25/11/10

CREDO DOS APÓSTOLOS

1. Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a fé em Cristo.
2. Porque aquele que não a professar, integral e inviolavelmente, perecerá sem dúvida por toda a eternidade.
3. A fé em Jesus como Salvador consiste em adorar um só Deus em três Pessoas e três Pessoas num só Deus.
4. Sem confundir as Pessoas nem separar a substância.
5. Porque uma só é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo.
6. Mas uma só é a divindade do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.
7. Tal como é o Pai, tal é o Filho, tal é o Espírito Santo.
8. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado.
9. O Pai é imenso, o Filho é imenso, o Espírito Santo é imenso.
10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.
11. E contudo não são três eternos, mas UM só eterno.
12. Assim como não são três incriados, nem três imensos, mas um só incriado e um só imenso.
13. Da mesma maneira, o Pai é omnipotente, o Filho é omnipotente, o Espírito Santo é omnipotente.
14. E contudo não são três omnipotentes, mas um só omnipotente.
15. Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus.
16. E contudo não são três deuses, mas um só Deus.
17. Do mesmo modo, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor.
18. E contudo não são três senhores, mas um só Senhor.
19. Porque, assim como a verdade cristã nos manda confessar que cada uma das Pessoas é Deus e Senhor, do mesmo modo a religião recebida dos APOSTÓS nos proíbe dizer que são três deuses ou senhores.
20. O Pai não foi feito, nem gerado, nem criado por ninguém.
21. O Filho procede do Pai; não foi feito, nem criado, mas gerado.
22. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procede do Pai e do Filho.
23. Não há, pois, senão um só Pai, e não três Pais; um só Filho, e não três Filhos; um só Espírito Santo, e não três Espíritos Santos.
24. E nesta Trindade não há nem mais antigo nem menos antigo, nem maior nem menor, mas as três Pessoas são coeternas e iguais entre si.
25. De sorte que, como se disse acima, em tudo se deve adorar a unidade na Trindade e a Trindade na unidade.
26. Quem, pois, quiser salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade.
27. Mas, para alcançar a salvação, é necessário ainda crer firmemente na Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
28. A pureza da nossa fé consiste, pois, em crer ainda e confessar que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem.
29. É Deus, gerado da substância do Pai desde toda a eternidade; é homem porque nasceu, no tempo, da substância da Sua mãe.
30. Deus perfeito e homem perfeito, com alma racional e carne humana.
31. Igual ao Pai segundo a divindade; menor que o Pai segundo a humanidade.
32. E embora seja Deus e homem, contudo não são dois, mas um só Cristo.
33. É UM, não porque a divindade se tenha convertido em humanidade, mas porque Deus assumiu a humanidade.
34. Um, finalmente, não por confusão de substâncias, mas pela unidade da Pessoa.
35. Porque, assim como a alma racional e o corpo formam um só homem, assim também a divindade e a humanidade formam um só Cristo.
36. Ele sofreu a morte por nossa salvação, desceu ao hades (lugar dos mortos) e ao terceiro dia ressuscitou dos mortos.
37. Subiu aos Céus e está sentado a direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
38. E quando vier, todos os homens ressuscitarão com os seus corpos, para receber as contas dos seus actos.
39. E os que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna, e os maus para o fogo eterno (que consumirá enquanto houver algo para consumir).
40. Esta é a fé APOSTÓLICA, e quem não a professar fiel e firmemente não se poderá salvar".

20/11/10

NATAL: FESTA PAGÃ, SIM OU NÃO?

Todo o mês de Dezembro oferece uma oportunidade a Igrejas Adventistas em todo o mundo de celebrar o Nascimento de Cristo.

Para muitos, porém, esse período é marcado por consumismo e secularismo.

Mas qual deveria ser a posição adventista frente à celebração do Natal?

Os argumentos contra a celebração do Natal são mais ou menos o seguinte: a data 25 de Dezembro coincide com um festival romano, possivelmente o Sol Invictus, e por isso a celebração do nascimento de Cristo neste dia tem associações com o paganismo e não deve ser celebrada por Cristãos.

Em primeiro lugar, precisamos entender que há divergências quanto à real razão da escolha da data em Dezembro. Alguns argumentam que a data foi escolhida por marcar 9 meses da concepção de Maria, segundo a Festa da Anunciação. Outros ainda acreditam que a data foi escolhida por marcar o solstício do Inverno no hemisfério Norte que torna o dia mais longo, sendo assim um símbolo desejável do Advento de Cristo que traz "luz ao mundo".

Por outro lado, há indícios de que o nascimento do Sol se transformou num símbolo de Jesus para Cristãos na época em que o Natal foi instituído. Factos históricos mostram que a simbologia de Cristo como SOL INVENCÍVEL (Sol Invictus) surgiu no cristianismo já no ano de 250 a.D., como pode ser vista em uma pintura descoberta nas ruínas de um mausoléu sob a Catedral de São Pedro no Vaticano.

Essa prática parece ter-se baseado em Malaquias 4:2:

"Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo curas nas suas asas; e vós saireis e saltareis como bezerros da estrebaria."

Esse simbolismo de Jesus Cristo como o Sol Invictus se deve possivelmente ao fato de que os cristãos fiéis na época do surgimento do Natal (3-4 Séculos) viviam em constante conflito com o estabelecimento romano e muitos desses símbolos, em vez de representar um sincretismo religioso, proviam na realidade uma contrafacção cristã à simbologia idólatra romana.

O Natal foi instituído com o único objectivo de celebrar a Natividade. A acusação de sincretismo religioso não tem força.

Por isso, creio que a rejeição das celebrações de Natal devido a supostas "origens pagãs" carece de base histórica. E mesmo que houvesse essas associações periféricas, o argumento ainda estaria baseado na falácia lógica da culpa por associação, ou seja, se a data da celebração do Natal coincide com uma festa pagã, então, essa associação com o paganismo desqualifica o Natal.

