Como explicar o fato da prostituta Raabe ter escondido os espias de Josué, e haver mentido a esse respeito (Js 2), e Deus ainda usar de misericórdia para com ela e seus familiares? (Js 6:22-25)
Somos propensos, muitas vezes, a pensar que Deus, para ser justo, deve restringir a Sua oferta de salvação apenas às pessoas moralmente dignas. Mas a mensagem bíblica, revelada tanto no Antigo Testamento como no Novo, é que a oferta de salvação é extensiva a todos os pecadores. São de Cristo as palavras: “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento” (Lc 5:31 e 32). Em Isaías 1:18 é apresentado o convite: “Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã.”
A experiência da prostituta Raabe é uma das mais belas histórias de salvação pela graça “mediante a fé” (Ef 2:8) encontradas nas páginas do Antigo Testamento. Como Abraão foi justificado pela fé (Gn 15:6; Rm 4), e essa fé se evidenciou na prática de boas obras (Tg 2:21-24), assim também o foi Raabe. Hebreus 11:31 declara que “pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz aos espias”. E Tiago 2:25 acrescenta que a fé dessa mulher foi genuína porque resultou na prática de boas obras.
Mas o fato da vida de Raabe ser poupada, sendo ela uma prostituta e havendo mentido aos emissários do rei de Jericó, não significa que Deus estivesse sancionando tais pecados explicitamente condenados no Decálogo (ver Êx 20:14 e 16). Nesse incidente, Deus manifestou Sua graça salvadora a uma prostituta possuída de uma fé genuína, com o propósito de salvá-la de sua vida de pecado. O mesmo poder regenerador que atuaria na vida da “mulher adúltera”, durante o ministério terrestre de Cristo (Jo 8:1-11), também transformou a vida da prostituta Raabe. E o mesmo amor compassivo que perdoaria as mentiras do pretensioso apóstolo Pedro (Mc 14:27-31; 66-72) também perdoou a mentira de Raabe.
A galeria dos heróis da fé (ver Hb 11), da qual Raabe faz parte (verso 31), não é composta por santos que nunca pecaram, mas por pecadores que pela graça divina alcançaram a vitória sobre os seus pecados. Essa galeria é formada por pessoas que, à semelhança do filho pródigo (Lc 15:11-32), deixaram as imundícies de uma vida de pecado e voltaram à casa paterna; pessoas que estavam mortas em “delitos e pecados” mas que foram regeneradas pela graça divina (Ef 2:1 e 5). Assim como Deus perdoou e regenerou Raabe, Ele também está disposto a perdoar e regenerar a cada um dos demais seres humanos atingidos pelos “dardos inflamados do maligno” (Ef 6:16).
Fonte: Alberto Timm, Sinais dos Tempos, junho de 1999, p. 29.
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