significado da cruz, e as palavras de Cristo: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo”, quando lemos o relato da queda do homem.

Nós nunca devemos esquecer que os títulos “Antigo Testamento” e “Novo Testamento” são títulos dados pelo homem. Os escritores da Bíblia, portanto, não dividiam assim as Escrituras. Ambos os Testamentos tratavam sobre o drama do pecado e da salvação. O Antigo Testamento apresenta a promessa de uma nova terra e um novo pacto, bem como retrata as iniquidades do homem desde os primeiros dias. O Novo Testamento descreve em pormenor o “velho homem” do pecado e o antigo problema da rebelião do homem, bem como descreve o “novo homem” em Jesus Cristo e as glórias de um mundo vindouro.

A inter-relação do Antigo Testamento com o Novo, a dependência um do outro, jamais foi compreendida pelo nosso adversário, o Diabo. É por isso que ele há muito tempo começou seus ataques contra a Bíblia, procurando minar a historicidade e autenticidade do Velho Testamento. Foi nesse ponto que a maior crítica a Bíblia começou. E com o velho destruído, o novo logo desmorona por falta de fundamento histórico e significado. É compreensível que os modernistas devam ter se encontrado minimizando a autoridade espiritual e o significado do Antigo Testamento. Mas o que é inexplicável é a atitude de alguns que se consideram fundamentalistas dos fundamentalistas no que diz respeito ao Antigo Testamento.

Por que eles procuram rasgar em duas a túnica inconsútil da Escritura? Porque estabelecem a doutrina de que uma santa ordem de Deus no Antigo Testamento deve aguardar ser reestabelecida no Novo antes que tenha autoridade na Era Cristã, quando o registro é claro de que os escritores do Novo Testamento, citavam o Velho, não apenas para informar os seus leitores que determinada passagem do Velho ainda era obrigatória, mas para corroborarem que suas declarações recentemente proferidas no Novo Testamento concordavam com o velho e, portanto, eram igualmente vinculativas. Em outras palavras, os apóstolos, lembravam a seus leitores que os “homens santos de Deus” nos “velhos tempos” falaram inspirados pelo Espírito Santo, desejava que estes leitores vissem que eles, os apóstolos, falavam pelo mesmo Espírito Santo. (2 Pedro 1:21) Assim, eles repetidamente citavam em apoio à sua fundamentação doutrinária as admoestações e palavras dos homens “santos” que escreveram o Antigo Testamento.

É verdade que os rituais cerimoniais descritos no Antigo Testamento expiraram, por prescrição, na cruz, para, em seguida, a sombra conhecer a realidade. E os escritores do Novo Testamento, especificamente atestaram, que esses ritos, conforme definidos em uma série de leis cerimoniais, tinham chegado ao fim. Mas esse fato em nada faz o Velho Testamento inferior ao Novo ou justifica a alegação de que o novo suplantou o antigo.

PERGUNTA: Os adventistas procuram provar que existem duas leis descritas na Bíblia, uma moral, e outra cerimonial. Mas há apenas uma lei.

RESPOSTA: A lógica da oposição é esta: Não há senão uma lei, a Bíblia fala claramente de uma lei abolida e, portanto, os Dez Mandamentos foram abolidos, incluindo, necessariamente, o quarto, sobre o qual os adventistas constroem o seu caso para o sábado.

Tantos falsos raciocínios têm sido criados sobre esta doutrina de uma “única Lei” que devemos refletir e analisá-los a fundo.

A palavra “lei” é usada na Bíblia de várias maneiras. Na frase, “a lei e os profetas”, a palavra “lei” preferivelmente significa os livros de Moisés, porque, em seus escritos, as leis de Deus são especialmente estabelecidas. A palavra “lei” às vezes é utilizada sem referência a qualquer código especial, como um termo coletivo para descrever todas as leis. Novamente, a palavra “lei” é frequentemente utilizada para designar um determinado código, por exemplo, a lei moral, ou a lei cerimonial, como iremos procurar mostrar.

Para afirmar que toda vez que a Bíblia usa a palavra “lei” significa sempre o mesmo código seria razoável, afirmar que toda vez que a Bíblia usa a palavra “dia” significa sempre o mesmo período de tempo. Os fatos são que “dia” pode significar (1) a parte clara das vinte e quatro horas do ciclo, como o dia em contraste com a noite, ou (2) o conjunto do período de vinte e quatro horas, sete dias por semana ou (3) um período indefinido de tempo, como o usado em “Agora é o dia da salvação.” O que pensaríamos do homem que argumentou que, porque certos textos na Bíblia falam do fim do dia, portanto, o dia da salvação tem, necessariamente, terminado?

A Bíblia diz que “a lei, foi abolida por Cristo”. (Cf. Ef. 2:15) Mas Paulo, que escreveu essa declaração, também declara: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei” (Romanos 3:31). O contraste entre as declarações é aguçado quando é chamada a atenção para o fato de que Paulo usou a mesma raiz grega para as palavras aqui traduzidas “abolida” e “Anulamos”. Essa raiz, kataigeo, significa “tornar inoperante”, “fazer cessar”, “acabar com”, “anular”, “abolir”. Mas será que o inspirado escritor Paulo se contradiria, dizendo a uma igreja que “a lei” fora “abolida”, e então para outra igreja exclamar: “Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei.”? Obviamente Paulo deve estar falando de duas leis diferentes. Estes dois textos são suficientes em si mesmos para expor a falácia do argumento de que a Bíblia fala apenas de uma lei.

