O livro “Seja Deus Verdadeiro” – título que não casa com o conteúdo contraditório – traz às páginas 174 e 175 o dogma da cosmogonia jeovista, segundo a qual o nosso mundo foi criado em 42.000 anos, ou seis dias de 7 mil anos cada um. Desta forma, o sétimo dia, o “descanso” de Deus, segundo eles , ainda está transcorrendo, acha-se em pleno exercício, pois, tendo começado em Gén. 2:2, está agora completando 6.000 anos. E os últimos 1.000 anos deste “descanso” começarão logo com o Armagedom, iniciando-se o reino milenar de Cristo, com Satanás amarrado, etc. imaginação não lhes falta.
Em que base assenta esta fantasia? Simplesmente no facto de ter Deus cessado a Criação no “sétimo dia”. E, num rasgo de genialidade, concluem: este “sétimo” leva-nos à conclusão de que cada “dia” deve ter durado “sete mil” anos! Não é sensacional! Procuram buscar reforço para esta mirabolante interpretação no argumento de que em Gén. 2:4, por exemplo, a palavra “dia” significa mais do que um período de 24 horas.
Vamos esclarecer este absurdo. O “argumento” é por demais velho e poluído, de tão usado pelos evolucionistas e modernistas religiosos de todos os matizes. É a velhíssima história da palavra yom (dia) ter no hebraico um sentido elástico. Concordamos. No entanto, vamos estudar o assunto em profundidade.
Antes, porém, de prosseguirmos, convém dizer que a hipótese jeovista, do “dia” criativo com duração de sete milénios, não veio assim como uma revelação indiscutível, líquida, intocável. Surgiu como coisa admissível, razoável. Só há alguns anos a seita a admitiu como dogma.
Leio no livro “Criação”, da autoria de Rutherford, edição de 1923 (quando o nome da seita ainda era “Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia) à página 27, o seguinte: “Desde que o Senhor dividiu os períodos da Criação em sete, É RAZOÁVEL admitir que este fossem de igual duração.”
Ora, isto não é evidência, nem prova. É uma afirmação inteiramente livre, temerária e fantasiosa, sem o apoio de um “Assim diz o Senhor”. Perguntamos honestamente: Que relação podem ter os sete períodos, com a sua hipotética duração? Que identidade lógica pode haver? Com tal método, pode-se afirmar livremente que o “dia” tanto pode ter 7 mil anos, como sete milhões de anos sem que se incorra em incoerência! Notemos, sobretudo, a insegurança contida na expressão: “É Razoável…”.
Num outro livro publicado ainda apela Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia, em 1943, denominado “A Verdade Vos Tornará Livres” voltam ao assunto à página 58, com estas palavra tíbias e incertas: “Por conseguinte, este grande dia de descanso do Criador para com a terra PARECE SER de cerca de sete mil anos de duração. Sendo de tal duração este sétimo dia, É RAZOÁVEL concluir que os seis dias de trabalho precedentes eram cada qual da mesma duração.”
Também aqui o “Juiz” (Rutherford), inseguro e vago, sem convicção e sem certeza, usa as expressões “parece ser “ e “é razoável concluir” – que lhe tiram toda a autoridade de “doutrina”.
Feitos estes reparos, passemos directo ao assunto:
1. Em primeiro lugar, e para abrir a nossa argumentação, convém denunciar a incoerência hermenêutica em tomar um numeral ordinal (sétimo) para o transformar em cardinal (sete). Isto esboroa todo o princípio estabelecido e consagrado em exegese. Isto, na terra do bom senso e da lógica, destrói a pretensão jeovista.
2. Quem invoca as línguas originais da Bíblia em abono de uma tese terá que arcar com todas as implicações válidas e comprovados que elas encerram. Um estudo imparcial e acurado dos manuscritos hebraicos revela este facto surpreendente: em todos os casos em que a palavra yom (dia) é acompanhada de um numeral ordinal, o sentido é infalivelmente o de um dia de 24 horas. É só verificar os textos sagrados. Ver-se-á que este é o sentido quando a Bíblia diz “ o segundo yom da festa”, “o terceiro yom da jornada”, “o décimo sétimo yom do mês”, e assim por diante. Ora, esta regra aplica-se aos versículos da Criação, nos quais se verifica a existência do numeral ordinal junto destes períodos de tempo. Lemos: por exemplo, “o primeiro dia” (Gén. 1:5), “o segundo dia” (v.8), “o terceiro yom” (v.13), “o sexto yom” (v.31), e assim por diante. Isto prova, sem sombra de dúvida, que, neste registo, os dias eram solares, de 24 horas, e nunca longos períodos de tempo, ou 7.000 anos.