Há também outra falácia lógica aí, a "falácia genética" em que a origem de certa afirmação (ou evento) aprova ou desaprova a sua validade. Por exemplo, José diz que 1+1=2; os meus pais dizem que 1+1=666; José está errado porque acredito nos meus pais.)
A argumentação contra o Natal continua a dizer que, porque ele foi instituído pela Igreja Católica, aceitá-lo seria como aceitar a guarda do domingo. Mas vejamos que o Cânon Sagrado também foi preservado pela Igreja Católica e finalizado ao redor do mesmo tempo do estabelecimento do Natal. Por que não vemos os críticos do Natal rejeitar a Bíblia por suas associação com o catolicismo?


Os símbolos têm o significado que lhes damos.

A Bíblia tem vários exemplos de símbolos pagãos que foram usados para expressar verdades eternas, como a serpente no deserto que era símbolo de um Deus egípcio e símbolo do Dragão (Apo. 12) mas que Deus usou como símbolo de Cristo (João 3:14). A cruz era símbolo de tortura e opressão pelos romanos mas Deus a usou para realizar a expiação. O uso cristão desses símbolos modificou as suas conotações.

Invertendo um pouco a analogia, o arco-íris foi usurpado pelo movimento homossexual e tem hoje fortes associações pagãs. Por que não vemos os críticos do Natal rejeitar o arco-íris como um símbolo da promessa divina por causa dessa associação?

É certo que a Bíblia não revela a data do nascimento de Cristo e muitos se apegam a isso também para rejeitar o Natal. Mas não temos na Bíblia tão pouco uma condenação de celebrações da Natividade. Saber a data é irrelevante, pois comemoramos o evento e não uma data! Quem sabe Deus velou a data para nos concentrarmos justamente no evento, já pensou nisso?

Aliás, a grande celebração que houve no céu e na terra naquela ocasião autoriza os cristãos em todo o mundo a repetir o "cântico de Belém". Veja:

"Glória a Deus nas alturas,
Paz na Terra, boa vontade para com os homens." Luc. 2:14.

Quem dera que a família humana pudesse hoje reconhecer este cântico! A declaração então feita, a nota vibrada então, avolumar-se-ia até ao fim do tempo, e ressoaria até aos extremos da Terra. Quando se erguer o Sol da Justiça, trazendo salvação sob Suas asas, esse cântico há de ecoar pela voz de uma grande multidão, como a voz de muitas águas, dizendo: "Aleluia, pois já o Senhor Deus todo-poderoso reina." Apoc. 19:6.
A história de Belém é inexaurível. Nela se acham ocultas as "profundidades das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus". Rom. 11:33." (O Desejado de Todas as Nações, p. 48)

Veja como E. G. White também usa a analogia do nascimento do Sol ao falar do nascimento de Cristo!

"A nota vibrada então, avolumar-se-á até ao fim do tempo, e ressoará até aos extremos da Terra." A menos que eu e você façamos essa nota angélica soar o som desse hino morreu 2.000 atrás! Nós somos as vozes desse anjos para as pessoas HOJE!

Como celebrar na Igreja?

Estatísticas demonstram que o Natal é o período do ano em que as pessoas se acham mais abertas a assuntos espirituais. Temos aí uma oportunidade fantástica de testemunhar. O ideal então seria celebrar TODO o mês de Dezembro como um período de festa espiritual, não necessariamente só o dia 25 de Dezembro.
Não devemos desperdiçar essa oportunidade com discussões fúteis e falaciosas sobre o "paganismo" do Natal. Façamos do Natal um evento Cristão porque Cristo é o centro!

Muitos dos comentários de adventistas contra o Natal em blogs e fóruns exalam um azedume injustificável contra as celebrações Natalícias. Alguns até chamam o período de "maldito Natal". No mesmo capítulo do Desejado, E.G. White também revela a atitude de Satanás para com o nascimento de Cristo:

"Satanás aborrecera a Cristo no Céu, por causa de Sua posição nas cortes de Deus. Mais O aborreceu ainda quando se sentiu ele próprio destronado. Odiou Aquele que Se empenhou em redimir uma raça de pecadores. (DTN 49)

Creio que corremos o risco de cair no mesmo espírito do inimigo ao nos opormos ao Natal com um "engano satânico" apesar de toda a beleza do seu significado cristão. Também não é cristão impor os nossos devaneios sobre o paganismo sobre irmãos que querem nesse período celebrar a Cristo de uma forma especial.

Há quem defenda o Hanukkah como uma festa que Jesus possivelmente aprovaria neste período, pois ele teria participado dela quando criança. A dificuldade em aceitar essa ideia é que primeiramente não há provas que Jesus tenha realmente participado de tal festa (veja João 10:22-24); mas independente desse detalhe, é difícil conceber que Jesus preferiria celebrar uma festa judaica pré-cruz que era uma mera "sombra" dele próprio em detrimento da celebração da sua própria encarnação! O Hanukkah para os judeus hoje também significa "liberdade religiosa" e é mais uma declaração política do que espiritual.

Qual deveria ser a nossa atitude para com o Natal? Deveríamos nós adventistas rejeitar o Natal por origens pagãs?

Não, pois não há na celebração da Natividade "origens pagãs". Apesar de o Natal possivelmente coincidir com outras datas seculares, em si, ele celebra um evento profundamente Cristão, a encarnação de Jesus Cristo. O EVENTO celebrado é que cristianiza a data.

Alguns acham que o Natal pode ser celebrado mas de maneira diferente: não deveria ser celebrado na Igreja, para os "santos" e sim fazendo obras de caridade, cuidando de enfermos, mendigos, etc.

Sem dúvida, Jesus foi o "servo dos servos" e celebrá-lo deveria levar-nos ao serviço. Portanto, vamos fazer o bem neste período pois as pessoas estão abertas a isso: acções de caridade no Natal, ministérios pessoais, beneficência cristã, convidar “sem abrigos” para a nossa casa e dar-lhes um bom jantar, porque não?

