15/06/11

A LEI E AS LEIS NA EPÍSTOLA AOS ROMANOS

Romanos 4:15 e 5:13 - “Porque a Lei suscita a ira; mas onde não há Lei, também não há transgressão.” – “Porque até ao regime da Lei havia pecado, mas o pecado não é levado em conta quando não há Lei.”
Aqueles que pregam que, a Lei de Deus foi abolida, forçosamente também terão de crer que não existe pecado, e se assim é, todos são justos, e todos se salvarão, creiam ou não em Cristo, tenham ou não nascido de novo. Sim, porque Deus não pode condenar nem destruir aqueles que não pecaram. Aceitando-se que a Lei Moral foi abolida por Cristo, não há mais necessidade de fé e muito menos angustiar-se por causa da perdição eterna, em chamas crepitantes.
Romanos 7:6 - “Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra.”
“Livres da Lei” - Por quê? Simples. Antes, porém, se você achar que esse “livre” é para fazer o que bem entende, isente Paulo primeiro. A transgressão da Lei é pecado (I João 3:4). Disso Paulo não deixa dúvidas. Diz ele: “…mas o pecado não é levado em conta quando não há Lei.” (Romanos 5:13). Guardando os mandamentos da Lei de Deus, não estaremos sob sua condenação, mas “estaremos livres” de sua penalidade. Não livres da Lei. Veja bem, o porque:
A Lei é espiritual. Paulo afirmou em Romanos 7:14. O homem carnal não é sujeito à Lei de Deus. O homem carnal transgride a Lei inopinadamente, porque é carnal. Este homem rouba e a Lei diz: “Não furtarás”. Quando porém este homem se converte, deixa de roubar; passa da esfera carnal para a espiritual, que é a própria esfera da Lei, e então ela deixa de acusá-lo de roubo. Todavia (não esperamos), se um dia esse homem voltar a roubar, novamente a Lei tornará a acusá-lo: “Não furtarás”… então, entende como a Lei não perde o valor quando o homem se converte? Ela simplesmente não terá domínio sobre ele, não o acusará por todo o tempo enquanto com ela viver em obediência, está pessoa estará “livre da lei”.
Romanos 7:7 - “Que diremos, pois? É a Lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão pela Lei; porque eu não conhecia a cobiça, se a Lei não dissesse: Não cobiçarás”.
Paulo chama uma lei de maldita (Gálatas 3:10); logicamente esta que menciona agora em Romanos 7:7, realçando surpreso: “De modo nenhum!”, não pode ser a mesma. Vamos então descobrir qual é ela. Na sua Bíblia, depois dos dois pontinhos que antecedem as palavras “não cobiçaras” (Romanos 7:7), há o número 8, “bem miudinho”. Vá ao rodapé da Bíblia (referência) e ela o conduzirá até Êxodo 20:17, que é a Lei Moral, o Decálogo. Nunca foi difícil mesmo em meio à profunda dialética paulina descobrir que ele exaltava a Lei Moral, mesmo porque, ensinava que, sem sua vigência atuante não poderia existir o pecado. O “pecado é a força da lei” ou seja: existe porque a lei o aponta e o revela.
Hoje, porém, há pessoas que chegam ao grande erro de dizer que a Lei Moral foi pregada na cruz, que estamos sob maldição e que adoramos um Deus morto (tudo isso já nos disseram, portanto é experiência própria). Mas, para Paulo não é assim, “de modo nenhum!”, enfatiza Paulo. Ele só se apercebeu da malignidade do pecado quando se espelhou na Lei de Deus. Diante dela, esta, o acusou de cobiça.
Por outro lado, quando Paulo era carnal (isto é, antes de sua conversão), cobiçava, matava (tinha carta de autorização para isso), praticava atos de judiaria com crentes, e sua consciência não lhe doía; participou da morte de Estevão e tudo era-lhe normal. Mas agora, Saulo é Paulo, o ímpio é cristão, o carnal é espiritual, e assim descobriu ele o verdadeiro valor da Lei, e no poder de Cristo a ela obedeceu enquanto teve fôlego de vida.
