Policarpo é lembrado influente Pai Apostólico e bispo de Esmina no segundo século, que morreu martirizado nas mãos do Império Romano aos oitenta e seis anos (MarPol.9.3), segundo o antigo documento cristão chamado O Martírio de Policarpo. Irineu afirma que o teria ouvido falar quando era ainda criança e o descreve do seguinte modo:
“Eu tenho mias vívida do que ocorreu naquela época do que dos eventos recentes (na medida em que as experiências da infância, acompanhando o crescimento da alma, se tornam incorporadas com ela), de modo que eu consigo descrever o local onde o abençoado Policarpo costumava sentar-se e ensinava – também sua saída e sua entrada – seu modo de vida geral e aparência pessoal, juntamente com os discursos que ele fez ao povo e também de como ele fala de sua relação familiar com João, e com o resto das pessoas que tinham visto o Senhor, e como se lembrava das palavras deles” (Irineu, Fragments of lost Works of Irinaeus, cp.2; IN: ROBERTS, Alexander, DONALDSON, James, Ante-Nicene Fathers, VOL 1, pp.568)
Tertuliano, defendendo a credencial de representante dos apóstolos e consequentemente sua autoridade, também afirma que Policarpo fora discípulo de João (Tertuliano, Presciption against heretics, 32.2; IN: ROBERTS, Alexander, DONALDSON, James, Ante-Nicene Fathers, VOL 2, pp.258) confirmando a semente apostólica carregada por Policarpo. Inácio de Antioquia, que também fala sobre Policarpo, o apresenta como o bispo de Esmirna (InMag.15.1; InPol.1.1) a quem chama de amado (InEf.21.1) e grandemente abençoado (InPol.7.2).
No livro O Martírio de Policarpo diversos adjetivos lhe são conferidos: abençoado (1.1; 19.1; 21.1; 22.1; 22.3); admirável (5.1; 16.2); cristão confesso (10.1; 12.1); ilustre professor (19.1); mártir por causa do evangelho (19.1) e claramente convicto das verdades do evangelho. Na história desse documento, Policarpo é convidado a abandonar a Cristo, caso contrário seria executado. Ele responde que não poderia blasfemar contra seu Salvador e Rei a quem servia a oitenta e seis anos, e mantém sua postura como verdadeiro Cristão. O procônsul vendo sua “obstinação” lhe apresenta o poder que tem de soltar as feras sobre ele ou de coloca-lo a ser queimado. Entretanto, Policarpo não hesita e a essa proposta responde:
“Você me ameaça com o fogo que queima por algumas horas e depois de pouco tempo é extinguido, mas não conhece o julgamento futuro, o castigo eterno, reservado para os maus. Mas, o que o impede? Faça o que quer fazer” (11.2)
Policarpo foi sempre lembrado como um exemplo de cristão fiel e, como discípulo pessoal de João, também é considerado como fonte adequada para se buscar informações sobre quem Jesus Cristo é. Por isso, vamos observar a única carta conhecida sob seu nome conhecida como a epístola de Policarpo aos filipenses, e veremos que a visão de Policarpo sobre Jesus Cristo é claramente endossada pelas escrituras.
Em sua carta, Policarpo se refere diretamente a Jesus como Cristo 15 vezes (1.1 x2; 2, 3; 2.1; 3.3; 5.2, 3; 6.2; 7.1; 8.1; 12.2 x3; 14.1), embora tenha o costume de referir-se a Ele como Jesus Cristo. Policarpo também se refere com frequência a Cristo como Senhor(1.1,2 ;2.1; 6.2; 12.2) e o considera como Salvador (1.1). Provavelmente Policarpo está lidando não apenas com a incredulidade, mas com a heresia avançando a igreja de tal modo que se põe a responder questões diretamente relacionadas com a doutrina de Cristo, observe:
“Por que aquele que não confessa que Jesus Cristo tenha vindo em carne é o anticristo; e ainda, o que não confessa o testemunho da cruz, pertence ao Diabo, e ainda, os que pervertem os oráculos do Senhor de acordo com sua própria cobiça, e diz que não há nem ressurreição nem julgamento, esse é o primogênito de Satanás” (7.1)
Com essas palavras, ele convida os cristãos a se abster da vaidade de muitos e dos seus falsos ensinamento e os convida a retornar a palavra que lhes foi entregue desde o princípio. Nos chama a atenção o fato de que ele cita integralmente o texto de 1Jo.2.22, que fala sobre a verdadeira humanidade de Cristo, mas também apresenta outros problemas relacionados à Sua pessoa e mensagem, afinal, negar sua morte na cruz é um claro indicativo de pertencimento ao Diabo.
Para Policarpo a morte de Cristo é um fato importante par a verdadeira fé cristã de tal modo que aqueles que negam sua morte, ou se mantém incrédulos à sua veracidade, serão cobrados pelo sangue de Cristo (2.1). Com essas palavras Policarpo ensina, de certo modo, que todos os seres humanos são culpados pela morte de Cristo e que aqueles que não receberem tal dádiva serão condenados por isso.
Outro aspecto importante para Policarpo é a verdade de que Cristo ressuscitou, e como vimos, ele parece lutar contra aqueles que atestam não haver ressurreição nem julgamento, mas ele a esses, e a todos os cristãos, que o Cristo que morreu na cruz (7.1; 2.1) ressuscitou verdadeiramente (1.2; 2.1) e virá julgar a todos (2.1; 6.2). Ele é o Mediador entre Deus e os homens (1.3) glorificado e assentado à direita do Pai (2.1), também chamado de perfeito (sem mácula 8.1), eterno sumo-sacerdote (12.2) e verdadeiro Filho de Deus, a quem os diáconos devem servir sem mácula (5.2).
Dentre todas as descrições a respeito de Cristo que Policarpo apresenta, apenas uma vez ele alude a Jesus Cristo como Senhor e Deus:
“E se nós suplicamos ao Senhor para nos perdoar, também nós devemos perdoar, pois estamos diante dos olhos do nosso Deus e Senhor, e porque todos devemos comparecer no tribunal de Cristo, e cada um deve prestar contas de si mesmo” (6.2)
Mais uma vez, vemos um testemunho antigo em extrema consonância com o relato das escrituras, o que sugere que a conexão apostólica de transmissão das verdades de Cristo, continuou firme. Como um relato cristão, Policarpo nos oferece mais um local distante dos acontecimentos da palestina, que afirma exatamente o que aqueles que estiveram lá afirmaram.
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