Confesso que não me recordo dos meus pais celebrarem o Natal. Nem tão pouco no meu lar o celebramos para além duma festa de família. Não me importo de dizer que nunca dei presentes a ninguém neste dia e se me ofereceram, foram pares de meias. Presentemente, como não dou os meus familiares também não me dão e fazem muito bem!
Confesso ainda, que me encanta assistir a celebrações de Natal na igreja, gosto de ouvir coros, grupos e solos que louvem a Jesus. Recordo na igreja Adventista de Canelas de se realizarem grandes concertos de música espiritual e os irmãos virem assistir com os seus familiares e amigos, que testemunho!

Tudo depende de COMO o celebramos:

Se nos ajoelhamos perante os deuses consumistas desse século, ele será pagão e secular.

Se nos ajoelhamos ao pé da manjedoura e contemplamos o mistério da encarnação, faremos de Cristo o centro!

Espero que o seu Natal seja um período de luz, paz e ESPERANÇA!

16/11/10

UMA MENTE RENOVADA

“No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi o Senhor assentado num trono alto e exaltado, e a aba de sua veste enchia o templo. Acima dele estavam serafins; cada um deles tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e com duas voavam. E proclamavam uns aos outros: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória”. Ao som das suas vozes os batentes das portas tremeram, e o templo ficou cheio de fumaça. Então gritei: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! Logo um dos serafins voou até mim trazendo uma brasa viva, que havia tirado do altar com uma tenaz. Com ela tocou a minha boca e disse: “Vê, isto tocou os teus lábios; por isso, a tua culpa será removida, e o teu pecado será perdoado”. Então ouvi a voz do Senhor, conclamando: “Quem enviarei? Quem irá por nós?”E eu respondi: Eis-me aqui. Envia-me!” (Isaías 6:1-8)
Podemos perceber a forma como o Senhor Deus conduziu o chamado de Isaías. O profeta precisava compreender algumas coisas importantes e fundamentais para o cumprimento do seu chamado. A sua mente precisa ser renovada, assim como o Apóstolo Paulo nos diz em Romanos 12:2 – “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Precisa haver uma renovação da nossa mente para que aí então possamos compreender a boa, perfeita e agradável vontade de Deus para nossa vida. Foi exactamente o que aconteceu com Isaías, diante da visão da glória de Deus e passou a entender perfeitamente algumas coisas sobre Deus e sobre si mesmo. Primeira compreensão: “EU VI O SENHOR ASSENTADO NUM TRONO ALTO E EXALTADO” – Precisamos entender que o Senhor está assentado sobre um alto e sublime trono e Ele é o que tem o controlo de todas as coisas. Deus é soberano, a nossa vida precisa estar nas mãos de Deus. Há uma canção que diz assim:

Abro mão dos meus sonhos
Abro mão dos meus planos
Abro mão da minha vida por Ti
Abro mão dos prazeres e das minhas vontades
Abro mão das riquezas por Ti
Estou apaixonado...

Eu penso que precisamos ter muita coragem para viver esta música, pois ela fala de uma rendição total a vontade d´Aquele que é o Soberano e que se assenta num alto e sublime trono. Segunda compreensão: E PROCLAMAVAM UNS AOS OUTROS: “SANTO, SANTO, SANTO É O SENHOR DOS EXÉRCITOS, A TERRA INTEIRA ESTÁ CHEIA DA SUA GLÓRIA”. Assim como o nosso Deus é santo, importa que sejamos santos. O Apóstolo Pedro nos ensina isto: “Sejam santos, porque eu sou santo”. A santidade precisa fazer parte de minha vida. Muitas vezes declaramos ser difícil viver em santidade, porém, nem mesmo começamos a caminhar, julgando ser impossível. Isaías compreendeu que Deus era Santo, Santo e Santo. Terceira compreensão: “ENTÃO GRITEI: AI DE MIM! ESTOU PERDIDO! POIS SOU UM HOMEM DE LÁBIOS IMPUROS E VIVO NO MEIO DE UM POVO DE LÁBIOS IMPUROS”. Isaías compreendeu que precisava de Deus. Reconheceu sua falha, foi sincero diante de Deus. Todos nós precisamos reconhecer a nossa dependência de Deus. O fato de reconhecer não significa o fim. Isaías pensava que após reconhecer sua falha Deus iria destruí-lo, porém, foi exactamente ao contrário. Deus não descarta ninguém. Hoje vivemos a geração do descartável. Tudo a gente usa e joga fora. Deus não olha desta forma. Quando ele encontra em nós sinceridade, rendição, quebrantamento Ele está disposto a mobilizar os céus, fazendo com que o anjo traga uma brasa viva do altar para tocar a nossa vida. Que possamos expor a nossa vida diante de Deus para que Ele possa trazer CURA. É tempo de sarar as nascentes das águas. Deus quer a sua igreja fluindo águas limpas, que irão levar vida onde passar. É TEMPO DE SARAR AS FONTES.
“Vede o Filho de Deus curvado em adoração a Seu Pai! Conquanto seja o Filho de Deus, robustece Sua fé por meio da prece, e mediante a comunhão com o Céu traz a Si mesmo força para resistir ao mal e ministrar às necessidades dos homens. Como o Irmão mais velho de nossa raça, conhece as necessidades dos que, cercados de enfermidades e vivendo num mundo de pecado e tentação, desejam contudo servi-Lo. Ele sabe que os mensageiros que acha por bem enviar, são homens fracos e falíveis; mas a todos que se dedicam inteiramente ao Seu serviço, promete auxílio divino. Seu próprio exemplo é uma garantia de que a diligente e perseverante súplica a Deus em fé - fé que leva a uma inteira confiança nEle e consagração sem reserva a Sua obra - será eficaz em trazer aos homens o auxílio do Espírito Santo na batalha contra o pecado.”
Atos dos Apóstolos, p. 56

