04/02/10

O INFERNO EXISTE?

A concepção popular de inferno é de um lugar de castigo para as "almas imortais" ímpias direto após a morte, ou o lugar de tormento para aqueles que são rejeitados no juízo. É nossa convicção que a Bíblia ensina que o inferno é a sepultura, onde todos os homens vão ao morrer.
Quanto a palavra em si, o termo original no hebraico "sheol", traduzido como "inferno", significa "um lugar coberto". "Inferno" é a versão aportuguesada de "sheol"; assim, quando nós lemos "inferno"' não estamos lendo uma palavra que foi totalmente traduzida. Biblicamente, este "lugar coberto", ou "inferno", é a sepultura. Existem muitos exemplos onde a palavra original "sheol" é traduzida como "sepultura". De facto, algumas versões modernas da Bíblia poucas vezes usam a palavra "inferno", traduzindo-a mais apropriadamente como "sepultura". Alguns exemplos de onde esta palavra "sheol" é traduzida como "sepultura" já fazem cair por terra a concepção popular de inferno como um lugar de fogo e tormento para os ímpios:
- "Deixa que os ímpios...emudeçam na sepultura" (sheol [Sl. 31:17]) - eles não vão gritar em agonia.
- "Deus remirá minha alma do poder da morte" (sheol [Sl. 49:15]) - i.e. a "alma" ou corpo de Davi seriam ressuscitados da sepultura, ou "inferno".
A crença de que o inferno é um lugar de punição para os ímpios, do qual eles não podem escapar, simplesmente não se enquadra nisto; um homem justo pode ir ao inferno (a sepultura) e voltar. Os. 13:14 confirma isto: "Eu os remirei (o povo de Deus) da violência do inferno (sheol), e os resgatarei da morte". Isto está citado em 1 Co. 15:55 e aplicado à ressurreição na volta de Cristo. Da mesma forma na visão da segunda ressurreição, "a morte e o além deram os mortos que nele havia" (Ap. 20:13). Observe o paralelo entre a morte, i.e. a sepultura, e o inferno (ver também Sl. 6:5).
As palavras de Ana em 1 Sm. 2:6 são muito claras: "O Senhor é o que tira a vida, e a dá (através da ressurreição); faz descer à sepultura (sheol), e faz subir".
Visto que "inferno" é a sepultura, espera-se que os justos serão salvos dela através da sua ressurreição para a vida eterna. Assim, é um tanto possível entrar no "inferno", ou sepultura, e depois sair dele através da ressurreição. O exemplo supremo é o de Jesus, cuja "alma não foi deixada na morte, nem a sua carne viu corrupção" (Atos 2:31) porque ele ressuscitou. Observe o paralelo entre a "alma" de Cristo e a sua "carne" ou corpo. Que o seu corpo "não foi deixado na morte" implica que ele esteve lá por um período, i.e. os três dias em que seu corpo esteve na sepultura. Que Cristo foi ao "inferno" deveria ser prova suficiente de que lá não é um lugar onde só os ímpios vão.
Tanto as pessoas boas como as más vão para o "inferno", i.e. a sepultura. Assim a Jesus, "deram-lhe a sepultura com os ímpios" (Is. 53:9). Alinhado a isto, existem outros exemplos de homens justos indo ao inferno, i.e. à sepultura. Jacó disse que ele "desceria até a sepultura (inferno)...com choro" pelo seu filho José (Gn. 37:35).
É um princípio de Deus que o castigo pelo pecado é a morte (Rm. 6:23; 8:13; Tiago 1:15). Anteriormente nós mostramos que a morte é um estado de completa inconsciência. O pecado resulta em destruição total, não tormento eterno (Mt. 21:41; 22:7; Marcos 12:9; Tiago 4:12), tão certo como as pessoas foram destruidas pelo Dilúvio (Lucas 17:27,29), e os israelitas morreram no deserto (1 Co. 10:10). Nestas duas ocasiões os pecadores morreram em vez de serem atormentados eternamente. Então é impossível que os ímpios sejam castigados com uma consciência eterna de tormento e sofrimento.
