09/09/10

“ESTARÁS COMIGO NO PARAÍSO”

Nos manuscritos originais, como no texto de Lucas 23:43: “Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.”, não havia pontuação como hoje. Nem tinha o “que”, partícula que complica o entendimento do texto. Os textos eram escritos sem pontuação e geralmente com as palavras todas ligadas, assim (já transliterado): “kaieipenautôamensoilegosemeronmetemoueseentôparadeisô.” Em português: “Edisseaaeleemverdadeatidigohojeestaráscomigonoparaíso”. Separando-se as palavras: “E disse a ele em verdade a ti digo hoje estarás comigo no paraíso”.
O entendimento do texto depende do lugar em que colocarmos a pontuação, especialmente m relação ao advérbio de tempo “hoje”. Vejamos as duas possibilidades de pontuação:
1. “E disse a ele: Em verdade a ti digo, hoje estarás comigo no paraíso.” Por essa maneira de pontuar, colocando-se a vírgula antes de “hoje”, o texto quer dizer que foi prometido ao ladrão arrependido que naquela mesma Sexta-feira ele estaria com Jesus no paraíso. Essa tradução, porém, vai contra os ensinos da própria Bíblia quanto ao momento da recompensa, que, para os justos, será na ocasião da segunda vinda de Cristo (Mt. 25:31-34; 1ª Tes. 4:16) e, para os ímpios, após o Milénio (Ap. 20:5,7-9), e não quando se morre.
2. “E disse a ele: Em verdade a ti digo hoje, estarás comigo no paraíso.” Essa maneira de traduzir, combinando o advérbio de tempo “hoje” com o verbo “digo”, está de acordo com outras expressões bíblicas similares como, por exemplo, “Eu te ordeno hoje (ver Êx. 34:11; Dt. 4:40, etc.). além dessa concordância gramatical, essa maneira de traduzir o texto está de acordo com o ensino bíblico de que a recompensa para os justos será dada na segunda vinda de Cristo, e para os ímpios, após o Milénio, e não por ocasião da morte (como visto no parágrafo anterior). Traduzindo assim o texto, a promessa ao ladrão arrependido teria sido de que ele estaria no paraíso quando Jesus “viesse no Seu reino” (Lucas 23:42) e não ao morrer naquela Sexta-feira da crucificação.
A opção, na primeira maneira de traduzir o texto, apresenta um problema: teria Jesus mentido ao ladrão arrependido, visto que Ele não foi ao paraíso naquela Sexta-feira? No Domingo pela manhã, Jesus disse a Maria Madalena: “Não Me detenhas, porque ainda não subi para Meu Pai” (João 20:17). Ora, se Jesus, no domingo de madrugada, não tinha ainda ido ap paraíso, como teria estado nesse lugar, na Sexta-feira, com o ladrão arrependido? O Novo Testamento é claro em dizer que Jesus é Deus, e “é impossível que Deus minta” (Heb. 6:18).
A opção, no segundo modo de se traduzir o texto, está de acordo com outras expressões bíblicas, nas quais aparece o advérbio de tempo “hoje” com verbos similares a “digo”, como “ordeno”, “falo”; está de acordo com o ensino bíblico de que a recompensa não é dada quando se morre, mas por ocasião da segunda vinda de Cristo (para os justos) e após o Milénio (para os ímpios); além de estar de acordo com o próprio pedido do ladrão: “Lembra-Te de mim quando entrares no Teu reino” (Lc. 23:42).
Com a promessa feita ao ladrão, Jesus estava a dizer-lhe: “Estou a dizer-te hoje, agora: Morre tranquilo! Descansa confiando no que te estou a dizer hoje: Vais estar comigo no paraíso.”
Essa mesma promessa pertence a todo aquele que enfrenta o “vale da sombra da morte”. Um dia Jesus virá e ressuscitará todo aquele que fez d´Ele o seu Salvador e morreu confiando n´Ele, que é a “ressurreição e a vida” (João 22:25). Não é uma doce e confortadora promessa?

Ozeas C. Moura
Doutorado em Teologia Bíblica