O Perigo quando se participa «Indignamente» da Santa Ceia, não discernindo o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, nos elementos que a eles simbolizam: Disse o apóstolo Paulo: «Pois quem come e bebe, sem discernir o corpo [de Jesus], come e bebe juízo para si...» (1 Cor 11.29). A palavra «...discernir...» é tradução do vocábulo grego diakrino, que significa «julgar corretamente» a seriedade do rito, porquanto abusar desse símbolo significa abusar da realidade simbolizada.
O que estava a ocorrer com a Igreja de Corinto era a mistura das coisas sagradas com as profanas ou seja, não havia diferença entre o alimento quotidiano e o que tinha sido posto à parte com o exclusivo objectivo de recordar-lhes a morte expiatória de Cristo. Com este gesto participavam da Ceia do Senhor Jesus «indignamente», como se ela não tivesse qualquer relação com o Corpo e o Sangue de Cristo.
Veja a correção de Paulo aos coríntios, com relação aos seus comportamentos diante da Mesa do Senhor Jesus; «não podeis beber o cálice do Senhor [Jesus] e o cálice dos demónios; não podeis ser participantes da Mesa do Senhor [Jesus] e da mesa dos demónios» (1 Cor 10.21). O crente não pode fazer tal coisa devido ao seu conhecimento da natureza da idolatria, não é impedimento de ordem física mas moral. Os que estão consagrados ao verdadeiro Deus, como poderiam das libações oferecidas a Satanás e aos seus anjos?
Não compreendiam o zelo do Deus Vivo (Êx 20.5; Deut 4.24; Jos 24.19, 1 Cor 10.22) e a gravidade da transigência com o mundo. O próprio Cristo falou deste erro fatal; «Ninguém pode servir dois senhores» (Mat 6.24). A Santa Ceia é uma cerimónia de índole sagrada e, quem participa dela «indignamente», peca terrivelmente contra o Senhor Jesus. Comer e beber indignamente não é comer «sendo indigno», como alguns entendem, pois verdadeiramente digno ninguém era, mas «indignamente» refere-se à maneira e ao espírito de quem participa, isto é, participar da Mesa do Senhor Jesus com um espírito indiferente, egocêntrico e irreverente, com ódio no coração contra outro irmão, sem qualquer intenção ou desejo de abandonar os pecados conhecidos e de aceitar o concerto da graça com todas as suas promessas e deveres. Todos nós precisamos evitar estes maus comportamentos e conceitos pecaminosos para que não sejamos reprovados por Jesus (João 12.48).
Paulo acusa com veemência muitos cristãos de Corinto, dizendo que eles estavam a ser «culpados do Corpo e do Sangue de Cristo», porque tomavam parte na Ceia indignamente, como se ela não tivesse nenhuma relação com a morte de Cristo e com o Seu Corpo oferecido em sacrifício vicário (João 3.16). Paulo relaciona aos coríntios os resultados funestos que muitos haviam adquiridos, por não discernir o Corpo e Sangue de Cristo, pois participavam da Santa Ceia indignamente, veja a seguir:
1) Responsabilidade pela Morte de Cristo: «...Será culpado do corpo e do sangue do Senhor...» (1 Cor 11.27): O termo grego traduzido por «...culpado...» é enochos, que significa «passível», «responsável por», «culpado». Esse termo, vinculado à palavra morte, significa «digno de morte», envolvendo alguém que fez algo que merece a punição capital. Porém, isoladamente, esse termo pode significar «culpado de um crime». Portanto, está aqui em foco uma «culpa» associada ao Corpo de Cristo. Neste caso a pessoa torna-se culpada por participar de um gravíssimo crime, ou seja, na causa da crucificação de Cristo. Significando que a pessoa é considerada responsável pela Sua morte. Ou ainda, isso torna o indivíduo culpado de «violar» ou de «pecar contra» o corpo e o sangue de Cristo. Pois, não fez diferença entre o sagrado e o profano. Sendo assim, o indivíduo será julgado (vss. 31,32). O versículo em foco mostra-nos o quanto a Santa Ceia tem um sentido tão solene. Por isso, devemos ter muito cuidado para não participarmos dela indignamente.
2) Responsabilidade pela própria condenação: «...Come e bebe juízo para si...» (1 Cor 11.29): «...juízo...», nesse caso, significa «julgamento», no grego, «krima», o qual aqui está em foco uma «punição» ou «penalidade». Ninguém é obrigado participar do pão e do cálice do Senhor Jesus indignamente, mas é preciso estar consciente, que ao participar deste ato irreverentemente, com um espírito indiferente, é expor-se imediatamente ao desagrado de Deus e a um castigo como o que se menciona nos versículos 30 e 31.