O primeiro registro formal de códigos das leis divinas ocorreu na época do Êxodo. Foi então que Deus escolheu um povo para o seu nome, e os colocou a caminho da Terra Prometida. Os séculos anteriores não possuíam escrituras, nenhum dos sessenta e seis livros da Bíblia tinham ainda sido escritos. Através de Moisés Deus começou a dar aos homens uma revelação escrita para orientá-los, e deste dia em diante, com uma excepção notável, as palavras de Deus para o homem, incluindo as suas leis têm sido escritas por agentes humanos, os profetas. Essa única excepção era um código de leis que Deus falou aos homens com a sua própria voz. A História Sagrada não registra nenhum outro sermão pregado por Deus ao homem em meio à sobrenatural, e flamejante glória que envolve o Deus eterno. Referindo-se a este isolado e majestoso fato, Moisés declarou a Israel:

“Agora, pois, pergunta aos tempos passados, que te precederam, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra, desde uma extremidade do céu até à outra, se sucedeu jamais coisa tamanha como esta ou se se ouviu coisa como esta; ou se algum povo ouviu falar a voz de algum deus do meio do fogo, como tu a ouviste, ficando vivo” (Deuteronómio 4:32-33)

E quando Deus tinha falado o código, os “dez mandamentos”, o registro declara: “…e NADA acrescentou” (Ver Deuteronómio 5:22 – Grifos nossos) O sermão estava concluído, ele era um todo completo, não houve nada a mais que Deus desejasse acrescentar. Então Ele anotou o sermão com a sua própria mão em “duas tábuas de pedra” (Deuteronómio 5:22) Nenhum outro documento da história do homem teve a inscrição feita pela mão de Deus. “As tábuas tinham sido feitas por Deus; o que nelas estava gravado fora escrito por Deus.” (Êxodo 32:16 NVI). E o que Deus escreveu sobre as tábuas de pedra, ele descreveu como uma lei.” (Ver Ex.24: 12)

Depois segue-se outro momento dramático, em sequência a doação da escrita da referida “lei”. Moisés começou a descer do monte com as duas tábuas nas mãos. Ele estava trazendo para Israel, o registro permanente deste sermão impressionante feito pelo Deus do céu. Sua indignação com a visão dos israelitas adorando um bezerro de ouro fez com que quebrasse as tábuas da Lei e o estrondo das pedras caindo em terra, foram um símbolo da quebra do código divino.

Será então, que o Senhor ordenou a Moisés escrever uma cópia do código para tomar o lugar das tábuas da lei quebradas? Não. O Senhor escreveu os Dez Mandamentos pela segunda vez em novas tábuas de pedra. Um código tão distintivo que o próprio Deus o escreveu duas vezes na pedra. Ele confiou aos Seus profetas muitas mensagens vitais para os homens, mas os Dez Mandamentos ele mesmo os escreveu.

O ponto focal, o objeto mais sagrado do serviço religioso instituído por Deus para o Israelitas, era a arca da aliança, acima da qual pairava a luz santa da presença de Deus. Quando, na jornada dos israelitas, a arca devia ser movida, ninguém a tocava para que não morresse. E neste que era o mais sagrado dos objetos sagrados do santuário, Moisés foi instruído para colocar dentro as tábuas de pedra. (Deuteronómio 10:5). Também não houve qualquer outro código de leis colocadas dentro da arca sagrada. “Nada havia na arca senão as duas tábuas de pedra, que Moisés ali pusera junto a Horebe” (1 Reis 8:9).

Novamente, esse código de leis foi distinguido como a base de uma aliança entre Deus e os israelitas. Aqueles que se opõem a doutrina bíblica da perpetuidade da lei moral, que os adventistas crêem, têm procurado apoio da sua opinião com este fato, mas o que eles têm negligenciado é isto: O simples fato de que a lei dos dez mandamentos é descrita como a única base de um pacto, prova mais uma vez que os Dez Mandamentos são um código distinto, para não ser confundido com qualquer outro. Moisés disse a Israel: “Deus lhes anunciou a aliança que estava fazendo com vocês e mandou que obedecessem aos dez mandamentos, que depois escreveu em duas placas de pedra” (Deuteronómio 4:13 NTLH).

Vamos resumir os fatos históricos sobre a entrega da lei dos dez mandamentos:

1. Deus falou a lei com a sua própria voz na audiência com todo o Israel, Ele não deu outra lei nesse sentido. ”Ele nada mais acrescentou”.

2. Deus escreveu a lei dos dez mandamentos com seu próprio dedo – a única lei que ele escreveu para sempre para o homem.

3. Deus escreveu a lei dos dez mandamentos sobre a pedra, e Ele mesmo preparou a pedra – a única lei do registro bíblico assim escrita.

4. Deus mandou Moisés descer do monte, aos olhos de todo Israel, tendo as duas tábuas de pedra que continham apenas os Dez Mandamentos.

5. O próprio Deus reescreveu a lei depois de Moisés ter quebrado as primeiras tábuas.

6. Deus instruiu Moisés a colocar as tábuas contendo os Dez mandamentos dentro da arca da aliança, o
objeto mais sagrado do templo. A Lei dos Dez Mandamentos é a única a ser honrada dessa maneira.