Mais três textos claros definem, se houver dúvidas, que a Lei é imprescindível na dispensação cristã para que possamos apresentar ao mundo que o pecado ainda impera, e, portanto, há necessidade do Salvador Jesus.
• Romanos 3:19 e 20: “… porque pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.”
• Romanos 4:15: “… mas onde não há lei, também não há transgressão.”
• Romanos 5:13: “… mas o pecado não é levado em conta não havendo lei.”
É bastante claro o ensino de Paulo. Ele não tem dúvida. A Lei permanece em vigor, enquanto existir pecado. Quando porém este chegar ao fim, a vigência da Lei cessa.
Romanos 7:8 - “Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda a sorte de concupiscência; porque, sem Lei, está morto o pecado.“
O apóstolo Paulo descobriu e ensinou que não teria conhecido o pecado se não fosse a Lei (Romanos 7:7). Disse que o pecado não teria valor, estaria morto, se não existisse a Lei (Romanos 5:13). A Lei lhe revelou a hediondez do pecado; por isso afirmou: “… o pecado reviveu e eu morri.” (Romanos 7:9). Mas Paulo não permaneceu morto. Observando a Lei, o pecado desapareceu, ele reviveu para uma vida nova, e quem “morreu” agora foi o pecado, enquanto ele vivia em obediência, livre da penalidade da Lei.
Romanos 10:4 - “Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê”.
Este texto, se for lido com o espírito de quem certa ocasião o leu para nós, tentando provar que ele cancelava por completo a Lei Moral, que fora abolida na cruz, e que quem a observa é maldito, e outros “mitos”, certamente estará do lado do erro.
Se o termo “f im”, que é proveniente da palavra grega telos, empregado aqui neste texto, ter como querem, o sentido de “término”, “encerramento”, “abolição”, então o mesmo peso e a mesma medida terão que ser aplicados em I Pedro 1:9: “Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.” Ora o sentido é o mesmo, mas você jamais irá crer e aceitar o término, abolição e encerramento da fé do crente! Será que, assim, pode ele esperar a salvação de sua “alma”? A palavra “fim”, aqui empregada, tem o sentido de finalidade, objetivo, propósito. Os chefes e executivos podem auxiliar o seu entendimento, porque estão acostumados a redigir cartas neste teor; observe:
“Esta tem o fim (objetivo) de informar a V. Sas. que o carregamento de matéria-prima ficou retido no cais…”
Com o fim (propósito) de convidá-los para inauguração da nova sede, enviamo-lhes estes convites…”
Aliás, com este termo “fim”, não como término de alguma coisa, mas como objetivo, concordam os grandes teólogos cristãos, sinceros em sua religião, que não têm idéias preconcebidas.
Imagine você, se aceitarmos que este fim aí cancelou a Lei de Deus; todo o ensinamento que Paulo deixou sobre essa Lei, que está em vigor e que foram provadas com inúmeras Escrituras aqui estudada; será abolida. E sendo assim, deveremos também apoiar a macabra idéia de que chegou ao “fim” a obrigação de temer a Deus. Ouça o que diz o pregador: “De tudo o que se tem ouvido o fim é: teme a Deus e guarda os Seus Mandamentos…” (Eclesiastes 12:13). Só porque este fim está aí, iremos deixar de temer a Deus?
Romanos 14:5 - “Um faz diferença entre DIA e DIA, mas outro julga IGUAIS todos os DIAS…”
A Epístola aos Romanos além de ser um hino de exaltação à Lei Moral é também, por excelência, um doutrinal de justificação pela fé. E aqui, da mesma forma que se nota nas outras cartas paulinas, “os judaizantes” não lhe davam tréguas. No capítulo 14 desta Epístola, vemos suas garras sendo estendidas solertemente a fim de injetar a heresia da justificação pelas obras da Lei Cerimonial. Entretanto, abriremos os olhos para alcançar de forma clara o que Paulo diz neste capítulo para desanuviar a confusão gerada nos leitores atuais desta Epístola que pensam ter sido cancelado o sábado.