10/11/10

ORION E OS EVENTOS FINAIS

Nebulosa de Órion (M42).
O sistema solar caberia dentro desse espaço
no mínimo 20 milhões de vezes.
Para fazer um tour de Órion clique
http://hubblesite.org/gallery/tours/tour-orion/
A nebulosa de Órion ocupa um lugar especial no coração Adventista. Desde 1848, quando Ellen White mencionou Órion no livro Primeiros Escritos, os Adventistas têm ansiosamente focado os seus olhos e telescópios para esse lugar no céu em busca de sinais e evidências da Segunda Vinda. A passagem em questão diz:
"Nuvens negras e densas subiam e chocavam-se entre si. A atmosfera abriu-se e recuou; pudemos então olhar através do espaço aberto em Órion, donde vinha a voz de Deus. A santa cidade descerá por aquele espaço aberto."(PE, 41).
Pano de Fundo Histórico
Entre 1846 e 1848, Ellen White teve três visões que mostraram eventos no céu. A primeira ocorreu em Novembro de 1846 em Topsham, Maine, na qual ela descreveu uma viagem pelo Cosmos onde viu planetas com suas luas. Presente ali estava o capitão e astrónomo amador, José Bates. Embora nenhum relato oficial exista sobre aquele episódio, sabemos através do relato de John Loughborough[1] e Ella Robinson[2] (neta de Ellen White) que foi Bates quem descreveu o que Ellen White viu em 1846. Quando ela mencionou um planeta com 4 luas, Bates disse, "Ela está vendo Júpiter!" Quando ela vê um planeta com 7 luas, Bates exclama: "Ela está vendo Saturno!"[3]
Após isso, Ellen White descreve algo que se assemelha aos "céus que se abrem", que haviam interessado Bates há alguns meses (abaixo veremos porque). Segundo ele, a descrição de Ellen White desses "céus que se abrem" era a mais incrível que ele já tinha ouvido, especialmente porque ela lhe havia dito que nunca sequer havia consultado um livro de astronomia e não conhecia nada do assunto. [4] Bates concluiu: "Isso é obra de Deus!"[5] Como resultado, Bates passou a crer no dom profético de Ellen White. A visão tinha um propósito específico: impressionar Bates a tomar uma decisão. Deus tinha um plano para ele pois foi um dos grandes pioneiros que introduziu a verdade do sábado para Ellen e Tiago White.[6]
É importante ressaltar que em Maio do mesmo ano, ou seja, seis meses antes da visão, Bates havia publicado um panfleto intitulado "Os Céus Que Se Abrem"[7] no qual ele analisou a relação entre astronomia e a Bíblia e procurou determinar exactamente onde era estava o "paraíso de Deus e a Nova Jerusalém". O panfleto foi fruto de várias noites observando Órion na casa de um amigo que havia recentemente comprado um telescópio. Bates se baseou em menções de uma "abertura" em Órion descoberta por outros astrónomos tais como Parsons, Huygens and Ferguson. Mais de cem anos antes, Huygens havia descrito Órion como abrindo-se para outra "região mais iluminada."[8] No seu panfleto, Bates equipara o "céu aberto" de João 1:51 à nebulosa de Órion e como o ponto ao leste onde "o mundo logo verá o que o crente no Segundo Advento tem ansiosamente aguardado."[9] Ele finaliza o panfleto dizendo que a "Nova Jerusalém... o Paraíso de Deus ... está agora prestes a descer do "terceiro céu", através da porta aberta ... de Órion."[10] Tudo indica então que, embora Ellen White não tenha citado Órion especificamente na visão dos planetas em Novembro de 1846, Bates concluiu que ela falara dos "céus que se abrem" em Órion, expressão que ele havia usado várias vezes. Mais tarde em sua autobiografia (1864), Bates estava ainda mais seguro da relação entre Órion e o céu quando concluiu que: "Essa abertura no céu é sem dúvida a mesma mencionada nas Escrituras. João 1:51; Apo. 19:11. O centro dessa constelação (Órion) está no centro, entre os polos do céu."[11] Aparentemente, essa certeza pode ter partido do pressuposto de que Ellen White viu Órion em sua visão de 1846, algo que nunca foi confirmado por ela.
A segunda visão ocorreu em dia 3 de Abril de 1847 também em Topsham, Maine e tratou da Segunda Vinda (Veja Primeiros Escritos, p. 32-35). A descrição da visão é bastante similar à que estamos estudando porém, sem mencionar Órion: "Nuvens negras e pesadas se acumularam e se chocavam umas contra as outras. Mas havia um espaço claro de glória indescritível, de onde veio a voz de Deus como de muitas águas, a qual fez estremecer os céus e a Terra."(p. 34).
A terceira visão, cuja descrição contém a menção de Órion, foi recebida em Rocky Hill, Connecticut no dia 16 de Dezembro de 1848. Vamos agora analisar algumas das implicações da menção de Órion por Ellen White ao interpretar essa visão.
Astronomia
Não é difícil imaginar porque os astrónomos do passado se maravilharam com Órion; suas cores e brilho continuam a atrair astrónomos. Junte essa curiosidade com conhecimento de teologia, e não é difícil entender porque Bates concluiu mais do que depressa que Órion era a porta do céu. Durante a segunda parte do século 19, avanços em astronomia começaram a elucidar o que realmente acontece em Órion. Desde 1990, quando o telescópio espacial Hubble (diga-se RRÃ-bôl) entrou em órbita, suas imagens de alta definição revelaram mais nitidamente o que outros já haviam suspeitado: não existe nenhum "espaço aberto" na constelação de Órion. Ela é formada de estrelas, gases e poeira cósmica que aos olhos de astrónomos do passado com seus telescópios limitados, parecia a entrada para um lugar ainda mais luminoso.
Nebulosa de Órion vista em 1741,
desenho de A. Long.[13]
Órion, embora seja uma das constelações mais próximas da Terra, está a 1.500 anos-luz[12] de distância, o que equivale a aproximadamente 14 quatriliões de quilómetros. A luz de Órion que vemos hoje foi gerada 1.500 anos atrás! Em outras palavras, para que víssemos algo se abrindo em Órion hoje, esse evento teria que ter ocorrido há 1.500 anos para que a luz desse evento chegasse a tempo até nós. Nosso sistema solar inteiro poderia caber dentro da extensão da nebulosa de Órion no mínimo 20.000.000 de vezes! A estrela Betelgeuse em Órion, por exemplo, é de 400-1.000 vezes maior do que o Sol.
José Bates, pioneiro Adventista que descreveu Órion como sendo "sem sombra de dúvida" a porta do Céu.