7. Deus declarou que a lei dos dez mandamento era “a sua aliança” – a única lei assim descrita.

Os jovens objetores professam ser incapazes de encontrar na Bíblia qualquer razão para pensar que a lei dos dez mandamentos seja um código de leis distintas, que não deve ser confundido com qualquer outro código. Gostaríamos de perguntar-lhes: Se eles pudessem ditar a forma de entrega da presente lei, e tivessem a intenção de apresentar provas convincentes de que era uma lei à parte, qual o procedimento que poderia eventualmente terem seguido para a distinguirem de forma mais completa.

Mas a lei dos mandamentos não foi a única formalmente estabelecida por Deus no Sinai. Havia um código de leis, conhecidas como leis cerimoniais, que fornecia as regras para o ritual religioso que os judeus deviam seguir, por exemplo, seus sacrifícios e ofertas, seus dias de festa anual, as funções do sacerdócio. O gancho do Levítico é preenchido com essas leis. Havia também as leis civis para governar os judeus como uma nação, tais como as leis sobre casamento, divórcio, exploração de escravos, propriedade. (Veja Êxodo 21) Na medida em que a compreensão espiritual crescia, e a vontade dos israelitas permitia, o Senhor fez estes estatutos civis para refletir a idéia perfeita expressa na lei dos dez mandamentos. A lei sobre a exploração do escravo é um exemplo da adaptação do princípio moral devido o baixo estado espiritual de um povo. A do Estatuto do divórcio Cristo declarou: “Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio” (Mateus 19:8. Ver Marcos 10:4-6).

Mas essas leis cerimoniais e civis não foram dadas por Deus diretamente para o exército de Israel. Quanto à forma como Deus fez conhecer estas leis, quem as escreveu, e onde foram depositados, as Escrituras são claras:

1. Depois de declarar que o Senhor escreveu os Dez Mandamentos “em duas tábuas de pedra”, Moisés acrescenta imediatamente: “Também o SENHOR me ordenou, ao mesmo tempo, que vos ensinasse estatutos e juízos” (Deuteronómio 4:13-14). Um escritor bíblico depois estabelece a mesma distinção: “e não farei que os pés de Israel andem errantes da terra que dei a seus pais, contanto que tenham cuidado de fazer segundo tudo o que lhes tenho mandado e conforme toda a lei que Moisés, meu servo, lhes ordenou.” (2 Reis 21:8).

Ao contar os acontecimentos do Sinai, Neemias, referindo-se ao Senhor, também fala do fato de que certas leis foram pronunciadas por Deus e outras foram dadas a Israel através de Moisés: “Tu desceu sobre o monte Sinai, e falou com eles do céu, e deu-lhes juízos retos e leis verdadeiras, bons estatutos e mandamentos, e lhes fez conhecer o teu santo sábado, e ordenou-lhes os preceitos, estatutos e leis, pela mão de Moisés, teu servo”. (Neemias 9:13-14).

2. “Moisés escreveu esta lei.” Deut. 31:9.

3. “Tendo Moisés acabado de escrever, integralmente, as palavras desta lei num livro, deu ordem aos levitas que levavam a arca da Aliança do SENHOR, dizendo: Tomai este Livro da Lei e ponde-o ao lado da arca da Aliança do SENHOR, vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra ti” (Deuteronómio 31:24-26).

Devido ao fato da lei cerimonial, e também os estatutos civis, terem sido escritos por Moisés, e por ele terem sido dados ao povo, eles são geralmente descritos na Bíblia como “a lei de Moisés”. Veja, por exemplo:

1. 2 Crónicas 23:18. Sacerdotes oferecem holocaustos, “como está escrito na lei de Moisés”.

2. 2 Crónicas 30:16. Sacerdotes realizavam a Páscoa “segundo a lei de Moisés.”

3. Esdras 3:2. Construíram um altar para o holocausto “como está escrito na lei de Moisés”.

4. Dan. 9:13. A destruição de Jerusalém tinha chegado “como está escrito na lei de Moisés”.

5. Malaquias 4:4. “Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe [Sinai] para todo o Israel…”

O Novo Testamento também revela, em muitas de suas referências a Lei, a mesma distinção entre a lei dos dez mandamentos e o código de leis dadas por Moisés. Observe as seguintes referências à lei de ritos e cerimónias, às vezes descritas como a “lei de Moisés”, e às vezes simplesmente mencionadas como “a lei”:

1. “Para não deixarem de cumprir a Lei de Moisés, vocês circuncidam um menino, mesmo no sábado” (João 7:23 NTLH)

2. “Insurgiram-se, entretanto, alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés” (Atos 15:5). Mais tarde no capítulo, quando a reivindicação desses fariseus é reafirmada, é resumida assim: “Você deve ser circuncidado, e guardar a lei” (versículo 24 – versão King James, Reina Valera e outras)

Isso ilustra bem como um escritor do Novo Testamento pode utilizar uma frase não qualificando “a lei”, e ainda significar uma lei muito específica, neste caso, “a lei de Moisés”. O contexto é geralmente suficiente para tornar claro sobre o que a lei se destina. Certamente, se a circuncisão está em discussão no Novo Testamento e muitas vezes é o pomo de discórdia, é suficiente para se referir ao código de leis proibindo a circuncisão, simplesmente como “a lei”, isto é, a lei de ritos e cerimónias dadas por Moisés.

3. “A lei dos mandamentos contidos em ordenanças” (Efésios 2:15).

4. “E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar os dízimos do povo” (Hebreus 7:5)

5. “Pois, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei” (Hebreus 7:12)

6. “Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens que têm fraquezas” (Hebreus 7:28).