3. Num assunto como este, não é de desprezar o testemunho dos grandes lexicógrafos hebraicos, entre os quais apontamos Buhl, Koening, Brown, Driver e Briggs, todos unânimes em afirmar que os dias mencionados em Génesis 1 são dia de 24 horas.
August Dillmann, na sua festejada obra “Die Génesis”, tem estas palavras sobre a Criação: “As razões desenvolvidas por escritores antigos e modernos no esforço de interpretarem estes dias como longos períodos de temos são inconsistentes.”
Outro estudioso desinteressado de apologia sobre o assunto, John Skinner, no seu conhecido trado “International Critical Commentary”, Vol. 1, página 21, na secção Génesis, diz: “As interpretações de yom como significado aeon – recurso favorito dos que querem harmonizar a ciência com a Revelação – opõem-se ao sentido claro da passagem e não tem nenhum abono do emprego gramatical do hebraico”.
Portanto não há porque inventar-se um prolongamento de tempo indefinido ou mesmo de 7.000 anos, quando o “dia” é inequivocamente solar!
4. Os últimos três dias da Criação foram, inquestionavelmente, controlados pelo Sol, que surgiu no quarto dia. Pois bem, estes últimos dias são referidos, no texto, exactamente nos mesmos termos dos dias anteriores. E o Sol só pode demarcar dias de 24 horas. Nunca uma extensão de 7.000 anos.
5. A própria redacção da narrativa, no original, indica um espaço limitado de tempo, a rapidez da Criação, a momentaneidade dos factos. Senão vejamos:
a) No caso da luz, por exemplo, há um fortíssimo imperativo do verbo hebraico hayah (ser, tornar-se). “Faça-se a luz!” Este “faça-se” não contempla delongas. “E a luz se fez”. Também nesta última frase, é obrigatório sentido de instantaneidade, e não de uma demora de 7.000 anos. Não teria cabimento a luz demorar tão longo tempo para se fazer, para surgir, para brilhar. Onde fica o pode de Deus? O relato indica que houve execução imediata segundo a ordem do Senhor.
b) Outro exemplo do forte imperativo hebraico ocorre em relação ao terceiro dia. Lemos em Génesis 1:11: “Produza a terra a relva…!” No original está literalmente “Terra, nasça, renovos!” Da`sha, significa: faça brotar agora! E o registo indica que imediatamente a terra produziu. E as plantas yatsá (saíram).
c) O mesmo ocorre no versículo 20. “Povoem-se as águas de enxames…” No original está: “Água, enxameia enxames!” De novo o vigoroso imperativo hebraico aí está para desmentir o castelo de cartas dos jeovistas, evolucionistas e modernistas!!! E o que mais admira é eles que tanto alardeiam basear-se nas línguas originais da Bíblia, coando mosquitos aqui e ali, engulam sapos tão volumosos e indigestos como este!
d) O fraseado hebraico de Génesis 1 é confirmado, de modo inequívoco, em Salmo 33:9, onde referindo-se à Criação, se lê: “Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou e tudo passou a existir”. Esta linguagem é totalmente inadequada para longos períodos de tempo, pois o que ela diz é que tudo se concretizou imediatamente.
A conclusão é fatal: os dias da Criação foram dias solares.
e) Diz a Bíblia, na sua linguagem cristalina, que houve “tarde” e “manhã” em cada dia da Criação. No hebraico, manhã é a parte clara do dia propriamente dito, ao passo que a “tarde” é a parte escura, nocturna. Se num único dia houve tarde e manhã, então, a hipótese jeovista levar-nos-ia fatalmente a admitir que essas 24 horas tiveram uma extensão ininterrupta correspondente a um tempo longuíssimo de 7.000 anos, sendo 3.500 anos de parte clara, e 3.500 de uma noite interminável. Isto não tem sentido. Imagine-se o Sol com a sua intensidade durante um espaço de 3.500 anos! Teria queimado tudo. Ou então, se começou pelas 3.500 noites, o mundo vegetal teria perecido na escuridão.