José Bates, pioneiro Adventista que
descreveu Órion como sendo
 "sem sombra de dúvida" a porta do Céu.

Quando consideramos esses fatos, cabe perguntar: Seria possível observar alguma coisa passando através de Órion? Vejamos: a Cidade Santa segundo Apocalipse 21:16 tem o comprimento de 12.000 estádios. Vamos considerar esse número como literal para efeito de ilustração, o que equivale a 2.200 quilómetros. Assim, considerando-se que Órion tem 100 triliões de quilómetros de área, se Jesus com seus anjos ocupassem uma área como a Nova Jerusalém, seria impossível vê-los passando através de Órion, mesmo com os mais potentes telescópios hoje. Seria mais fácil alguém num Boeing 747 a 10 km de altura achar uma agulha no meio na Amazónia a olho nu. Além disso, para que Jesus e seus anjos pudessem fisicamente atravessar Órion e chegar até a Terra, eles teriam que viajar à velocidade de no mínimo 14 quatriliões de km/hr, ou seja, 14 milhões de vezes acima da velocidade da luz!
Não estamos questionando se os anjos podem ou não alcançar tais velocidades, nem tampouco querendo substituir a fé pela ciência. A pergunta na verdade deveria ser, Por quê eles sequer se limitariam a percorrer tal distância?[14]

Eu gostaria de sugerir que a relação entre a Terra e o Céu é em termos de "dimensão" e não em distância, localização ou pontos de acesso. A complexidade dessa odeia é exemplificada por Paulo em 2 Cor. 12:2: "Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei; Deus o sabe) foi arrebatado até o terceiro céu." Paulo não sabia como havia chegado ao Céu, obviamente porque o Céu está em outra dimensão incompreensível para meros mortais. Creio que a experiência de João em Patmos oferece uma explicação sobre como isso ocorre; note que antes de entrar em visão em Apo. 4:1, João vê uma porta se abrir no céu e é chamado por Jesus a entrar por ela. A entrada às sala do trono de Deus se dá pelo Espírito (v. 2), mas a porta ou ponto de acesso entre as duas dimensões aparece antes de ele ser arrebatado.
A conclusão a que chegamos nesse ponto do estudo é que o conhecimento actual de astronomia a priori descarta a inclusão de uma estrutura cósmica extremamente remota no abalo dos poderes do céu por ocasião da vinda de Cristo; segundo a Bíblia, esse abalo deve impactar somente a esfera terrestre (Sol, Lua, estrelas cadentes e a atmosfera Terra).

Revendo a Visão
Vamos retornar brevemente à primeira visão dos planetas em 1846. Neste período do movimento Adventista (década de 1840), Bates e o casal White passaram muito tempo juntos como pioneiros adventistas. Como astrónomo amador, Bates já havia mostrado seu entusiasmo pelo assunto perante seus irmãos mileritas.[15] É muito provável então que Bates tenha compartilhado com Ellen White os seus estudos de astronomia e sua convicção de que Órion era de fato os "céus que se abrem" da Bíblia e da sua visão. Esse detalhe provavelmente explica porque dois anos depois, em 1848 ela interpreta a visão do "espaço aberto" no céu durante a vinda de Cristo como sendo Órion. Digno de nota também é o fato de que Ellen White frequentemente prefere a expressão "opening heavens" segundo José Bates para descrever o que na Bíblia, versão King James, é "heaven open".
Um pouco mais do pano de fundo histórico confirma que após 1844, alguns mileritas ensinavam que o abalo das potestades do céu não se referia ao nosso céu literal, mas simbolizavam as nações da Europa. O editor da revista milerita Day Star desafia: "Por que fitais os olhos ao céu; podeis discernir de onde Jesus está voltando?" Em parte, Bates escreveu seu panfleto sobre o "espaço aberto" em Órion por onde Jesus virá para refutá-los.[16] É interessante que Ellen White se une a Bates contra esse erro confirmando que o que ela viu em visão acontece literalmente na atmosfera terrestre: "Nuvens negras e densas subiam e chocavam-se entre si. A atmosfera abriu-se e recuou." Descrevendo a mesma cena em 1847, ela substitui "atmosfera" por "céus agitados", o que confirma que são os céus terrestres (e não uma suposta atmosfera em Órion).

Portanto, tudo indica que a referência a Órion em 1848 era a interpretação de Ellen White da visão e não a visão em si. Essa é uma distinção crucial para se entender a revelação profética. Geralmente, o profeta recebe uma visão e só às vezes recebe ajuda para interpretá-la, como no caso de João (Apo. 17) e Daniel (Dan. 8). Na maioria dos casos, porém, a interpretação fica por conta do profeta ou dos leitores/ouvintes. Nesse caso, não temos evidência inequívoca de que Deus revelou-lhe de maneira específica e literal que o "espaço aberto" era a nebulosa de Órion, já que ela descreve a mesma cena outras vezes sem mencioná-la, como, por exemplo, na visão da mesma cena de 1847.[18] Além disso, a menção da Cidade Santa na descrição da visão é um parêntese na fala e confirma que Ellen White está em realidade interpretando a visão, haja vista que, enquanto a visão em si trata dos eventos durante a Segunda Vinda de Cristo, a Cidade Santa só descerá após o Milénio (Apo. 21) e não poderia estar descendo durante a vinda de Cristo.