7. “Ora, se ele estivesse na terra, nem mesmo sacerdote seria, visto existirem aqueles que oferecem os dons segundo a lei” (Hebreus 8:4)

8. “quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hebreus 9:22)

9. “Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem” (Hebreus 10:1)

A lei dos dez mandamentos não dá instruções ou informações sobre ofertas queimadas (holocaustos), a Páscoa, a construção de um altar, o julgamento que viria sobre Jerusalém por causa da desobediência, a circuncisão, a ordem do sacerdócio. Mas a Bíblia repetidamente revela que há uma lei que dá tais instruções. Essa lei é a lei cerimonial, descrita na Bíblia como a “lei de Moisés”.

É verdade que “a lei de Moisés” – também era a lei de Deus, porque Deus era o autor de tudo o que Moisés escreveu. Portanto, não é estranho que um escritor bíblico deveria, pelo menos ocasionalmente, descrever esta lei de Moisés como “a lei do Senhor”, embora tais exemplos sejam poucos. Veja, por exemplo, Lucas 2:22-23, onde ambas as frases são usadas para descrever a mesma lei. No entanto, em nenhum lugar da Bíblia é a lei dos dez mandamentos chamada de lei de Moisés.

Observe, agora, algumas representativas referências do Novo Testamento para outra lei, que não lida com os ritos e cerimónias, mas com questões morais, a lei dos dez mandamento, a qual é também referida, simplesmente como os mandamentos:

1. “…Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.” (Mateus 19:17). Então Cristo imediatamente mencionou vários dos dez mandamentos.

2. “Então, se retiraram para preparar aromas e bálsamos. E, no sábado, descansaram, segundo o mandamento” (Lucas 23:56).

3. “Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás” (Romanos 7:7).

4. “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão-de ser julgados pela lei da liberdade” (Tiago 2:10-12)

5. “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (1 João 3:4). Que lei? Certamente, ninguém na era cristã acredita que uma falha em obedecer a lei sobre os ritos e cerimônias seja pecado. No entanto, João nos adverte que transgredir a lei é pecado. Ele não sentia necessidade em explicar a que lei ele se referia. Pois sabia que uma certa lei, conhecida por todos os leitores de João, era a regra moral de vida. Que confusão e consternação suas palavras teriam criado entre os cristãos do primeiro século, se tivessem vivido sob a impressão de que havia apenas uma lei, uma lei que era uma mistura de preceitos cerimoniais e morais! E que a transgressão dessa lei na era cristã seria pecado!

Em conclusão, vamos resumir algumas das declarações divergentes feitas na Bíblia sobre os códigos de lei moral e cerimonial:
Essas e outras comparações, revelam que além de toda a controvérsia, a Bíblia apresenta duas leis. Admitir o contrário seria dizer que a Bíblia apresenta uma série desesperada de contradições.

Admitimos que há algumas referências “a lei”, particularmente nos escritos de Paulo, onde o contexto falha ao não deixar totalmente claro a que lei se refere. Em alguns casos, parece evidente que nem a lei é apontada, mas está sob consideração, apenas o princípio da lei, em contraste com a graça. Mas esses fatos não fornecem qualquer prova de que exista apenas uma lei. Porque há textos obscuros ou difíceis na Bíblia não significa que não podemos estar convencidos sobre o significado dos textos claros e simples. E os textos de fácil compreensão devem proteger-nos de tirar conclusões falsas dos difíceis.

A Referência para as duas leis em termos de séculos antes de Moisés, também irá nos ajudar a manter uma distinção clara entre elas. Embora possamos acertadamente focar o Êxodo como o grande momento da entrega da lei, moral e cerimonial, não devemos concluir que o tempo antes de Moisés foi um período sem nenhuma lei, pelo menos, não a dos Dez Mandamentos. Este ponto vamos analisar mais detalhadamente sob a objeção 3. Precisamos apenas observar aqui que os Dez Mandamentos existiam no Éden. E que Também os primeiros rebentos da videira cerimonial, os quais cresceram grandiosamente no Êxodo, fizeram a sua aparição na forma de serviços simples de sacrifício dos nossos primeiros pais, depois que o pecado entrou.

Quem não teve a experiência de olhar para uma árvore imponente e se maravilhar com a sua vegetação densa e variada, apenas para descobrir em um exame mais minucioso, que uma vinha se entrelaçava em torno da árvore e que o que parecia ser uma, na realidade, eram duas plantas. Embora num olhar distante para um galho alto, especialmente se ele estiver balançando na brisa, possa não revelar esse fato, uma análise do tronco perto da raiz, onde a vinha primeiro entra em contato com a árvore, não deixa nenhuma dúvida de que há duas plantas.

Agora, os Dez Mandamentos poderiam ser comparados a uma árvore majestosa, com dez ramos robustos, que nossos primeiros pais encontraram florescendo no Jardim do Éden. Após a sua queda uma vinha de uma lei cerimonial foi plantada perto, regada pelo sangue de sacrifícios de animais. Durante séculos, a vinha cresceu pouco ou nada. Então, na época do Êxodo, de repente, assume uma forma definida e cresce grandemente. A árvore não necessita da videira, a fim de viver, mas a videira era totalmente dependente da árvore. Séculos mais tarde, os homens se inclinaram sempre para o cultivo da vinha em vez da árvore, até a folhagem da videira chegar bem perto e esconder a árvore e ameaçar sufocá-la. Por isso, é fácil compreender por que hoje alguns cristãos, olhando para o retrato bíblico dessa árvore, não conseguem perceber que as duas não são uma. Isso é especialmente verdadeiro se os ventos da discussão teológica estão balançando os galhos. Mas, como em uma árvore literal, não há necessidade de incerteza, nos importa se a atenção está focada, não sobre os membros de nível superior, mas no tronco e raízes. Para falar literalmente, uma análise das origens das duas leis, e os títulos que se dão a elas no Êxodo, não deixa qualquer dúvida possível que haviam duas leis.