A pessoa sincera, que ainda não entendeu a santidade do quarto mandamento da Lei de Deus, pensa que neste texto Paulo o menospreza. Não, não é assim! O primeiro passo a dar para desvendar o assunto é descobrirmos de que DIA trata. Convém lembrar que este problema também ocorreu com os gálatas, e Paulo assim os repreendeu:
• “Guardais dias, e meses, e tempos, e ano s.” (Gálatas 4:10) – E também se deu com os crentes de Colossos:
• “Portanto, ninguém vos julgue… por causa dos dias de festa, ou da Lua Nova, ou dos sábados.” (Colossenses 2:16).
Especificamente, neste texto, Paulo extravasa o assunto de maneira muito clara e abrangente assegurando que a exigência dos judaizantes em todos os lugares onde se infiltrassem era mesma: guardar dias, meses, tempos, Luas Novas, que eram festividades pertencentes ao ciclo cerimonial. Veja também em Guiados Para Vencer I: Comparando a Lei Moral e a Lei Cerimonial.
Portanto o – DIA e DIAS – de Romanos 14:5, é o próprio de Gálatas, e também o mesmo dos Colossenses, que não é outra coisa senão as festas judaicas que compunha a Lei Cerimonial. Estes festivais obedeciam a um calendário anual e quando chegavam, o DIA era considerado sábado e revestido de toda a santidade conferida ao sábado do sétimo dia da semana. Estas cerimônias foram exigidas antes da morte de Cristo porque eram sombras de Cristo (Colossenses 2:17). Vindo Ele, acabou. A insistência dos judaizantes ao reviver tais festas era a pura recusa às doutrinas Cristocêntricas apresentadas por Paulo.
Como se vê, em tudo isso nada há contra o Sábado do sétimo dia da semana, que, como um mandamento da santa Lei de Deus, permanece como sinal entre Jeová e os Seus obedientes filhos (Ezequiel 20:20). Ainda que o Sábado tenha emprestado seu nome aos festivais cerimoniais nada tem a ver com eles. Lamentavelmente, o sábado semanal permanece hoje como o grande mandamento esquecido.
• Por ocasião destes incidentes, todos guardavam o sábado (Atos 15:21).
O próprio Paulo o guardou em todas as suas viagens e estabelecimento de igrejas. Os apóstolos e discípulos guardavam o sábado. [Mateus 28:1; Marcos 15:42; Marcos 16:1; Lucas 23:54 a 56; Atos 13:14 e 27; Atos 13:42 e 44; Atos 17:2; Atos 18:1 a 4]. Paulo escreveu a Epístola aos Romanos no ano 58 d.C.
Jesus antes de morrer (31 d.C.) advertiu os discípulos que não transgredissem o Sábado (Mateus 24:20), quando da destruição de Jerusalém, pelos romanos, que se daria em 70 d.C. (Portanto, 12 anos depois que Paulo escreveu aos romanos, o Sábado era guardado pelos seguidores de Cristo). Daí a conclusão coerente de que Paulo está a referir-se aos DIAS (sábados cerimoniais) e nunca ao Sábado semanal, no capítulo 14 de Romanos.
• Tito 3:9 - “Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates sobre a lei, porque são coisas inúteis e vãs.”
• I Timóteo 1:4 - “Nem se dêem a fábulas, ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificações de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora”.
Paulo encontrou sempre acérrimos judaizantes no seu caminho, preocupados em promover debates acerca do ritualismo e fábulas judaicas. Estes dois textos dizem bem a preocupação do apóstolo em preservar o seu rebanho de uma lei abolida no Calvário (Lei Cerimonial) que tais contendores desejavam acirradamente colocar em uso, em todos os lugares.
Quanto à lei aí focada, você não deve confundir com a Lei de Deus cujos mandamentos são o selo moral. Efetivamente: não matar – não roubar – não adulterar – não ter outros deuses, não são futilidades, muitos menos coisas vãs, concorda?
José Carlos Costa, pastor