Como vimos acima, Bates foi o primeiro a concluir que Órion era a porta do Céu e que a Cidade Santa desceria por ali. Há portanto, fortes evidências de que isso influenciou Ellen White naquele momento da sua experiência. No entanto, o entendimento da visão aumentou com o tempo, ajudado por outras visões semelhantes, razão pela qual Ellen White citou Órion uma única vez e não o fez posteriormente. Ao descrever a mesma cena no livro Spiritual Gifts, vol. 1, p. 205, publicado em 1858, Ellen White descarta Órion da interpretação e repete termos que usou em 1847 para descrever a vinda de Cristo por um "espaço claro de glória." A mesma terminologia é usada no livro O Grande Conflito (edições de 1888 e 1911), considerado o relato final de Ellen White sobre os eventos finais, onde ela descreve a mesma cena novamente sem a menção de Órion:

Nuvens negras e pesadas sobem e chocam-se umas nas outras. Em meio dos céus agitados, acha-se um espaço claro de glória indescritível, donde vem a voz de Deus como o som de muitas águas, dizendo: "Está feito." Apoc. 16:17. (GC 636).

Ellen White poderia ter incluído Órion na descrição do Grande Conflito mas não o fez, obviamente porque o suposto "espaço aberto" que em 1848 ela entendeu como Órion através de José Bates, agora deu lugar ao "espaço claro de glória indescritível". Note a diferença entre espaço "aberto" e espaço "claro"; parece que ela procura criar uma distinção entre sua interpretação anterior que tinha relação com o "espaço aberto" de Órion.

Torna-se, portanto, evidente que a influência dos estudos de José Bates sobre a relação entre teologia e astronomia oferece a explicação mais plausível para a menção de Órion na interpretação da visão do "espaço aberto" em 1848. Vários estudiosos adventistas têm chegado à mesma conclusão. Kheon Yigu realizou uma pesquisa pela Universidade Sahmyook em que analisou o desenvolvimento da relevância de Órion para os Adventistas e também conclui que a menção posterior do "espaço claro" no Grande Conflito deve substituir Órion.[18] Martin Carey cita o fato de que já em 1864, o astrónomo Huggins focalizou seu telescópio para Órion e descobriu que a suposta "abertura" não passava de gases e poeira cósmica.[19] Os Drs. M. Sprengel e D. Martz, ambos professores de ciências no Pacific Union College analisam numa série de 3 artigos na Revista Adventista[20] (Review and Herald) a citação de Órion e como o entendimento dos astrónomos foi aumentando através dos avanços da ciência. Eles concluem que a comparação do "espaço aberto" com Órion é fruto da influência de José Bates.

A Dinâmica da Revelação
Em um artigo que analisa o entendimento gradual por Ellen White das suas visões, os depositários do White Estate concluem:
A jovem Ellen, aparentemente não entendeu completamente todas as implicações das suas primeiras visões. Ela teve que operar dentro da mentalidade do seu tempo, bem como dentro da capacidade mental de uma adolescente. Dessa forma, assimilar tudo o que compunha suas primeiras visões levaria tempo para a jovem Ellen, assim como levou tempo para seus contemporâneos.[21]
Nas palavras da própria Ellen White:

Com frequência me são dadas representações que a princípio eu não compreendo, mas depois de algum tempo elas se tornam claras pela reiterada apresentação dessas coisas que a princípio eu não entendi, e de certas maneiras que fazem com que o seu significado seja claro e inconfundível. (Carta 329, 1904; ME 3, 56).
Essa progressão do entendimento da revelação faz parte de um princípio articulado por Ellen White ao dizer que Deus revelou-se aos seres humanos levando em conta seu contexto e o momento de sua experiência:
...à medida que Deus, em Sua providência, via apropriada ocasião para impressionar o homem nos vários tempos e diversos lugares ... a fim de chegar aos homens onde eles se encontram... na linguagem dos homens. (ME 1, 19, 20).

Isso significa que Deus leva em consideração a capacidade do profeta de assimilar ou não o que ele está revelando enquanto permite conceitos e pressuposições locais do profeta como elementos periféricos para "emoldurar", por assim dizer, verdades mais profundas. A moldura é um detalhe somente, a verdade revelada é axiomática e absoluta. O teólogo adventista Alden Thompson descreve esse princípio revelador assim: "Os limites de tempo e circunstâncias, cultura e conhecimento humano, estabelecem os marcos dentro dos quais a revelação pode ser eficaz. ... O bom ensino sempre envolve ilustrações eficazes, que são concretas, compreensíveis, adaptadas para as necessidades do estudante. Elas apontam para a verdade mas não devem ser confundidas com a verdade."[22]

Imagem de Órion que se assemelha aos "céus que se abrem" de José Bates.

Como vemos esse princípio na Bíblia? Por exemplo, Moisés classificou o coelho como um animal ruminante (Lev. 11:6), hoje sabemos que ele não é. Isaías disse que a Terra tinha "quatro cantos" (Isa. 11:12).[23] João, além de citar os mesmos quatro cantos (Ap. 7:1), descreve a Nova Jerusalém cercada de um muro e portas, algo que reflete a estrutura da Jerusalém que ele conhecia no primeiro século. Jesus disse que, como sinal da proximidade da Sua Vinda, "as estrelas cairão do céu" (Mar. 13:25); hoje sabemos que não é possível uma estrela cair para a Terra, ele só poderia estar se referindo ao que conhecemos hoje como meteoritos e não a estrelas de verdade.