Os adventistas também não podem reivindicar qualquer visão bíblica especial para discernir que há duas leis, não uma. A partir da Reforma Protestante os grandes igrejas tem visto claramente isso e registraram o fato em seus credos e confissões de fé. Nas respostas seguintes, vamos examinar vários argumentos contra a lei que devem a sua aparência de força a esta teoria da existência de apenas uma lei.

PERGUNTA: Os Dez Mandamentos Não Existiam Antes do Tempo de Moisés

RESPOSTA: O leitor provavelmente observará que, visto que vivemos após o tempo de Moisés, a Lei se aplica a nós, e não estamos, portanto, preocupados quanto ao tempo em que a mesma foi dada.

É verdade, e poderíamos encerrar aqui o assunto, se não fosse o fato de que o objetor está tentando construir um argumento plausível sobre esta objeção. Se admitimos que o mundo girou em segurança durante séculos antes de Moisés sem os Dez Mandamentos, então nós mesmos temos meio caminho preparado para crer na próxima objeção, a saber, que a lei foi abolida na cruz. Se homens piedosos como Enoque e Abraão não precisavam dos Dez Mandamentos, por que precisariam os cristãos?

Portanto, devido ao sútil argumento construído sobre esse arrazoado, devemos dedicar alguma atenção à alegação de que os Dez Mandamentos não existiam antes de Moisés.

Em face disso, esta é uma afirmação inacreditável. O Decálogo ordena aos homens que não façam ídolos, por exemplo, nem tomem o nome de Deus em vão, não matem, não furtem, nem cometam adultério. Poderíamos ser levados a crer que tal código de leis não vigorava antes de Moisés? Há algumas coisas inacreditáveis demais, e esta é uma delas.

Na verdade, nenhuma das principais denominações crê assim. Não há nenhum ponto em que as grandes ramificações da igreja cristã estejam mais de acordo do que o fato de que os Dez Mandamentos estiveram em vigor desde o princípio do mundo.

A essência plausível da objeção acima é a afirmação de que aqueles que pecaram antes dos dias de Moisés não poderiam ter sido transgressores do Decálogo, porque ele ainda não fora dado. Eis o argumento:

“Anjos ‘pecaram’ (II Ped. 2:4), mas eles não violaram a lei do Sinai, porque ela só foi dada milhares de anos depois da sua queda, e de qualquer forma eles não estavam debaixo dela. Adão pecou muito antes que a lei fosse dada (veja Rom. 5:12-14); Caim pecou (Gén. 4:7); os sodomitas eram ‘pecadores’ (Gén. 13:13), e afligiam a Ló com suas ‘obras iníquas’ (lI Ped. 2:8). Certamente nenhum deles violou ‘a lei’, que não foi dada antes de Moisés.”

Mas não se pode necessariamente concluir que, pelo fato de os dez preceitos do Decálogo não terem sido proclamados audivelmente antes do Sinai, ou escritos antes daquela data, eles não existiam antes daquele tempo.

A analogia com as leis humanas revela que essa conclusão é injustificada. Durante séculos, a Inglaterra teve o que se conhece como “lei comum” ou “direito consuetudinário”, que é parte integrante de todo o sistema de jurisprudência inglês e, posteriormente, americano. Mas apenas lentamente a lei comum foi codificada e posta em forma escrita. Por séculos, muitos estatutos desse direito consuetudinário foram transmitidos de uma geração para outra com pouca ou nenhuma referência escrita.

Contudo, mesmo pessoas com pouca literacia receberam como legado dos seus pais o suficiente da lei comum para torná-las bem familiarizadas com seus direitos primários em face da lei. Não houve nenhum momento específico na história da Inglaterra em que a lei comum fosse completamente transcrita em um livro e proclamada pelo rei como a lei do país.

E mesmo que tivesse existido tal momento na história legal da Inglaterra, o que pensaríamos de alguém que, relembrando o evento, declarasse que antes dessa grande proclamação legal os criminosos que perturbavam a Inglaterra jamais tinham violado a lei? Que outra lei violaram aqueles criminosos antes que a Inglaterra tivesse um código legal escrito para que todos vissem e lessem?

Não, a História nos ensina que uma lei não precisa ser formalmente proclamada ou escrita em um livro a fim de vigorar. O mesmo pode-se afirmar das leis morais de Deus para a humanidade.

Quando Adão e Eva foram criados, eles eram perfeitos e serviam a Deus com um coração perfeito. Daí concluímos apropriadamente que eles tinham a lei de Deus escrita no coração. Deus também falava com eles. Durante uma existência de quase mil anos, foi-lhes permitido transmitir a instrução divina que tinham recebido. Nem eles nem seus filhos precisavam de um código escrito em pergaminho ou em pedra. Bem afirma Paulo que “a lei não é feita para os justos”, isto é, a lei como é ordinariamente compreendida: um código formalmente anunciado e escrito. A lei é escrita no coração da pessoa justa.