Nós também vimos que Deus não atribui o pecado - ou o inclui em nosso registro - se formos ignorantes da Sua palavra (Rm. 5:13). Aqueles que estão nesta posição vão permanecer mortos. Aqueles que reconhecem os requisitos de Deus vão ressuscitar e ser julgados na volta de Cristo. Se ímpios, o castigo que vão receber será a morte, porque este é o julgamento pelo pecado. Assim, antes de comparecer perante o trono do juízo de Cristo, eles serão punidos e vão morrer de novo, para permanecer mortos para sempre. Esta será "a segunda morte", mencionada em Ap. 2:11; 20:6. Estas pessoas terão morrido uma vez, uma morte de total inconsciência. Eles serão ressuscitados e julgados na volta de Cristo, e depois punidos com uma segunda morte, a qual, como a sua primeira morte, será inconsciência total. Esta vai durar para sempre.
É neste sentido que o castigo do pecado é "eterno", uma vez que não haverá fim à morte. Permanecer morto para sempre é um castigo eterno. Um exemplo da Bíblia usando este tipo de expressão encontra-se em Dt. 11:4. Este texto descreve como eterna a destruição definitiva do exército de Faraó por Deus no Mar Vermelho, destruição surpreendente pela qual aquele exército nunca mais causaria problemas a Israel: "Fazendo passar sobre eles as águas do Mar Vermelho...o Senhor os destruiu até o dia de hoje".
Mesmo nos primeiros tempos do Velho Testamento os crentes entendiam que haveria uma ressurreição no último dia, depois da qual os ímpios responsáveis voltariam à sepultura. Jó 21:30,32 é muito claro: "Os maus...serão trazidos (i.e. ressuscitados) no dia do furor...Ele é levado (então) à sepultura". Uma das parábolas sobre a volta de Cristo e o juízo fala do ímpio sendo "morto" na sua presença (Lucas 19:27). Isto dificilmente se encaixa na idéia de que o ímpio existe para sempre em um estado de consciência, recebendo constante tortura. De qualquer forma, este seria um castigo não aceitável - tortura eterna por coisas feitas em 70 anos. Deus não tem prazer no castigo dos ímpios; assim, espera-se que Ele não vai infligir punição sobre eles por toda eternidade (Ez. 18:23,32; 33:11 cf. 2 Pedro 3:9).
A cristandade apóstata geralmente associa "inferno"' com a idéia de fogo e tormento. Isto contrasta com o ensino bíblico sobre inferno (a sepultura). "Como ovelhas são destinados à sepultura (inferno); e a morte se alimentará deles" (Sl. 49:14) faz supor que a sepultura é um lugar de esquecimento pacífico. Apesar da alma de Cristo, ou corpo, ter estado no inferno por três dias, ela não sofreu corrupção (Atos 2:31). Isto seria impossível se o inferno fosse um lugar de fogo. Ez. 32:26-30 dá um quadro dos poderosos guerreiros das nações em volta, deitados em paz nas suas sepulturas: "Os valentes que cairam (na batalha)...os quais desceram ao sepulcro com as suas armas de guerra, e puseram as suas espadas debaixo das suas cabeças?...Estes jazem...com os que desceram à cova". Isto se refere ao costume de enterrar os guerreiros com as suas armas, e descansar a cabeça do defunto sobre a espada. Entretanto esta é uma descrição do "inferno" - a sepultura. Estes homens poderosos deitados, parados no inferno (i.e. suas sepulturas), dificilmente sustentam a idéia de que o inferno seja um lugar de fogo. As coisas materiais (por exemplo, espadas) vão para o mesmo "inferno" que as pessoas, mostrando que o inferno não é uma área de tormento espiritual. Assim Pedro disse a um homem ímpio: "O teu dinheiro seja contigo para perdição" (Atos 8:20).
O relato das experiências de Jonas também contradiz isto. Ao ser engolido por um grande peixe, "Jonas orou ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe. Disse ele:...clamei ao Senhor...Das profundezas da sepultura gritei" (Jonas 2:1,2). Isto faz paralelo entre " profundezas do inferno " e as entranhas do peixe. As entranhas do peixe eram, de fato, um "lugar coberto", que é o significado fundamental da palavra "sheol", traduzida como "inferno". Obviamente, não era um lugar de fogo, e Jonas saiu "das entranhas do inferno" quando o peixe o vomitou. Isto aponta adiante, para a ressurreição de Cristo do "inferno" (a sepultura) - ver Mt. 12:40.

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