Como vemos esse princípio na menção de Órion por Ellen White ao interpretar a visão de 1848? Deus mostrou a ela que Júpiter tinha 4 luas (conhecimento corrente da época) enquanto hoje sabemos que Júpiter tem 63 luas! Saturno tinha 7 luas, novamente referindo-se ao conhecimento da época, enquanto hoje sabemos que Saturno tem 60 luas! É claro que Bates não acreditaria nela se ela dissesse que Saturno na verdade tinha 60 luas.[24] No livro Educação, Ellen White diz que as estrelas refletem a luz solar (Ed 14); hoje sabemos que estrelas possuem luz própria. Sendo assim, Ellen White estava convencida de que "espaço aberto" de Órion, que José Bates defendia inclusive pela Bíblia como sendo a porta do céu, era de fato o ponto no céu por onde Cristo passará, de onde vinha voz de Deus e por onde a Cidade Santa vai descer após o Milénio. Essa suposta "abertura" que eles pensavam existir na época era o melhor exemplo de uma entrada para o Céu onde Deus e Seus anjos estão. Esse era o entendimento que ela tivera da visão em seu contexto e em suas limitações na época, haja vista que não temos evidência que Deus revelou-lhe que o espaço aberto era Órion especificamente. Órion era relevante para eles naquele momento; hoje sabemos que essa suposta "abertura" em Órion não existe, ela não se abre para nenhuma região mais iluminada do Cosmos, como se fosse a porta do Céu. Órion é uma nebulosa como qualquer outra, cheia de gases, estrelas e poeira cósmica. Por outro lado, a título de consistência, insistir no "espaço aberto" em Órion implica defender não só que Júpiter só tem 4 luas, mas que a Terra tem quatro cantos e que as estrelas cairão do céu.

Vale a pena também relembrar um outro princípio de interpretação do Espírito de Profecia articulado por Ellen White que trata de levar em conta o "tempo e lugar" dos textos, veja: “Quanto aos testemunhos ... o tempo e o lugar, porém, têm que ser considerados."[25] Sem dúvida o "tempo e lugar" da visão de 1848 justificaram o uso de Órion, algo que foi substituído posteriormente pela expressão genérica "espaço claro" que em nada diminui o sentido da visão já que ele não é o centro da visão, a descrição do retorno de Jesus é.

Finalmente, o uso de fontes e a influência de outros autores nos escritos de Ellen White em questões não essenciais são exemplificados no processo pelo qual passou a primeira edição do Grande Conflito (1888). Na sua segunda edição em 1911, o livro passou por uma revisão para corrigir algumas discrepâncias históricas. Esse processo foi liderado e impulsionado pela própria Ellen White: "Quando me chegou a atenção que o livro o Grande Conflito deveria ser reimpresso, decidi que teríamos que examinar tudo minuciosamente a fim de estabelecer se as verdades ali contidas foram expressas na melhor maneira possível e para convencer aqueles que não são da nossa fé que o Senhor me guiou e susteve ao escrever essas páginas."[26] (O referido artigo do White Estate explica as revisões.)
Fica evidente então o fato já delineado anteriormente que Ellen White não recebeu inspiração verbal. Ela teve visões em estilo de imagens estáticas rápidas[27] e precisou interpretá-las e descrevê-las em sua própria linguagem como as havia entendido naquele momento. Em muitos casos ela também se valeu da linguagem de outros autores da época para expressar os pontos essenciais das visões. Com o passar dos anos, o Espírito Santo a fez entender essa visão (bem como outras visões) de maneira diferente, através de repetidas representações, o que posteriormente ela descreveu no livro Spiritual Gifts em 1858 e no Grande Conflito em 1888 sem citar Órion.

Conclusão
Ellen White interpretou o "espaço aberto" no céu como Órion somente em 1848 porque isso era o melhor que ela (através dos estudos de José Bates) conhecia sobre a relação entre astronomia e a Bíblia. Ao descrever a mesma cena no livro Spiritual Gifts, vol. 1, p. 205 (1858), Ellen White descarta Órion da interpretação e repete termos que usou em 1847 para descrever a vinda de Cristo por um "espaço claro de glória indescritível." A mesma terminologia é usada na primeira edição do Grande Conflito em 1888. Para todos os efeitos, Órion deixou de ter qualquer relevância para os eventos finais na interpretação de Ellen White já em 1858. 
O presente estudo evidencia a necessidade de entendermos a dinâmica da revelação nos escritos de Ellen White e aplicarmos princípios corretos de interpretação do Espírito de Profecia a fim de evitar interpretações extremas que levem ao sensacionalismo. Muitas especulações têm surgido através dos anos sobre o que estaria acontecendo em Órion, desde sons de trombetas, luzes inexplicáveis, sons de cavalos marchando ou até que as Três Marias estão se afastando para dar lugar à vinda de Cristo. Nada disso tem base em fatos concretos.[28] Infelizmente, essa passagem tem sido um prato cheio para alguns em nosso meio que tendem ao sensacionalismo. Sem dúvida o anseio pela vinda de Jesus é louvável. Porém, lembremo-nos que Jesus virá Segunda Vez porque Ele prometeu. Nossa fé não deve depender de cataclismos, de abalos, de nebulosas, de problemas do meio ambiente ou crises políticas e religiosas mas sim da crença firme na promessa de Jesus: "Virei outra vez". No dizer de Pedro: "Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em q¬ue habita a justiça." (2 Ped. 3:13).

André Reis

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[1] John Loughborough, The Rise and Progress of Seventh-day Adventists, p. 125-127.
[2] Ella Robinson, Histórias da Minha Avó, pp. 40-42.
[3] Tiago White comentando a visão baseia-se em Bates para dizer que ela viu "Júpiter, Saturno e um outro planeta." A Word to the Little Flock, p. 22.
[4] Veja Vida e Ensinos, p. 88.
[5] John Loughborough, The Rise and Progress of Seventh-day Adventists, p. 125-127.
[6] Veja Francis Nichols, Ellen White and her Cristics, pp. 91-101.

[7] O título todo é longo e diz: "Os Céus Que Se Abrem, ou uma Opinião Relacionada do Testemunhos dos Profetas e Apóstolos a Respeito dos Céus Abertos, Comparada a Observações Astronômicas em Relação à Presente e Futura Localização da Nova Jerusalém, o Paraíso de Deus."
[8] Agnes Clarke, A Popular History of Astronomy During the 19th Century, p. 22.
[9] Joseph Bates, The Opening Heavens, p. 8, 27; disponível em http://sdapillars.org/joseph_bates_p.php.
[10] Idem, p. 28.
[11] Joseph Bates, The Autobiography of Elder Joseph Bates, p. 154
[12] Ano-luz: distância percorrida pela luz durante 1 ano na velocidade de 300.000 kilômetros/segundo = 9,460,800,000,000 de kilômetros.
[13] Thomas Dick, LL. D., New York, Harper & Brothers, 82 Cliff-Street, 1844, pages 204-209.

