Lendo atentamente todo o capítulo de 2 Co 3, pode-se
perceber que Paulo fala de “ministério” e não de “lei”. O termo ‘lei’ não é empregado,
o que será fundamental para nossa análise do texto, pois se o mesmo não
mencionando a lei de Deus, então não podemos dizer, que a mesma tenha sido
abolida.
“O apóstolo estabelece vários contrastes entre os concertos,
que, em resumo, são os seguintes:
VELHO CONCERTO NOVO
CONCERTO
1. “ministério da morte”
1. “ministério do espírito”
2. “ministério da condenação”
2. “ministério da justiça”
3. “letra que mata”
3. “espírito que vivifica”
4. “foi abolido”
4. “permanece”
5. “em glória” 5.
“em excelente glória”
6. Está fora do homem (II Co 3:6) 6.
Está dentro do homem. Concerto do espírito (II Co3:6) .
“Vamos analisar estes contrastes, para melhor
esclarecimento.
“1 e 2. Que vinha a ser este “ministério da morte” ou
“ministério da condenação?” Certissimamente não significa ‘lei’, porque
ministério ou ministração jamais foi sinónimo de lei. Uma coisa é a ministração
de uma lei, outra coisa é a lei em si mesma. A ministração, ou ministério, nada
mais é do que os meios pelos quais a lei é aplicada, ensinada e vivida, só a má
vontade a podem confundir. Portanto, está fora de dúvida que o “ministério da
morte” ou “ministério da condenação” refere-se inequivocamente ao antigo
ministério ou ministração da lei que fora “gravadas com letras em pedra” – ou
seja o concerto com base no decálogo, concerto este que, pela incapacidade dos
israelitas, precisou ser abolido. Ao novo concerto, em contraste, Paulo chama
de “ministério do espírito” ou “ministério da justiça”. Salta à evidência que,
em linguagem vívida e comparativa, o apóstolo procura demonstrar que Cristo e o
Seu ministério são a glória refulgente, ao lado da qual a glória do ministério
dos tempos anteriores empalidecia e desaparecia. O livro de Hebreus está cheio
desses contrastes, livro que fora escrito para os crentes judeus, os quais até
aceitarem Cristo criam naturalmente que a glória do Sinai – a ministração
(ministério) da lei divina pelos sacerdotes, levitas e governadores – era a
última palavra no plano celestial. No entanto, viam depois que a glória de
Cristo a superava em muito.
“É evidente também que a metáfora comparativa “tábuas de
pedra” e “tábuas de carne do coração” é indicativo do contraste entre os dois
concertos. Compare-se cuidadosamente com Jer. 31: 31-34 e Ezeq. 11:19 e 20. Mas
não se pode encontrar aí a mais leve alusão à ab-rogação da lei de Deus. Convém
lembrar também que há expressões na Bíblia que devem ser entendidas pelo que de
fato significam e não tanto pela forma das palavras. Por simples figura
literária, o ministério da lei no velho concerto é denominado de “morte” ou
“condenação”, isto porque a transgressão da lei (pecado) tinha o seu salário de
morte ou condenação. Também nos dias de Eliseu, certa vez, os filhos dos
profetas ajuntaram-se em torno da “panela grande” em que se cozeu colocíntide.
Evidentemente eram ervas venenosas porque os que as comiam clamaram: “Homem de
Deus, há morte na panela”. II Reis 4:38-40. Em linguagem exata, queriam dizer
que havia algo no interior da panela que iria causar a morte, mas, trocando a
causa pelo efeito, gritaram, expressando-se daquela forma. Mas fácil é
encontrar-se o sentido. Basta ser sincero,e querer descobri-lo. Assim a relação
de Paulo com as “tábuas de pedra”.