Afirmar, por outro lado, que os 7.000 anos do “dia” da Criação não eram um só período, mas compunham-se de dois milhões d quinhentos e vinte mil dias literais, complica ainda mais a questão, e não honra a inteligência dos jeovistas!
6. o facto de as plantas, a relva, a forragem terem surgido no terceiro dia, e continuaram a viver nos dias subsequentes da Criação, sendo de alimento para os animais, comprova que este dias eram de sem dúvida dias solares. Primeiro porque no dia imediato surgiu o Sol; segundo porque os animais criados no quinto e sexto dias precisavam de vegetação para sobreviverem.
7. O homem foi criado no sexto dia, dia que na concepção dos jeovistas teve a duração de 7.000 anos. Pediríamos que os amigos nos esclarecessem estes pontos:
1º) Se Adão nasceu no sexto dia, e viveu 930 anos segundo a Bíblia, viveu-os dentro do período dos 7.000 anos que durou o “dia”, o sexto? Se foi assim, como pode a Bíblia relatar factos da vida de Adão depois do Sábado (sétimo dia), e anos posteriores?
2º) Se o “sábado da Criação”, o sétimo dia dela ainda está em pleno decorrer, segundo a ideia jeovista, pois ainda faltam mais de mil anos para terminar, então logicamente Adão ainda está a viver. Onde estará ele? Porque razão a Bíblia diz que ele viveu depois do sábado. Se o “sábado” não acabou, os acontecimentos posteriores ainda não se deram, nem a queda, nem nasceram os filhos de Adão, nem se formou a humanidade! Porque razão a Bíblia diz que ele viveu depois do sábado. Se o “sábado” não acabou, os acontecimentos posteriores ainda não se deram, nem a queda, nem nasceram os filhos de Adão, nem se formo a humanidade!
8. No mesmo livro “Seja Deus Verdadeiro”, há um capítulo intitulado “Por que a Evolução Não Pode Ser Verdadeira”, que bem demonstra a insegurança das afirmações doutrinárias das “testemunhas”. Ali fazem pesada carga contra o evolucionismo. Combatem a chamada “selecção natural das espécies”, e dizem que todas as raças provieram de um casal original. E para justificarem a argumentação neste ponto, na página 81, escrevem textualmente: “A Geologia mostra que as formas complexas de vida apareceram subitamente numa grande variedade de famílias, como seria o caso da Criação”. Se confessam que as formas de vida surgiram subitamente na Criação, então como harmonizar esta declaração com a outra declaração de que cada “dia” da Criação teve a duração de 7.000 anos? Isto em bom português chama-se contradição!
9. Outra questão importante. O mandamento do sábado, que subtilmente a ele ser refere como um dia solar de 24 horas, reporta-se à Criação. “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, e ao sétimo descansou.” Não tem lógica, seria mesmo absurdo guardar um dia de 24 horas como memorial de seis dias de 7.000 anos. Notemos especialmente que em Lev. 23:32 se diz que o sábado devia ser guardado “duma tarde a outra tarde”. E ali se emprega a mesma palavra hebraica usada em Génesis 1 para “tarde” em cada dia da Criação.
Conclui-se que a teoria sem cabimento da Criação em 42.000 anos é mais uma fantasia entre as tantas outras que constituem a dogmática ou engenharia religiosa desta seita.
“Pela fé entendemos que foi o universo formado pela Palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aprecem.” Hebreus 11.3.
Graças a Deus que é assim!
1 comentário:
Não conhecia todas essas evidências. A mensagem é muito interessante... mas penso que na mensagem a verdade que é apresentada é claramente específica e penso que não há necessidade de acrescentarmos palavras fortes como fantasia, seita (embora contenha a sua quantidade de verdade).
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