“Não é o que Entra Pela Boca o que Contamina o Homem” (verso
11).
Não é necessário ser um perito em exegese bíblica para
perceber que Cristo está a referir-Se aqui não à contaminação física e sim à
contaminação espiritual do homem. Se realmente pudéssemos ingerir qualquer
coisa, sem que isso prejudicasse o nosso organismo, então não haveria necessidade
de conhecermos os princípios básicos de nutrição e higiene, de procurarmos
consumir apenas os alimentos da melhor qualidade e de advertirmos os jovens a
respeito dos malefícios das drogas.
Para compreendermos a declaração de Mateus 15:11, precisamos
levar em consideração o fato de que ela foi proferida por Cristo em resposta à
acusação dos “fariseus e escribas”, de que os discípulos transgrediam “a
tradição dos anciãos”, ao comerem sem antes lavar as mãos (versos 1 e 2). Esse
ato de lavar ritualmente as mãos não era motivado por razões de higiene, mas
para evitar a contaminação religiosa. Mesmo destituído de qualquer
fundamentação bíblica, o rito era considerado pelos fariseus tão normativo como
a própria lei mosaica.
Tentando romper com essa tradição infundada, Cristo declarou
que a contaminação religiosa do ser humano não reside na prática de ritos
exteriores, mas na degradação interior do coração que se manifesta
exteriormente. Ele esclarece: “Porque do coração procedem maus desígnios,
homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfémias.
São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o
contamina” (Mat. 15:19 e 20; ver também 23:1-39). Em outras palavras, Cristo
deixou claro “que o mal que sai da boca é muito maior do que qualquer mal que
possa entrar nela quando se come alimento ritualmente impuro” (R.V. G. Tasker).
O mesmo incidente de Mateus 15:1-20 é também registado em
Marcos 7:1-23, com o acréscimo das palavras: “E, assim, considerou ele puros
todos os alimentos” (verso 19). É importante notarmos que, mesmo nesta
afirmação, Cristo não está dizendo que todas as coisas, quer animais ou
vegetais, são puras e apropriadas para a alimentação. O que o texto enfatiza é
simplesmente o fato de que todas as coisas divinamente criadas com o propósito
de servirem como alimento aos seres humanos são apropriadas, independente da
falsa contaminação a elas atribuídas pelas tradições farisaicas sobre o lavar
ritual das mãos antes das refeições.
Fonte: Sinais dos Tempos, maio de 1998, p. 29
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