3. Consideremos a “letra que mata”, em contraste com o
“espírito que vivifica”. Um ministério de lei, baseado em sua letra, resulta
somente em morte para os seus transgressores; mas um ministério de lei, baseado
na justiça de Cristo através da ação do Espírito no coração do pecador, resulta
em vida. O primeiro ministério foi letra morta, por inadimplemento por parte do
povo; o último, espírito que vivifica, por ser Cristo que habilita o homem a
obedecer. Sempre em foco os dois concertos. Nada sugere a abolição do
decálogo.
4. Quanto ao que “foi abolido”, o versículo 14 diz, no
original, que foi o velho concerto (diatheke) e não a lei de Deus. O novo
permanece. Se a Bíblia diz que permanece, é porque permanece mesmo, queiram ou não
os inimigos da verdade. Não se desmente a Palavra de Deus com malabarismos
exegéticos. Nada é aqui afirmado com relação ao decálogo.
5. Finalmente, com relação à “glória” mencionada por Paulo,
diz respeito à glória proporcional aos dois ministérios. A justiça divina
refulgiu de modo terrível no monte Sinai, quando foi solenemente proclamada a
lei. Deus era um fogo consumidor. Porém, quão incomparavelmente maior,
infinitamente maior, a glória de Deus jorrando sobre a terra seus raios
vivificantes, quando Cristo desceu para “salvar o povo dos seus pecados”. S.
Mateus 1:21. A última “glória” empalideceu a primeira. Aquela primeira – que
produziu reflexos no rosto de Moisés – foi abolida, superada que foi pelo
resplendor inigualável da segunda. Claramente diz a Bíblia que o véu foi posto
no rosto de Moisés, e não nas tábuas da lei. Era a sua face que brilhava, não
as tábuas; e foi o brilho do seu rosto que feneceu, não o decálogo.
“Comentando este capítulo, escreveram os eruditos e
fundamentalistas Jamieson, Fausset, na Brown: ‘A lei moral do dez mandamentos,
sendo escritas pelo dedo de Deus, é tão obrigatória agora como sempre o foi;
mas ainda sob o evangelho com espírito de amor, do que sob a letra de uma
obediência servil; agora com espiritualidade muito mais intensa e mais profunda
(S. Mateus 5:17-48;Rom. 13:9)’.
“Portanto, II Coríntios 3 reafirma a vigência da lei!” .
Veja que o Novo Concerto não abole o decálogo. O fato de estarmos na Nova Aliança não termina
com o mandamento de Deus. Veja:
“Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel,
depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis,
também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu
povo”. (Jeremias 31:33).
“Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel,
depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis,
também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão
o meu povo”. (Hebreus 8:10).
Percebeu? No Novo Concerto não guardamos a lei “na letra”,
mas no espírito, ou seja, de coração, interiormente. Na Nova Aliança a lei será
escrita por Deus em nossa mente e coração para obedecermos automaticamente,
através da comunhão com o Criador.
Onde nestes textos vê –se a abolição da lei só porque
estamos na Nova Aliança? Ora, se no Novo Concerto a lei será escrita no
‘coração e na mente’, como pode ser anulada? O Novo Concerto reafirma a lei de
Deus; põe a lei de Deus em uma nova perspectiva, que não é a de salvar mas sim
direcionar a vida do crente para que se afaste do pecado e torne para Deus. Na
Nova Aliança a lei brota do coração porque foi o Espírito Santo quem a colocou
ali; não é como na Velha Aliança cuja obediência era pela “letra da lei” (e não
interiormente), apenas exteriormente.
“Um estudo cuidadoso de ambos os concertos revela que a
diferença entre eles não estava na lei, mas sim em como a humanidade se
relacionava com a lei... A lei foi escrita em tábuas de pedra durante o antigo
concerto. Sob os termos do novo concerto, está escrita no coração. Em Hebreus
8:10, Paulo usa as palavras de Jeremias para o novo concerto, explicando que
agora a lei está escrita, não em pedras, mas “porei a minha lei no seu
interior, e a escreverei no seu coração”. Ele não aboliu a lei, nem a modificou.
Ele a escreveu nas mentes daqueles que O seguem”.
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