Fracos; «Por causa disso há entre vós muitos fracos...» (vs. 30a). O Apóstolo lembra os coríntios que a existência de muitos fracos entre eles decorria do mau conceito que tinham da Ceia do Senhor Jesus, pois haviam desprezado o real significado e propósito dela (1 Cor 11.17-22, 27-30). Certamente eles eram «fracos» não somente fisicamente, mas, também moralmente, mentalmente e espiritualmente. Os fracos espirituais são aquelas pessoas inseguras, incrédulas, inconstantes, negligentes ao dever e de ânimo dobre, isto é, servem a dois senhores e por isso vivem na intemperança (1 Reis 18.21; 21.7; 2 Reis 17.33; Osé 6.4; 10.2; Sof 1.4,5; Luc 9.62; 16.13; 1 Cor 10.21; Gál 1.6; 2.11-14; Tiago 1.8; 4.8).
Doentes (vs.30b). Doenças «físicas, morais e espirituais». Estes também ficaram doentes porque não discerniram o Corpo e o Sangue de Cristo nos elementos da Santa Ceia. Participavam dela de qualquer maneira sem fazer caso do seu ato santo. Uma pessoa doente espiritualmente é aquela que perdeu o apetite pela doce Palavra de Deus e apresenta cegueira, surdez, mudez espiritual (Isa 59.10; Jer 5.21; 6.10; Ezeq 12.2; Zac 7.11; Mat 6.23; 15.14; Atos 28.27; 2 Tim 4.4; 2 Ped 1.9; 1 João 2.11; Apoc 3.17). Veja também sobre as doenças físicas (Deut 28.1; 2 Crôn 21.12-15; Sal 107.17,18; Miq 6.13). Mas tudo indica que os coríntios estavam na ocasião «doentes fisicamente», ao qual também não podemos descartar que estavam doentes espiritualmente.
Muitos que dormem (vs.30b). Aqui temos um óbvio eufemismo para a «morte física». O sono espiritual fala da falta de vigilância (Marc 13.33,36; Rom 11.8; 13.11; 1 Tess 5.6; Apoc 16.15), da insensibilidade espiritual (Prov 23.35; Isa 42.25; Efés 4.19). Mas a tradução mais correta da expressão é «muitos que morreram» a invés de «muitos que dormem». Isto explica que muitos em Corinto começaram a enfraquecer, passaram a ficar doentes vindos em seguida a morrerem. Os coríntios haviam sido atingidos por doenças e até pela morte, por causa da sua irreverência para com o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. O castigo divino que havia sobrevindo sobre os coríntios, era de natureza disciplinadora. Visava não somente ajudá-los no desenvolvimento espiritual, mas também impedir o perigo muito maior da perdição e da condenação, juntamente com os perdidos que estão no mundo, fora do reino do Deus Vivo (vs. 32).
Por conseguinte, «não discernir» o corpo de Cristo é menosprezar a sua expiação. Vale lembrar que a palavra «corpo» é usada nos versículos 27 e 29, para indicar a expiação de Cristo, aquilo que foi conseguido com o sofrimento de seu corpo, com o derramamento do seu sangue. Sendo assim, aqueles que profanam o «corpo» de Cristo são aqueles que, de alguma maneira ridicularizam o sentido de sua morte em favor dos homens, de sua missão universal e remidora. Esses insultam a Cristo e são escândalos para a sua cruz. Por isso, o apóstolo Paulo conclama os seus leitores a uma avaliação séria e correta do que essa cerimónia significa; e, deste modo, para que pudessem evitar a profanação da mesma. Assim sendo, o crente em Cristo deve «discernir» corretamente qual é o significado da Ceia do Senhor Jesus, quão sagrada é ela, e quão sagrada ainda é a realidade espiritual que ela representa. E deve agir assim, a fim de evitar a degradação da Ceia do Senhor Jesus. Para celebrar a Santa Ceia de modo que não venhamos correr nenhum risco de sermos culpados pelo Corpo e pelo Sangue de Cristo, é somente obedecer todas as observâncias contidas nesta obra, pois ela foi escrita exatamente para que ninguém venha a participar «indignamente» do pão e do cálice do Senhor Jesus.
Muitos nos dias de hoje dizem que estão discernindo o Corpo e o Sangue de Cristo, mas, são tantos pães (ainda fermentados) na mesa, que é preciso que haja muitos corpos. Iguais aos coríntios, estão hoje às celebrações das Ceias.