Logo depois do pecado de Adão, os homens iniciaram um rápido declínio para o abismo da corrupção, como o declara Paulo (veja Romanos 1). Poderiam eles desculpar suas más ações sob pretexto de que não estavam cientes de qualquer lei que tivessem violado? Não, Paulo declara enfaticamente que eram “indesculpáveis” (verso 20). Mas como poderiam estar sem desculpas a menos que ainda retivessem algum conhecimento dos santos requisitos e leis de Deus?

Nossa responsabilidade por nossos pecados é em função do nosso conhecimento (veja João 15:22). Paulo amplia o assunto explicando que quando os “gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência” (Rom. 2:14 e 15).

Cremos que há apenas uma conclusão razoável: embora as pessoas cedo se afastassem de Deus, o conhecimento dEle não desapareceu imediata ou completamente de sua memória, nem o código divino, originalmente escrito no coração de nossos primeiros pais, Adão e Eva, se extinguiu subitamente. A perturbadora luz da consciência, apesar de os raios ficarem indistintos, de vez em quando iluminava os obscuros mas celestiais traços sobre o coração.

Como diz a Bíblia na Linguagem de Hoje: “Eles mostram, pela sua maneira de agir, que têm a lei escrita no seu coração. A própria consciência deles mostra que isso é verdade, e os seus pensamentos, que, às vezes os acusam e às vezes os defendem, também mostram isso” (Rom. 2:15).

A menos que sustentemos que o mundo antes de Moisés tinha conhecimento suficiente da lei de Deus para compreender a importância moral de seus atos, estaremos acusando a Deus de injustiça em destruí-lo por suas más ações.

A única maneira possível de o objetor evitar o embaraçante significado deste fato é afirmar que, embora os homens que viveram antes de Moisés não conhecessem nada dos Dez Mandamentos, eles tinham um conhecimento de certos princípios morais eternos procedentes do Céu.

Se este argumento possui alguma validade, deve residir no reconhecimento de que esses princípios morais eternos — não definidos pelo crítico — eram diferentes dos Dez Mandamentos. Só assim pode ser mantido que os Dez Mandamentos não são eternos.

Mas que princípios são mais eternamente morais do que os dos Dez Mandamentos? E como poderia Deus ser justo em condenar os antigos por ações que podemos descrever como pecaminosas apenas por sua não conformidade com os Dez Mandamentos, se realmente tais mandamentos não estavam ainda em vigor? Além disso, se todas as ações pecaminosas dos demónios e dos homens antigos podem ser julgadas e condenadas em função dos Dez Mandamentos, que necessidade existe de invocar princípios morais completamente indefinidos e não revelados a fim de lidar com a rebelião moral daqueles que viveram há tanto tempo?

E podem suas ações ser condenadas em função dos Dez Mandamentos? Sim. A Bíblia diz que Satanás foi “mentiroso” e “homicida desde o princípio” (João 8:44). Os Dez Mandamentos lidam com suas ações. Ele também procurou colocar-se no lugar de Deus. Aqui está uma violação do primeiro mandamento. Adão e Eva muito certamente cobiçaram o fruto proibido; de outro modo, não teriam estendido a mão para ele, considerando que Deus lhes havia dito expressamente que o mesmo não lhes pertencia. Eles cobiçaram e furtaram.

E os Dez Mandamentos abrangem estes maus atos. Caim matou a seu irmão. Os Dez Mandamentos são adequados para julgá-lo. Os sodomitas foram distinguidos por sua luxúria. Cristo revelou que o sétimo mandamento abrange tanto o pensamento impuro quanto o ato impuro, e eles eram culpados de ambos.

Mas não dependemos apenas dos processos de dedução — embora sejam conclusivos — para chegar à conclusão de que os Dez Mandamentos vigoravam antes do Sinai. Os escritores da Bíblia têm muito a dizer acerca de pecado e pecadores. E como definem o pecado? “Pecado é a transgressão da lei”, diz João (I João 3:4). Paulo observa:

“Onde não há lei, também não há transgressão”, “pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (Rom. 4:15; 3:20). Não há dúvida quanto a que lei Paulo está se referindo, porque ele acrescenta: “Eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás” (Rom. 7:7). E qual lei diz: “Não cobiçarás”? A lei dos Dez Mandamentos.

Quando Tiago falou daqueles que cometem pecado, “sendo arguidos pela lei como transgressores”, também não deixou dúvida quanto a que lei estava se referindo. E à lei que diz: “Não adulterarás” e “Não matarás” (Tia. 2:9-11).

Há aqueles que dizem, e citamos suas palavras, que “pecado é um desrespeito a alguma lei, mas não necessariamente à chamada ‘lei moral’, ou os Dez Mandamentos”. Porém, não é isso o que Paulo e Tiago dizem. Não vemos como poderiam ter afirmado mais claramente que a transgressão de uma certa lei é pecado e que essa lei é a lei dos Dez Mandamentos.

Além disso, os objetores se esquecem de dizer-nos a que lei João se refere, em I João 3:4, se não é ao Decálogo. Eles não sabem, porque a Bíblia não lança nenhuma luz sobre “alguma lei” que tenha obrigação moral sobre os homens a não ser o Decálogo. E os objetores, assim como nós, são dependentes das revelações da Escritura.