2 comentários:

DBS disse...

Observo que a relevância que se dá à Lei, entre os adventistas, tem uma razão de ser: a guarda do sábado. Entretanto, qualquer pessoa que esteja familiarizada com o que o era a Lei para os judeus dos tempos de Jesus e de Paulo, por exemplo, sabe que “lei” para eles não se restringia ao decálogo, nem mandamentos eram sinônimo dele.
Lamentavelmente, numa leitura forçada, o dizer de Jesus: “não penseis que vim abolir a Lei ou os profetas. Não vim revogar, mas cumprir” (Mt 5,17) é interpretado à luz do que um adventista entende por “Lei”. Quando, na verdade, qualquer judeu do tempo de Jesus, entendia perfeitamente o que Ele queria dizer por “lei e profetas”, isto é, a Torah (lei) e os livros de Nebim (Profetas) - Hebraismo que significa “Escrituras”. De fato, Jesus não veio abolir a Torah e os Profetas, mas cumprir o que neles estava escrito. Assim entendeu Natanael, quando disse: “Encontramos aquele de quem falou Moisés, na LEI, e os PROFETAS” (Jo 1,45).
Como o próprio Jesus disso: nenhum jota ou til se omitira da Lei, sem que tudo fosse cumprido (Mt 5,18). Por isso, explicando a Lei (livros atribuídos a Moises ) e o Profetas, provou para os discípulos que seguiam para Emaus, que tudo sobre o Messias se cumpriu: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras” (Lc 24,27).
“Lei” era uma das três divisões didáticas da escritura hebraica: Lei, Profetas e Escritos. Porém, mesmo livros que não se enquadravam na Lei, eram chamados genericamente de “lei”. Jesus, por exemplo, chamou os Salmos de “Lei” em Jo 10,34: “Não está escrito na vossa Lei: Eu disse: sois deuses?” – referindo-se ao Salmo 82,6. Ainda, quando em Jo 15,25, referindo-se também aos Salmos, diz: “para que se cumpra a palavra escrita na sua Lei: “odiaram-me sem motivo” (referência ao Sl 35,19).
Jesus não aboliu a Lei, nem os Profetas, porque cumpriu o que nela estava escrito sobre o Messias (Jo 1,45). Por isso mesmo, ele diz: “Porque todos os PROFETAS e a LEI profetizaram até João” (Mt 11,3). Visto que, após João, o esperado veio para cumprir essa “Lei” e os “Profetas”. E João Batista é o Elias que o precedeu (Mt 11,4).
Trambém, um judeu não entendia “mandamento” (mitzvot) como referência apenas a algum preceito do decálogo. Nem mandamentos (mitzvah ) como referência apenas ao Decálogo. Por isso mesmo, Jesus sem erro, aponta como os mais importantes mandamentos, dois que não constavam nas tabuas de pedra, mas no livro da Lei (Confira Mt 22, 36-40), do qual depende toda a Lei e os Profetas, isto é, as ESCRITURAS. Pois, nem Jesus, nem Paulo, quando se referiam à Lei elevavam o decálogo acima das demais.
A tese de Paulo, por exemplo é: a lei estimulou o pecado: “eu não conheci o pecado, senão pela Lei; porque eu não conheceria a concupsiência se a Lei não dissesse: “não cobiçarás” (10º mandamento). “Mas o pecado, aproveitando-se da situação, através do preceito gerou em mim toda a espécie de concupsciência” (Rm 7,8) – Neste sentido, a LEI FEZ VIVER o pecado, pois “sem a Lei o pecado está morto” (Rm 7,8). Há então um contraste: o pecado passa a viver, e o homem a morrer – visto que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6,23).

DBS disse...

Sobre o comentário anterior, apenas esclareço que "Lei", primeiramente é referência à Torah. No caso da Carta aos Romanos, Paulo rebate não a Torah, mas a postura de cristãos vindos do judaismo que ansiavam por circuncidar cristãos vindos do paganismo, para que esses observassem a Lei (códigos legais contidos na Torah), como forma de evitar o pecado. Porém,Paulo mostra que a lei dos códigos não evitou, mas estimulou o pecado. Por isso, citou o décimo mandamento:"não cobiçarás", para provar que,por ele despertou-se a cobiça (Rm 7,8).
Assim, valendo-se de um recurso de retórica, Paulo cria um "eu", figura do pensamento judaizante. e Continua: "Outrora eu VIVIA sem Lei, mas sobrevindo o preceito, o pecado REVIVEU e eu MORRI” (Rm 7,9). Mais ainda: essa Lei que era para vida, tornou-se para morte – não por intenção, mas por conseqüência (exemplo contextual: não cobiçarás – resultado: cobiça (Entãpecado-morte), e por isso essa lei, no dizer de Paulo,“mata”. O que justifica a pergunta: “Uma coisa boa se tornou em morte para mim?… foi o pecado” (Rm 7,13) – Isto é, esse “eu” que fala – figura do pensamento judaizante – não consegue entender como uma coisa para a vida gera condenação.
Assim, esse “eu” desenvolve uma consciência que o faz entrar numa CRISE: “A Lei é santa, e santo, justo e bom é o preceito” (Rm 7,12). “A Lei é espiritual, mas eu carnal, vendido como escravo ao pecado” (Rm 7,14). Já que constata: a Lei diz “não cobiçarás”, mas ele cobiça – num gosto pelo proibido. E no ápice da crise, a inevitável conclusão desse “eu” é: não pratico o bem que quero, mas o mal que detesto” (Rm 7,15). E, vendo-se inveterado pecador chega a outra conclusão: “se faço o que não quero reconheço que a Lei é Boa” (Rm 7,16) – Assim, demonstra que o sentimento de culpa é a conseqüência, típico de quem “se compraz na Lei”.
A lógica de Paulo é: sob o regime da Lei, quando se faz o mal que não se quer (o pecado), reconhece-se que a Lei é Santa, mas o homem não o consegue ser: “Ora, se faço o que não quero, reconheço que a lei é boa” (Rm 7,16).