Um exemplo de desordem na celebração da Santa Ceia
O testemunho direto concernente a Ceia do Senhor Jesus no N.T. está descrito em cinco trechos (Ma 26.26-29; Marc 14.22-25; Luc 22.15-20; 1 Cor 10.16-25; 11.17-34). Enquanto, que nos evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) é registrado o momento da instituição da Santa Ceia; na carta de Paulo aos coríntios, é relatada a Igreja já na celebração da Santa Ceia. Como as cartas de Paulo aos coríntios (1 e 2 Coríntios) foram escritas antes de Mateus, Marcos e Lucas, portanto, trata-se do primeiro relato sobre a Ceia do Senhor Jesus. É justamente na correção de Paulo aos coríntios é que somos informados e em ensinados a respeito do nosso comportamento e procedimento diante da Mesa do Senhor Jesus. Bem como do juízo iminente, para aqueles que não respeitam o caráter sagrado dela. Ao lermos em 1 Cor 11.17-34, é possível notar com clareza até que ponto pode chegar a Igreja, quando ela perde de vista o seu real objetivo, faltando com a espiritualidade, o discernimento com o Corpo e o Sangue de Cristo, com o desrespeito para com as coisas santas. É claro que, procedimentos desta natureza só podem produzir dissensões, desordens, confusões e ações carnais. Mediante disso, em poucas palavras vamos descrever alguns dos acontecimentos mais notáveis caracterizados pela desordem dos coríntios na Celebração da Santa Ceia.
Nos dias do Novo Testamento, a Santa Ceia de Cristo era celebrada anualmente no decurso de uma refeição tomada em comum, conhecida como Festa de Amor (grego Ágape). Cada um trazia o que podia e compartilhava com os outros, mas não acontecia isso em Corinto. Esta Festa de Amor em Corinto, parece que eclipsara inteiramente a Ceia do Senhor Jesus. Por isso, Paulo declara que suas reuniões estavam sendo realizadas para pior e não para melhor, isto é, suas reuniões estavam sendo cada vez mais degradantes (vs.17) e, que a Ceia deixava de ser do Senhor Jesus, porque estava sendo deturpada (vs.20). Os que traziam alimentos comiam-no com os da sua roda íntima, sem esperar que a congregação se reunisse. Assim, uns tinham fome e outros comiam demais, isto é, os pobres que não podiam trazer refeição, eram desconsiderados e deixados com fome. Imitando as bebedeiras dos pagãos em seus templos, tornavam assim, as suas "Festas de Amor" em ocasião de glutonaria e, assim, estavam também perdendo de vista inteiramente o significado da Santa Ceia (vss. 20,21).
Paulo continua dizendo que, se quisessem realmente comer e beber à vontade, contudo, que fizessem isso em suas casas, mas não nas reuniões de adoração a Jesus Cristo. Pois, assim agindo, demonstravam total desprezo para com a Igreja de Cristo, isto é, sua unidade, seus valores, normas, e sua relação com Cristo como Cabeça e, ainda envergonhando os que nada tinham para comer e beber. Tratava-se de uma desordem tão grave, que Paulo mais uma vez disse-lhes: «Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto certamente não vos louvo (vs.22)». Por isso, ele recorda-lhes brevemente as circunstâncias em que Jesus instituiu a Sua Santa Ceia. Isto os ajudaria a perceber a gravidade de seus erros. Para assegurar a veracidade do assunto, Paulo esclarece a eles que o ensino que lhe fora transmitido, não era uma história fictícia e nem fruto da sua imaginação, mas disse; «Porque eu recebi do Senhor [Jesus] o que também vos ensinei...» (vs.23a). Em seguida ele apresenta um registro cuidadoso de como se iniciou a celebração da Ceia de Jesus, dizendo que ela foi instituída pelo próprio Senhor Jesus Cristo. Depois fala do seu valor, ainda lembra-lhes a sua profunda significação espiritual e o seu caráter sagrado, fazendo compreender a diferença existente entre a Festa de Amor e a Ceia do Senhor Jesus e, do escândalo que o comportamento deles causava (vss. 23-26). Paulo repreende-os contra a participação indigna (vss. 27,29) e, a necessidade de fazer um auto-exame para depois comer do pão e beber do cálice (vs.28), para que não caíssem sob o castigo Divino, porque por isso, muitos na verdade já estavam sendo castigados (vss. 28-30). Paulo finaliza lembrando mais uma vez a Igreja em Corinto, para que tomasse todo cuidado, para que não repetisse os mesmos maus procedimentos diante da Ceia do Senhor Jesus em outras reuniões posteriores; «para que não vos ajunteis para a condenação» (vss. 33,34). Paulo disse ainda que tinha mais coisas a serem passadas, mas que faria isso pessoalmente (vs.34).
ALERTA: As desordens na celebração da Santa Ceia pelos irmãos de Corinto servem de alerta para nós, para que não venhamos a cair nestes mesmos erros; é preciso acima de tudo discernir o Corpo e o Sangue de Cristo nos elementos que a eles simbolizam.
N o t a: A palavra «embriagar» no versículo 21, é no (grego methuo) e tem dois sentidos. Pode referir-se a: a) Ficar bêbado, ou b) Ficar farto ou satisfeito, sem qualquer referência à embriaguez. É justamente o último sentido que se refere o versículo em apreço (1 Cor 6.10).
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