O mesmo era verdade quanto àqueles que viviam nos dias de João. Por isso, é inacreditável que ele devesse definir o pecado — essa coisa horrível que mantém as pessoas afastadas do Céu — como a “transgressão da lei”, sem definir a qual lei se referia, se ele realmente se referia a alguma outra lei além daquela a que Paulo e Tiago se referiram quando escreveram sobre o pecado! O próprio fato de João não oferecer nenhum comentário explicativo quanto a que lei ele se referia é a prova mais forte possível de que se referia à lei que seus leitores, que tinham lido Paulo e Tiago, compreendiam como “a lei”, o Decálogo.

Um texto favorito daqueles que procuram provar que o Decálogo era desconhecido antes do Sinai é a declaração de Moisés: “Não foi com nossos pais que fez o Senhor esta aliança e sim conosco, todos os que, hoje, aqui estamos vivos” (Deut. 5:3). O argumento é assim expresso: Deus declara que os Dez Mandamentos são a Sua aliança. Moisés aqui está falando dessa aliança e diz que ela não foi feita com os pais antes do Sinai; portanto, os Dez Mandamentos não foram dados (e de fato eram desconhecidos) antes daquele tempo.

Que estranha crença teríamos de sustentar se chegássemos a esta conclusão! No capítulo precedente, Moisés se refere a essa aliança e adverte a Israel: “Guardai-vos não vos esqueçais da aliança do Senhor, vosso Deus, feita convosco, e vos façais alguma imagem esculpida, semelhança de alguma cousa que o Senhor, vosso Deus, vos proibiu” (Deut, 4:23).

Devemos concluir que nenhum dos filhos de Deus sabia que era errado fazer imagens esculpidas? Dificilmente podemos acreditar que alguém responda “sim”. Mas a proibição de imagens é o segundo dos Dez Mandamentos. Daí concluímos que aqueles que viveram antes do Sinai devem ter conhecido o Decálogo. Esta é a única conclusão a que podemos chegar.

Então o que Moisés queria dizer em Deuteronómio 5:3? A explicação mais simples é que ele via o povo reunido no Sinai como o nascimento da nação escolhida que Deus tinha prometido que procederia de Abraão. Por intermédio de Moisés, Deus disse aos israelitas que, se fossem obedientes à Sua aliança, seriam um “reino de sacerdotes e nação santa” (Êxo. 19:6).

Antes do Sinai não foi literalmente possível fazer uma aliança com a “nação” ou “reino” dos judeus. Também é verdade que antes do Sinai não houve qualquer proclamação formal do Decálogo. Antes do Sinai, os pais jamais haviam ouvido Deus proclamar Sua lei como ocorreu com Israel. E a lei assim proclamada era a base da aliança. Assim, em um sentido muito real, a aliança feita com Israel no Sinai nunca tinha sido feita anteriormente.

Os comentaristas diferem em sua tentativa de esclarecer este texto. Adam Clarke procura fazê-lo com a adição de palavras entre parênteses: “O Senhor não fez esta aliança com nossos pais (somente) mas conosco (também).”

Jamieson, Fausset e Brown observam: “O significado é, ‘não com nossos pais’ apenas, ‘mas conosco’ também, admitindo ser este ‘um concerto’ de graça; ou ‘não com nossos pais’ de qualquer modo, se a referência é ao exclusivo estabelecimento do concerto do Sinai; a lei não foi dada a eles como a nós, nem foi a aliança ratificada da mesma maneira pública, e pelas mesmas sanções solenes. Ou, finalmente, ‘não com nossos pais’ que morreram no deserto, em consequência de sua rebelião, e a quem Deus não concedeu as recompensas prometidas somente aos fiéis; mas ‘conosco’ apenas que, estritamente falando, gozaremos os benefícios desta aliança entrando na posse da Terra Prometida.”

Mas diz, finalmente, o objetor: “Se o Decálogo existia antes de Moisés, como é que ele foi pela primeira vez proclamado e pela primeira vez escrito no Sinai ?“ Tal pergunta revela um esquecimento de história. Nesse caso, poderíamos apropriadamente indagar se qualquer instrução moral da Santa Bíblia é realmente obrigatória para nós, visto que nenhuma delas foi escrita antes de Moisés.

O fato simples é que no tempo de Moisés e dos filhos de Israel o conhecimento de Deus e Suas leis havia se tomado tão obscurecido na mente humana que se tomou necessário dar ao mundo uma revelação escrita. Saindo diretamente das trevas egípcias, os israelitas tinham necessidade especial de declarações bem definidas sobre os grandes preceitos morais.

Por esse motivo, Deus esculpiu os Dez Mandamentos na pedra eterna com o Seu próprio dedo. Ninguém precisa, portanto, estar em dúvida. As mutáveis concepções morais dos israelitas poderiam ser corrigidas continuamente pelas imutáveis palavras esculpidas na pedra.

PERGUNTA: “O próprio fraseado da lei dada no Sinai prova que ela foi designada apenas para os judeus. Assim é introduzido o Decálogo: ‘Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei … da casa da servidão’ (Êxo. 20:2). A quem é isto aplicável? Somente à nação israelita, é claro:’ Veja também Deuteronómio 4:8, Romanos 9:4 e passagens similares, que declaram especificamente que a lei foi dada apenas para os israelitas.