[14] Duas perguntas adicionais exemplificam os problemas lógicos com a idéia de Órion ser a porta do Céu: (1) Se há necessidade de um ponto físico de acesso entre o a Terra e o Céu através do Cosmos (que, consequentemente estaria limitado por distâncias), não faria mais sentido então que esse ponto estivesse a uma distância mais "acessível" da Terra e não em uma constelação remota, a 1.500 anos luz de distância? (2) Por outro lado, se o Céu depende mesmo do Cosmos em termos de ponto de acesso ou localização, não faria mais sentido que esse corredor de acesso estivesse num ponto que sinalize o fim do universo conhecido e o início do Céu, já que haveria a necessidade de um ponto de "separação" entre os dois? Nesse caso, Órion não qualificaria como ponto extremo do universo, já que o telescópio Hubble foi capaz de captar a luz de galáxias a 13 bilhões de anos-luz de distância. Astrônomos têm proposto a idéia de túneis (wormholes) ou dobras na estrutura do universo que funcionam como uma espécie de atalhos entre um ponto e outro do universo.
[15] John Loughborough, The Rise and Progress of Seventh-day Adventists, p. 125-127.

[16] Veja Bates, "Opening Heavens", 11. Day Star citado por Bates sem referência.
[17] Veja Primeiros Escritos, p. 34.
[18] Kheon Yigu "Issues of the "Open Space in Orion" Presented in SDA Literature (1846-
1994)" Sahmyook University publicado online em
http://www.scribd.com/full/38023491?access_key=key-1cyqu447mw2m7pn6swpz
[19] Martin Carey, "The Opening Orion", publicado online em
http://lifeassuranceministries.org/proclamation/2009/3/openingorion.html

[20] Merton Sprengel e Dowell Martz, "Orion Revisited", Review and Herald, 25/3/1976, pp. 4-7; "How Open is Orion's Open Space?", Review and Herald, 01/04/1976, pp. 9-11; "Does the Open Space Exist Today?,"Review and Herald 08/04/1976, pp. 6-8.
[21] Ellen White’s Growth in Understanding Her Own Visions; disponível no site www.ellenwhite.com, Appendix G.
[22] Alden Thompson, Inspiration, p. 297.
[23] A palavra hebraica para canto significa literalmente "extremidade". A interpretação de "pontos cardeais" portanto, não prospera. A Terra, sendo redonda, nunca terá um ponto "extremo".
[24] Veja Herbert Douglass, Mensageira do Senhor, p. 113.
[25] Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 57.

[26] White Estate, "The 1911 Edition of "The Great Controversy"An Explanation of the Involvements of the 1911 Revision", p. 8, disponível em www.EllenWhite.com. Segundo o seu filho Willie White, ela considerava o Grande Conflito como uma "expansão dos temas publicados no livro Spiritual Gifts, vol. 1 (1858) e Primeiros Escritos. Ellen White, "W. W. PRESCOTT AND THE 1911 EDITION OF The Great Controversy", p. 1, disponível em www.EllenWhite.com.
[27] Mensagens Escolhidas, vol. 3, 447. Aqui a tradução em português deixou a desejar já que "flash-light pictures" em inglês (fotos rápidas com flash) foi traduzido como "rápidas visões". O sentido de "fotos" estáticas certamente se perdeu.

[28] Veja Yuri Mendes, Os Mistérios de Órion publicado pela Casa Publicadora Brasileira, 2008.

04/11/10

A VENDA DE LIVROS E CDs NA IGREJA: SIM OU NÃO?

Mateus 21:12 e 13 – Tendo Jesus entrado no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam; também derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores
A aplicação do texto:Vamos ver as lições que a história pode ensinar. Por elas, aprendemos que Jesus condenou o “comércio”, ou a “adoração”, isto é, a “atividade”, que tenha as seguintes características (pense num tipo de atividade que acontecesse assim):
1) Dentro da igreja
2) Como atividade principal (e não secundária, necessária, ou de apoio), o negócio financeiro.
3) Que fixasse standes dentro da igreja, com uma marca comercial.
4) Com vendedores de CDs, ou livros, que não tivessem o cunho de ministérios da pregação ou da música, mas da compra e venda. Isto é, que não fossem cantores, ou autores, mas sim homens cujo ramo principal de sustento fosse serem comerciantes.
5) Tão intensa a ponto de perturbar o culto, dando a ideia a quem passasse ou participasse do culto, que estava não na igreja mas na feira.
6) A igreja parecer mais um estabelecimento comercial fixo e único dos vendedores. Um ponto de referência pra quem quisesse fazer uma compra.
7) Com as pessoas a entregar a mercadoria e a receber o dinheiro; o lucro como alvo.
Comparação:
1) Os livros e CDs estão a ser vendidos dentro do lugar de culto?
2) Os que estão ali para apresentar os livros e CDs foram somente para isto?
3) Os que estão a transacionar, não são missionários, nem cantores, nem crentes, nem adoradores, mas sim, vendedores, que estão ali só para defender os seus interesses económicos através da venda, porque a sua profissão é de natureza comercial?
4) A atividade do culto tem sido substituída pela atividade de mercado? As vendas têm acontecido nas horas de adoração, suprimindo-as ou perturbando-as?
5) A igreja está a transformar-se num estabelecimento comercial fixo dos vendedores? Ou um shopping-point referência para os consumidores?
6) As pessoas que estão a facilitar ou a participar na aquisição das obras estão com o sentido do lucro?
Se a resposta for “sim” para todas as perguntas acima, então a resposta é que a igreja se transformou numa "casa de vendilhões".  Estamos a tentar responder ao texto bíblico.
Conclusão:
Faço votos para que a venda de livros e CDs aos membros da sua/nossa igreja sejam um instrumento de benção, que facilite o acesso à pregação/testemunho escrita ou gravada.