RESPOSTA: Gostaríamos de perguntar: a quem mais poderia o Senhor ter dado os dez mandamentos? Aos egípcios, filisteus, amalequitas, hititas, jebuseus, ou a qualquer outro dos muitos povos pagãos que amaldiçoavam a Terra com sua presença profana? Não, você diz. Deus não podia fazer uma revelação de Si mesmo a qualquer povo até que esse povo estivesse com a mente e o coração preparados para ouvi-Lo.

Deus encontrou tal povo em Abraão e seus descendentes. Assim, Ele lhes deu uma revelação de Sua vontade e de Seus caminhos. Sim, naquele grande dia no Sinai, Ele falou exclusivamente a um povo literal, os israelitas, que havia sido libertado de uma servidão literal no Egito. Porém, indagamos outra vez: A quem mais poderia Ele ter falado?

Novamente, gostaríamos de perguntar: A quem estava Deus falando quando enviou Suas importantes mensagens através de Isaías, Jeremias, Daniel e todos os grandes profetas dos tempos do Antigo Testamento? A resposta é: “Aos israelitas.”

As mensagens inspiradas que constituem o Antigo Testamento foram dirigidas quase totalmente aos judeus, e os profetas que comunicaram as mensagens eram judeus. Mas qualquer pessoa que ama a Bíblia não sente o desejo de sugerir que as belas mensagens de salvação contidas em Isaías, por exemplo, que são com frequência dirigidas diretamente a Jerusalém, são também dirigidas a nós? Não duvidamos que muitos pastores cristãos têm tomado como seu texto estas palavras típicas de Isaías: “Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados” (Isa. 58:1). Mas nenhum ouvinte no banco da igreja fica perturbado ou confuso ou informa ao pregador que o texto é dirigido aos judeus, não aos gentios.

E quem são os escritores do Novo Testamento? Com uma possível exceção, eles são todos judeus. A quem dirigiu Cristo virtualmente tudo o que Ele disse enquanto esteve na Terra? Aos judeus. A quem é dirigida a Epístola aos Hebreus? Obviamente, aos judeus. A quem é dirigida a Epístola de Tiago? “As doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tia. 1:1). Mas qualquer cristão tem dificuldade com estes fatos, ou acha que algumas partes do Novo Testamento não são realmente para ele? Não.

Na objeção que está diante de nós, cita-se Romanos 9:4, que diz o seguinte: “São israelitas. Pertence-lhes a adopção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas.” Evidentemente, isto é apresentado como prova, porque diz que “a legislação” ou “a entrega da lei” foi para eles. Porém, o texto diz mais do que isso. As “alianças” também foram dadas a eles.

Note o plural. Tanto a velha quanto a nova aliança! A nova aliança é feita “com a casa de Israel e com a casa de Judá”. Jer. 31:31; Heb. 8:8. Mas crê algum cristão que a nova aliança está confinada ao crente judeu? Não. Todos nós reivindicamos uma parte nela e cremos que a promessa da nova aliança se aplica também a nós, embora o anúncio dela seja dirigido direta e exclusivamente aos judeus.

As palavras de Moisés em Deuteronómio 4:8 são também citadas:
“E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?” Diríamos simplesmente que esta declaração é um bom comentário de Romanos 9:4. E descobrimos que este verso de Romanos prova mais do que o objetor deseja. Um outro comentário inspirado sobre Deuteronómio 4:8 é a declaração de Cristo: “A salvação vem dos judeus” (João 4:22). Mas tem algum cristão desprezado a salvação por causa deste fato?

Nunca devemos esquecer que as admoestações e revelações das Escrituras não são dadas em um vácuo. Quase sempre são postas no contexto de eventos históricos e pessoas de carne e osso. O Sermão da Montanha tem literalmente uma plataforma rochosa como o discurso do Sinai. E a multidão a quem o sermão foi dirigido era indiscutivelmente tão judia como o povo reunido diante do Sinai.

Ao dar uma revelação, ou invocar um certo procedimento, Deus frequentemente Se valia da oportunidade para Se referir a alguma experiência real pela qual os ouvintes tinham passado. Esta é uma das características das revelações da Bíblia, Mas este fato em si jamais perturba qualquer um de nós, nem nos impede de crer que aqueles conselhos da Palavra de Deus se aplicam também a nós.

Ora, visto que Deus operou poderosos milagres para tirar do mar turbulento do paganismo um povo para Si mesmo, quão apropriado que pusesse Sua revelação eterna para eles no contexto da experiência imediata pela qual tinham milagrosamente passado. Assim, eles poderiam ser estimulados a dar àquela revelação o máximo valor em sua mente e ser mais diligentes em obedecer à mesma.

Além disso, aquele contexto histórico provê um cenário que nós hoje, que também somos carne e sangue, podemos compreender e, compreendendo, ser igualmente estimulados a prestar maior obediência a Deus.

Bem observa James O. Murphy, em Commentary on the Book of Exodus, sobre Êxodo 20:2: “Este [livramento do Egito] à maneira da Escritura e da Providência é o penhor e a garantia de seu livramento de todas as outras e maiores formas de servidão. O presente é o tipo de um futuro mais grandioso. Devemos descer a corrente da revelação para o Novo Testamento antes de sondar as profundidades deste livramento maior.”

Qualquer demonstração de misericórdia e livramento de Deus aos Seus filhos em dado momento da história terrestre é uma razão por que aqueles que vivem nesse tempo e os que lêem o relato nas eras subsequentes devem servi-Lo de todo o coração e obedecer à Sua santa vontade.



Fonte: Francis D. Nichol, Respostas a Objeções.


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